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Crianças moçambicanas gravemente vulneráveis aos efeitos da crise climática

Foto: O País

Pela primeira vez, o Fundo das Nações Unidas para infância (UNICEF) faz uma classificação dos países em função do grau de exposição das crianças e sua vulnerabilidade aos choques climáticos e meios-ambientais. Os resultados revelam que as crianças moçambicanas estão no 10º lugar das mais vulneráveis do mundo.

Os jovens que vivem em Moçambique estão entre os mais vulneráveis aos impactos das alterações climáticas, um fenómeno que põe em perigo a sua saúde, sua educação e sua protecção e os expõe a doenças mortais, de acordo com um relatório publicado hoje pelo UNICEF.

Lançado em colaboração com a Organização Fridays for Future quando se comemora o terceiro aniversário do movimento mundial de luta pelo clima, liderado pelos jovens, o relatório revela que aproximadamente 1.000 milhões de crianças (quase metade dos 2.200 mil milhões de crianças do mundo) vivem num dos 33 países classificados como sendo de nível de risco considerado “extremamente alto”. As conclusões reflectem o número de crianças afectadas hoje em dia; e revelam os números que podem piorar à medida que os impactos das alterações climáticas se acelerem.

Moçambique está entre os países mais vulneráveis aos impactos das alterações climáticas, com uma classificação de 7.9. O relatório concluiu que as crianças moçambicanas estão altamente expostas às inundações costeiras e doenças transmitidas por vectores como a malária, mas também que os investimentos em serviços sociais, particularmente água, saneamento e higiene e pobreza, meios de comunicação e protecção social podem fazer uma diferença significativa na capacidade de salvaguardar o seu futuro dos impactos das alterações climáticas.

O Índice de Risco Climático para Crianças (CCRI, sigla em Inglês – Children’s Climate Risk Index) revela que 240 milhões de crianças estão altamente expostas às inundações costeiras; 330 milhões às cheias ribeirinhas; 400 milhões a ciclones; 600 milhões doenças transmitidas por vectores; 815 milhões à poluição por chumbo; 820 milhões a ondas de calor; 920 milhões à escassez de água; e 1.000 milhões de crianças altamente expostas a níveis de poluição atmosférica excessivamente elevados.

Estima-se que 850 milhões de crianças (1 em cada 3 a nível mundial) vivem em áreas onde pelo menos quatro destes choques climáticos e meios-ambientais se sobrepõem. Além disso, cerca de 330 milhões de crianças (1 em cada 7 em todo o mundo) vivem em áreas afectadas por pelo menos cinco dos grandes choques considerados.

O relatório também revela uma desconexão entre os países onde as emissões de gases com efeito de estufa são geradas, e aqueles onde as crianças sofrem os impactos mais significativos provocados pelas mudanças climáticas. Os 33 países de risco extremamente alto emitem colectivamente apenas 9 por cento das emissões globais de CO2. Inversamente, os 10 países com maiores emissões são colectivamente responsáveis por quase 70% das emissões globais. Apenas um destes países está classificado como “de risco extremamente alto” no índice.

Sem a acção urgente necessária para reduzir as emissões de gases com efeito de estufa, as crianças continuarão a ser as que mais sofrerão. Em comparação com os adultos, as crianças necessitam de mais alimentos e água por unidade do seu peso corporal, são menos capazes de sobreviver a eventos climáticos extremos, e são mais susceptíveis a produtos químicos tóxicos, mudanças de temperatura e doenças, entre outros factores.

O UNICEF apela aos Governos, empresas e actores relevantes para que aumentem o investimento na adaptação ao clima e na resiliência em serviços essenciais para as crianças. Para proteger as crianças, comunidades e os mais vulneráveis dos piores impactos do clima já em mudança, os serviços críticos devem ser adaptados, incluindo água, sistemas de saneamento e higiene, serviços de saúde e educação.

Além disso, o UNICEF apela para a redução urgente das emissões de gases com efeito de estufa (os países devem reduzir as suas emissões em pelo menos 45%, em comparação com os níveis de 2010) até 2030 para manter o aquecimento a não mais de 1,5 graus Celsius); fornecimento às crianças de uma educação climática e competências ecológicas, críticas para a sua adaptação e preparação para os efeitos das alterações climáticas (as crianças e os jovens enfrentarão todas as consequências devastadoras da crise climática e da insegurança hídrica, mas são eles os menos responsáveis); a inclusão dos jovens em todas as negociações e decisões nacionais, regionais e internacionais sobre o clima, incluindo na Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (COP26) de Novembro.

“As crianças e os jovens devem ser incluídos em todas as tomadas de decisão relacionadas com o clima; garantir que a recuperação da pandemia da COVID-19 seja verde, de baixo carbono e inclusiva, para que a capacidade das gerações futuras para enfrentar e responder à crise climática não seja comprometida”, conclui o UNICEF.

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