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Victor Bondarenko deseja voltar a treinar em Moçambique

Victor Bondarenko foi selecionador nacional da equipa de futebol, os Mambas, nas campanhas de qualificação aos campeonatos africanos das nações de 1996, na África do Sul, e 1998, no Burquina Faso. Treinou a formação do Matchedje e levou esta equipa às competições africanas. Foi técnico do Costa do Sol e orientou equipas angolanas, egípcias, russas e sul-africanas.

Tem um vasto palmarés como técnico de futebol. Descobriu alguns dos melhores talentos do futebol moçambicano e ajudou-os a progredir a nível continental e não só. No dia 11 de Novembro, esteve em Moçambique para orientar a selecção das antigas estrelas, os Mambas Legends, diante do Barcelona Legends, onde os moçambicanos perderam por 1-0. Acompanhe de seguida a entrevista, que o ucraniano concedeu ao jornal “O país”.

Qual é o seu sentimento neste seu regresso a Moçambique?
Primeiro, dizer que tinha muitas saudades. Segundo ponto dizer que me senti muito orgulhoso quando recebi o convite para treinar minha “família”, meu grupo dos Mambas. Foi fantástico e muito emocionante.

Teve contactos com jogadores como Mano-Mano, Tico-Tico, entre outros. Como foi reencontrar esta rapaziada?
Foi muito bom e o momento foi fantástico. Os jogadores daquele tempo eram grandes artistas, faziam espectáculo dentro do campo, por isso gosto muito deles.

Actualmente, o mister está a residir na África do Sul. Treina alguma colectividade neste momento?
Treinei quatro equipas e consegui bons resultados. Por exemplo no Orlando Pirtes ganhei cinco troféus africanos. Tive boa carreira na África do Sul. Em Angola também treinei duas equipas.

“Quero voltar a treinar uma equipa moçambicana”
Mas neste momento o mister não está a treinar nenhuma equipa?
Não, agora quero voltar a Moçambique.

Quer dizer que este é o grande sentimento do mister?
Sim, quero de novo voltar a colocar uma equipa de Moçambique a competir ao nível de África.

Tem algum convite de uma colectividade moçambicana?
Ainda não tenho, mas vou esperar porque eu gosto de Moçambique.

Mister Bondarenko tem acompanhado o futebol moçambicano?
Acompanho sempre e leio sobre novidades de Moçambique e resultados das equipas. Portanto, fico triste, porque os resultados tem sido baixos. Considero Moçambique um país de futebol, daí que a nossa tarefa é puxar pelo futebol moçambicano. Não se explica que os sub-20 da Zâmbia, da África do Sul sejam melhores que de Moçambique. Os moçambicanos vivem o futebol e têm cultura de futebol.

Na sua opinião como se explica este desnível?
Tivemos um encontro com o Primeiro-Ministro e ele explicou-me que agora as infra-estruturas não são as mesmas, se compararmos com as do tempo em que treinei as equipas moçambicanas. Na altura, as crianças e adultos só jogavam futebol. Agora, há computadores que substituem a modalidade.

O que se pode fazer para trazer as crianças para os campos de futebol?
Primeiro, é preciso ter treinadores e pessoas do desporto com muito entusiasmo para explicar e mostrar a importância das aulas de futebol. Por exemplo, a ideia de jogar com o Barcelona Legends foi muito boa.

Na sua opinião, qual é o ganho que Moçambique pode tirar da vinda do Barcelona?
Foi um bom encontro para adeptos e jogadores. Também há que considerar a amizade, porque assim o desporto é quem sai a ganhar. Portanto, jogar contra Barcelona não é fácil, porque Barcelona é Barcelona. É uma equipa com um estilo moderno, com jogadores antigos, mas que estão sempre a treinar.

Um jogo que marca o reencontro de Bondarenko com os adeptos moçambicanos?
É verdade, porque estava há três anos sem vir a Moçambique.

Durante o tempo em que esteve como seleccionador nacional, nas campanhas de qualificação para o CAN, o mister levou Moçambique duas vezes ao CAN. Quando olha para a actual situação de Moçambique, quais são as semelhanças e diferenças que encontra?
Os jogadores do meu tempo eram fantásticos, rápidos, atléticos. Na verdade foi uma boa geração. Fico contente, porque recebi um material rico e que precisava era apenas organizar questões táctica e introduzir disciplina. Na geração de hoje, já não há estrelas como naquele tempo e isso reflecte-se na falta de resultados.
Bondarenko chamou pela primeira vez Dominguez aos Mambas

Mister Bondarenko foi a pessoa que arriscou em colocar Dominguez a jogar pela primeira vez na selecção principal, com apenas 17 anos?   
Chamei pela primeira vez Dominguez para a selecção, ainda muito jovem. Falei recentemente com ele na África do Sul, assisti jogos dele e ele me disse assim: “Bonda foste o primeiro a chamar-me para a selecção”.

Quando esteve a orientar o Matchedje conseguiu levar a equipa até aos quartos-de-final da Liga dos Campeões Africanos. Este ano, o Ferroviário da Beira fez uma excelente campanha na prova. São dois períodos diferentes, mas guarda memórias que viveu no Matchedje com jogadores como Nico, Zacarias, Maló, Faruk, entre outros. Quer partilhar um pouco estas memórias?
Jogamos contra muitas equipas fortes, com Al-Ahly do Egipto, um dos campeões de África. Fizemos uma boa preparação, mostramos um bom futebol. Marcamos nos primeiros minutos, lembro que o estádio estava cheio e quando ganhámos em Maputo por 1-0, a direcção do Al-Ahly disse que o Macthedje era uma grande e boa equipa, porque não esperavam este resultado.

E o Matchedje nunca mais voltou a ser o mesmo. Hoje está jogar na segunda divisão…
Fico muito triste, cheguei e soube que a equipa está na segunda divisão. É uma equipa com tradição, cultura, porquê esta situação?

Na época em que orientou o Matchedje e o Costa do Sol a aposta nas camadas de formação era algo muito sério. Hoje sente algum défice, alguma falta de apoio nas camadas de formação?
É verdade, porque hoje muitas pessoas de “business” vão para o futebol. No futebol é preciso gastar muito e há pessoas que querem ganhar no futebol. A formação é muito importante, porque sem formação não há futuro no futebol. Portanto, as pessoas de “business” devem ajudar, dando dinheiro para o futebol ou construírem campos com bancadas. Mas, temos que colocar pessoas correctas para impulsionarem o desporto em Moçambique, para que esteja ao nível de outros países da região.

Acha que Moçambique tem condições?
É preciso criar condições para termos este tipo de pessoas.

Qual foi a sensação que teve ao reencontrar os seus jogadores?
Foi um sentimento fantástico, gosto deles como se fossem meus filhos. Eles me ajudaram a fazer carreira como treinador de futebol e por que o meu primeiro espaço de trabalho foi em Moçambique, com os Mambas. Fazem parte do meu coração. Eles são fantásticos como equipa, como jogadores e como pessoas.

O “scouting” não é propriamente um trabalho que voçê faz. De qualquer das formas como uma figura de referência desportiva em África, de que maneira tem ajudado aos que fazem “scouting” a olhar o talento moçambicano e levar para fora do país?
Eu tenho dois filhos que fazem “scouting” de futebol e quando têm dúvidas eles me perguntam sobre o que eu acho sobre um determinado jogador. Assisto campeonatos africanos de sub-17, sub-20, mas não vejo as estrelas de Moçambique e me pergunto porquê(?), se antes era ao contrário?

 

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