O País – A verdade como notícia

‘Um livro duro, que não nos poupa’: o ‘Tornado’ de Teresa Noronha

Foto: Fernando Hua

 

O novo livro de Teresa Noronha foi apresentada ao público esta sexta-feira, no Camões – Centro Cultural Português, na Cidade de Maputo.

O Camões – Centro Cultural Português, em Maputo, abriu as portas a um Tornado feito de letras. O livro de Teresa Noronha, editado pela portuguesa Exclamação, em Março deste ano, depois de alguns adimentos, foi finalmente lançado numa cerimónia bem concorrida.

A função de apresentar a obra laureada na primeira edição do Prémio Literário Maria Velho da Costa, criado pela Sociedade Portuguesa de Autores, foi confiada a Álvaro Carmo Vaz. De acordo com o professor catedrático, Tornado retrata o que raramente é falado, não de quem morre mas de quem fica, o vazio que permanece após o acontecimento, o desaparecimento do ponto de apoio e o desequilíbrio do mundo. Para Carmo Vaz, igualmente, “Tornado é um livro duro, não nos poupa. E exige investimento por parte do leitor, a narrativa não segue uma cronologia linear, do mesmo modo que as nossas recordações, as memórias que lembramos ou imaginamos, também não o são”.

Ainda na apresentação do livro, esta sexta-feira, Álvaro Carmo Vaz referiu-se ao que é um exemplo para a literatura moçambicana. “Há um último aspecto que gostaria de referir neste belo livro de Teresa Noronha – o da escrita. Li e reli o livro e a escrita é perfeita”. Dito isto, o apresentador da obra acrescentou: “Não encontrei uma palavra que devesse ser outra, uma frase que ficaria melhor num outro sítio. Este livro, parece-me, não é fruto de um rasgo de inspiração, de uma escrita a jacto. Para se chegar a este apuro da escrita, imagino que frases, parágrafos, páginas inteiras, foram reescritas duas, três, dez vezes, com a autora a agonizar sobre a justeza de cada linha, sobre o encadeamento das frases, sobre a arrumação dos episódios”. E Carmo Vaz sentenciou: “É um grande exemplo para nós, em Moçambique, onde se publicam inúmeros livros, muitos deles com excelentes ideias, sem que se lhes seja dado o necessário tempo de maturação, do repensar, do reescrever, que uma obra séria exige.

Ao longo da sessão de apresentação do seu livro, Teresa Noronha contou que Tornado faz parte da sua história, que, obviamente, começa no país onde nasceu, muito antes de se mudar para Europa. Em condições normais, o livro devia ter sido lançado em Portugal, no entanto, questões de ordem logística impediram que o evento acontecesse. Ao invés de ficar triste, com efeito, a escritora que tem editado vários livros infanto-juvenis pela Escola Portuguesa de Moçambique, ficou satisfeita. “Este livro tinha de ser lançado, primeiro, em Moçambique. Este é um livro que faz parte da minha história em Moçambique, sobretudo. Portanto, estou muito contente de estar a ser lançado em casa, antes de ter sido lançado em outro lugar qualquer”.

Tornado é um livro constituído por 155 páginas, cuja história retrata temas como a infância, a nostalgia e o drama da morte. Ao longo do discurso, a narradora retrata certas ocorrências que caracterizaram o tempo colonial, o ano da transição para independência nacional ou relacionadas com os primeiros anos da independência de Moçambique.

Ao escrever o livro, Teresa Noronha investiu num relato intimista e intenso, tendo uma narradora a contar eventos como quem se lembra do que aconteceu e nunca devia ter acontecido: um suicídio.

 

Partilhe

RELACIONADAS

+ LIDAS

Siga nos