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Turismo em reanimação depois de dois anos atípicos

Depois de dois anos atípicos devido à pandemia da COVID-19, o sector do turismo está em franca recuperação. A retoma de voos domésticos e internacionais reanima o ramo de viagens, mas, na restauração e hotelaria, a afluência ainda é menor e os operadores querem incentivos do Governo. 

A COVID-19 criou caos no sector do turismo. Agências de viagens, restaurantes, hotéis, resorts, casinos, praias e outros locais de lazer não escaparam aos efeitos das medidas restritivas que vigoraram no âmbito da Situação de Calamidade Pública.

A hotelaria e a restauração foram os segmentos que mais sofreram quebra na facturação. De acordo com os dados do sector privado, houve redução em mais de 95% do volume de negócios no sector.

O prejuízo nos cofres das empresas devido ao que a CTA classifica de “situação muito grave e profunda” é estimado em quase 71 milhões de dólares americanos.

Os efeitos ainda são visíveis. Na Cidade de Maputo, por exemplo, o jornal “O País Económico” constatou que alguns restaurantes continuam com as portas fechadas. Aliás, só na capital do país, mais de seis mil trabalhadores entraram na estatística do desemprego na época de pico da pandemia.

É perante este cenário que os operadores reconhecem que o sector está em reanimação, porém lenta em alguns subsectores devido à gravidade do impacto da COVID-19 e actual conjuntura económica que desafia a capacidade de compra dos consumidores.

Na restauração, por exemplo, o nível de afluência dos clientes ainda não atingiu os níveis pré-pandemia, segundo a Associação de Restauração e Catering.

O presidente da agremiação, Aurélio Maússe aponta que a subida do preço dos combustíveis e a consequente subida do preço dos produtos alimentares teve um duplo impacto no funcionamento dos restaurantes que procuram reerguer-se da crise.

“Primeiro, porque os custos operacionais aumentaram. Depois porque as pessoas não vão aos restaurantes, não gastam dinheiro, porque a vida não está fácil. Se há seis meses eu comia mais barato, hoje como mais caro no restaurante, e se assim não vou ao restaurante, procuro outras alternativas que não trazem o encaixe financeiro para o sector de restauração”, disse Maússe.

 

“O TURISMO VAI LEVAR ALGUM TEMPO PARA SE RECUPERAR PLENAMENTE”

Entretanto, a classe entende que o sufoco poderia ter sido minimizado se o Governo tivesse tomado medidas como a redução de impostos e criação de incentivos fiscais.

“A factura de electricidade e água continua a ser a mesma. Nenhum hotel recebeu ajuda do Governo. Os impostos continuaram a ser os mesmos, a única ajuda que tivemos foi de Deus. Sobrevivemos graças ao que produzimos ao longo dos últimos anos”, desabafou Vasco Manhiça, gestor hoteleiro, na Cidade de Maputo, para quem o Governo deveria isentar as empresas de alguns custos em tempos de crise.

Manhiça foi mais longe, ao explicar que “politicamente falando, é comum achar que o Governo deve dar, mas essa altura não é de responsabilizar, é altura de olhar para frente. A única coisa que queremos são esses incentivos. Tivemos o cenário de um hotel com uma taxa de ocupação de menos de 1% e hotéis chegaram a ficar sem um quarto sequer ocupado. A ordem era para ficar em casa, ficando em casa não se faz turismo e os hotéis vivem do turismo”, frisou.

Contudo, o cenário continua desafiante. As taxas de ocupação dos hotéis ainda estão abaixo do desejado, frustrando o apetite dos operadores deste subsector. Pelo que, Manhiça acusa existir uma falsa percepção da realidade, visto que as actuais taxas de ocupação se situam abaixo de nove por cento.

Uma mudança que os hoteleiros vêem como um abanão. Neste contexto, julga-se que o turismo vai levar algum tempo para se recuperar plenamente.

“A retoma dos voos e a reabertura das fronteiras significam uma pequena mudança, mas o turismo ainda está a fazer a pista para levantar o voo”, disse Vasco Manhiça, para, de seguida, acrescentar que “o subsector refere não ser optimista quanto aos prazos para uma retoma satisfatória. De forma hipotética, só em finais de 2023 é que podemos voltar a atingir a cifra de 23% da taxa de ocupação.

 

AGÊNCIAS DE VIAGEM EM FRANCA RECUPERAÇÃO

É notável o aumento do fluxo de viagens tanto a nível doméstico, como a nível internacional, o que estimulou a melhoria na facturação das empresas deste ramo, principalmente no segmento do turismo de negócios.

Segundo o presidente do pelouro do Turismo, Hotelaria e Restauração, na Confederação das Associações Económicas de Moçambique (CTA), neste momento paira uma febre nas viagens.

Muhamad Abdullah explica que o turismo está em franca recuperação, porque “já chegamos a atingir o pico, que ultrapassa os números pré-pandemia e, neste momento, os indicadores para o sector são animadores”.

Pelo que, Abdullah entende que ainda é possível alcançar as metas previstas para este ano no que toca à recepção de turistas.

“Quanto mais restrições forem levantadas pelo mundo, por exemplo, a necessidade de ter que apresentar teste da COVID-19 para quem tem a vacina em dia, demonstra que há essa visão, por parte do sector público, no sentido de facilitar para que o mercado nacional acompanhe esta onda de recuperação internacional no sector do turismo.”

Mas nem tudo vai bem na abordagem do Governo sobre a facilitação ao sector do turismo. Abdullah também entende que o Executivo deve tomar medidas para estimular a entrada de turistas no país.

Fora a necessidade de resolução do conflito em Cabo Delgado, que não deixa de ser um entrave ao sector, a emissão de vistos de entrada deve melhorar, sobretudo, o visto electrónico.

“Ainda persiste alguma ambição naquilo que é a concessão. Muitas vezes, o turista fica à mercê da disposição do oficial de migração”, explicou.

O responsável não deixa de lado a questão das infra-estruturas, como componente fundamental para o sector do turismo: “A partir do momento em que conseguimos trazer o turista com facilidade para Moçambique, criamos uma apetência no sector privado e atracção de investimento estrangeiro”, disse, a finalizar.

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