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Um parvo…

Sou uma mulher independente, sim. Independente de tudo, mas infelizmente dependente de parvos como tu. Fumávamos o mesmo cigarro, aliás fumei os cigarros todos que acendias nos teus lábios, bebi os vinhos todos que desaguavam na tua língua. Fiz tudo por ti. Larguei o pateta que se dizia meu marido. Ele de marido não tinha nada, mas tinha muito de tudo que tu não tens. Iludiste-me com a conversa do divórcio, com as chamadas falsas a falsos padrinhos, com as confissões de amor que não sabiam direito da tua língua.

Tu não prestas. O que fizeste de mim foi destruir uma mulher que estava te construindo. Tenho pena de ti. Afinal, tu sabias que só querias fazer de mim um carrossel de desejos? Uma mulher-bombeira das suas loucuras e fantasmas sexuais? Tu só mereces uma coisa no mundo: um palácio no inferno. Inferno. Mas até o inferno pode recusar-te, porque tens tanto inferno dentro de ti. Um homem crescido, como tu, deixa, de jogar a bola vem jogar uma mulher. Isso é falta de organização mental para reconhecer as coisas e as pessoas. As pessoas, as mulheres não foram feitas para serem jogadas. Podem ser jogadas, como me fizeste, mas nunca se partem. Como podes saber disso se nunca soubeste quantas vezes eu fugi de casa para estar contigo.

Tens cartões de bancos, mas não tens banco dentro de ti para guardar um sentimento mínimo. Coitado! O teu coração é um objecto morto que não saberá nunca o que é amor. Não sei porque escrevo sobre ti, seu parvo. Sim, és parvo, sim. Talvez estejas acima disso na hierarquia da inferioridade. Um parvo só gasta tempo fazendo parvoíces e tu gastaste-o fazendo estupidez com a tua afinada insensatez.

Varro todos dias a casa para ter a certeza que já não tem um passo teu aqui. O teu cheiro tem o mesmo selo com o do esgoto. Molho, todos dias, a casa com incensos para matar o teu cheiro. Dá nojo a presença do teu cheiro aqui. Dá nojo saber que o meu corpo foi, um dia, teu. Sinto nojo de tudo. Nojo de mim por ter te ensinado a viver em vão, nojo de ti por te suportares mesmo não valendo nada. E sinto nojo do mundo por existires. O mundo é baixo demais para aceitar pessoas como tu. O mundo devia expulsar-te ou ele sair de ti.

Fique sabendo que tudo que um dia fizemos juntos desfiz sozinha. Agora percebo porque fui tão cega ao teu lado. Como não ser cega perante um objecto que nem quase existia? Sim, não existias. Passavas por mim e eu não te sentia, beijavas-me e eu não movia os lábios, acariciavas-me as mãos e eu nem dava-te a unha, tudo que fazias não sentia. Tu é que me fazias esforço para sentir. És baixo. És uma criatura que não sei com que cegueira vi.

Tenho certeza que agora estás a destruir mais uma mulher. Tenho certeza que já fizeste outra cair na tua isca. Com certeza estás enganando uma, como eu, com falsas declarações de amor, com envelopes selados de saliva estúpida e suja, com essa sua voz que nem sabe pronunciar bem os ditongos. Nunca soubeste nada. Até o meu nome nunca soubeste pronunciar, por isso sempre me chamaste de amor. A única coisa que sempre soubeste foi mentir, esconder o rosto debaixo da almofada para disfarçar o arrependimento em cada noite passada comigo.

Onde estiveres saiba de algo: nunca voltarás a ser homem suficiente para mentir para outras. No fundo mentes para ti mesmo, pois te achas homem! Oh, meu Deus, homem tu? Tu nem serves para ser a capa de um homem barato como o sapateiro da rua 5. Nem tens a mínima estética para ser um corcunda. Só tens jeito para uma coisa: para ser nada. E mesmo nesse nada tens dificuldades sérias. Queres mesmo saber: eu quero que todas as pedras das ruas levantem um castelo de dor sobre a tua cabeça.

 

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