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Ungulani entende que negação da diferença faz com que conflitos não cessem no país

Ungulani ba ka Khosa referiu-se ao grande problema imposto pela negação da diferença no encontro moderado pelo poeta Mbate Pedro, esta quinta-feira, na Cidade de Maputo.

 

A guerra é sempre um flagelo sobre um povo. A frase até pode parecer exacta, em termos sintáticos, porém, ao nível semântico, encerra uma carga incompreensível para quem nunca sofreu a pressão de obuses. Ungulani ba ka Khosa (1955), que nasceu em Sofala, viveu na Zambézia, no Niassa, enfim, em todas as regiões do país, sabe e compreende perfeitamente o que significa a frase “A guerra é sempre um flagelo sobre um povo”. Por isso mesmo, na sessão literária desta quinta-feira, realizada no Business Lounge by Nedbank, na Cidade de Maputo, ainda acrescentou, quando questionado como interpreta o terrorismo em Cabo Delgado. Para o escritor, o conflito armado, os ataques terroristas ou seja lá qual for o substantivo usado para dizer ‘guerra’, é o chamado grande feitiço que está entranhado entre os moçambicanos. “O grande mal que temos enfrentado desde a independência é a dificuldade de aceitar o outro. Esta negação da diferença faz com que os conflitos não cessem de crescer. E este conflito que vivemos hoje é um conflito extremamente grave”.

Reconhecendo a gravidade da violência imposta pelas armas, Ungulani permitiu a reedição de Os sobreviventes da noite, pela Cavalo do Mar, pois, actualmente, ainda se assiste à utilização de crianças numa guerra que o escritor considera fratricida, que se torna caótica e empobrece Moçambique.

Na sessão designada “Mbate à conversa com Ungulani ba ka Khosa”, enquanto assinava autógrafos, o escritor confessou estar entusiasmado pelo gesto do Nedbank. Afinal, o banco sempre adquiriu 50 exemplares do seu Os sobreviventes da noite para oferecer ao público presente na sessão. “Acho que esta iniciativa do Nedbank, de acolher escritores, é uma actividade complementar, uma iniciativa louvável, que se deve estender a outras instituições. Este gesto de disponibilizar o livro a outros leitores, por parte de outras instituições, devia ter essa obrigação moral”.

Essa introdução, na verdade, serviu de mote para o que o escritor diria de seguida. Melhor dizendo, Ungulani aproveitou a sessão para pensar o ensino nacional. Primeiro, disse que a Educação enfrenta grandes carências e dificuldades em Moçambique. “Das mais de 10 mil escolas, contam-se as que têm uma biblioteca em condições. Agora, nós queremos quadros e, ao querermos quadros de qualidade, e que possam enfrentar a realidade que se avizinha e esta que vivemos hoje, necessariamente, o livro é importante para que possamos crescer”.

Ungulani acredita que ao nível individual e colectivo os moçambicanos podem contribuir para minimizar as grandes dificuldades existentes no sector da Educação no país. A acção pode iniciar com o apetrechamento de uma e, depois, de algumas bibliotecas escolares. Isso é tão necessário porque pode favorecer o presente e o futuro do país.

Por fim, o escritor criticou o que se pode entender por indiferença na implementação da política do livro. “Temos uma política aprovada em 2011, mas ficou no papel, como várias outras políticas deste país, que ficam no papel. Quer dizer, a operacionalização dessa política ficou por terra. Não temos nada de concreto no sentido de a fazer avançar. Portanto, somos especialistas em aprovar políticas, mas a nossa ignorância é confrangedora no sentido da aplicação dessas políticas”.

Falando no final da sessão, o poeta e editor Mbate Pedro explicou que a ideia das sessões é aproximar os escritores aos leitores, rompendo com qualquer distância que possa ser, já agora, confrangedora.

 

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