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Tiroteio na “Colômbia”: Criminalista desconfia da versão da PRM 

Foto: O País

O criminalista Paulo Sousa duvida da posição da Polícia e diz existirem fortes indícios de ter havido troca de tiros entre os agentes e os alegados traficantes de drogas na zona da “Colômbia”. Já o advogado José Caldeira defende acções fortes do Estado para travar o tráfico de drogas naquela zona.

Ontem, a Polícia da República de Moçambique (PRM) veio a público desmentir a tese de que houve tiroteio na rusga efectuada, no último sábado, ao Bairro Militar, Cidade de Maputo. O criminalista Paulo Sousa desconfia e defende haver fortes indícios de troca de tiros e justifica.

“Há fortes indícios de ter havido tiroteio na Colômbia. No vídeo notamos que há disparos quase em simultâneo. Temos agentes da Polícia a efectuarem disparos directos, olhando para a altura do corpo humano. Há agentes que ficaram agachados, numa tentativa de imobilizar ou atingir um indivíduo. Pelo conhecimento que tenho, a Polícia só age daquela maneira quando há perigo iminente. Não vejo o porquê da Polícia efectuar disparos naquela posição sem que não houvesse pessoa armada do outro lado”, explicou

Sousa disse ainda que, mesmo sem experiência na área, as pessoas que fizeram as filmagens estiveram em posição privilegiada para notar a troca de tiros. “A questão que se coloca é. Qual seria o interesse da nossa Polícia em refutar isso”, questionou para depois responder. “Isso pode ser para não revelar a real perigosidade e a gravidade da situação. Uma equipa de balística pode aferir com maior precisão se houve ou não troca de tiros, mas se for tão verdade quanto parece nos vídeos, isso significa que estamos numa fase mais perigosa do tráfico de drogas naquela zona. Ou seja, os traficantes têm armas de fogo e podem se defender da acção da Polícia”, precisou.

Face a esse cenário, o advogado José Caldeira defende uma acção forte e urgente do Estado para travar o fenómeno naquela zona. “Esses fenómenos quando se deixam alastrar, quando não se tomam medidas atempadamente vão crescendo. O negócio de drogas é bastante lucrativo, envolve muito dinheiro, poder e muita influência. Tem que haver uma acção forte, decisiva e atempada, para evitar que cheguemos a situações que assistimos na américa latina, onde os traficantes afrontam exércitos”, disse para depois reiterar que Polícia tem ferramentas mais do que suficientes para intervir.

“Este é um tipo de crime, que mesmo em relação às buscas, as autoridades podem fazê-las no período nocturno, a lei já prevê isso. É, por isso, importante que se aplique a lei para que este tipo de situações não ocorram no centro da cidade capital”.

 

Para os especialistas houve má abordagem da Polícia naquela situação. “Não se faz uma rusga, a qualquer casa que seja com quatro ou cinco agentes da Polícia. Deveria haver uma brigada especializada para aquele tipo de situações. Da forma que agiram atentaram contra a vida das pessoas”, defendeu Paulo Sousa, uma visão que também foi sustentada pelo advogado José Caldeira.

“Pelo que vimos provavelmente quando chegou ao local não estava devidamente preparada para a situação. Sabendo da perigosidade da zona,  a Polícia deveria ter se preparado melhor”.

A movimentação de drogas no Bairro Militar é antiga e a Polícia já tentou travar o fenómeno, sem no entanto lograr sucessos. O certo é que a zona é habitada por antigos militares, está próxima à terceira esquadra da Polícia e de um quartel militar. O bairro encontra-se ainda próximo a residências protocolares de membros do Governo e de algumas embaixadas, o que para os especialistas não faz sentido que seja uma zona de alguma insegurança.

Se houve ou não troca de tiros fica a dúvida. O certo é que houve afronta ao poder do Estado e a questão que fica é: o que vem a seguir?

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