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Tico-Tico: O mais internacional continua na 1ª linha

Mambas sem Tico-Tico eram bem diferentes de Mambas com Tico-Tico. Por detrás do seu físico franzino, ar cansado e falas mansas, está um autêntico guerreiro, um “rato da área”. A ele se ficaram a dever muitos dos momentos mais brilhantes da carreira da nossa Selecção Nacional.

Com a sua sagacidade, bastas vezes ergueu multidões, tanto no Estádio da Machava como na África do Sul. Os registos dizem tudo: trata-se do jogador moçambicano mais internacional de sempre, com 80 jogos efectuados contra 50 do segundo classificado, Pinto Barros. Mantém o recorde de maior marcador pós-independência com 27 tentos.

Além disso, as incontáveis assistências aos colegas, que tanto ajudaram a dar carisma aos Mambas. Estamos portanto diante de uma verdadeira “joia da coroa”, que inspira jovens e crianças por ter sido um dos mais exímios praticantes do desporto-rei.

Um falso lento

Aparecia e desaparecia do jogo, como se dispusesse de “alçapão” para se esconder e reaparecer depois. E quando a bola lhe era endossada, jogava simples, evitando o contacto físico. Porém, isso não representou nunca um virar das costas à briga. As suas armas principais? Simulação e o sentido de oportunidade, jogando muito no erro do adversário.

Calculista, quando os defesas se “esqueciam” da sua presença, aparecia nos espaços vazios. O que poderia então acontecer, ninguém sabia!… Por ventura nem ele próprio, pois com grande frieza, alterava as decisões em fracções de segundo. Mesmo depois de ensaiado o remate, já com o pé em suspensão, a decisão poderia ser “revogada”, para que o adversário “seguisse viagem” para ele passar das intenções à sua prática habitual de marcar golos.

Herói numa “tarde louca”

O dia 27 de Julho de 1997 está registado nos anais do futebol moçambicano como um dos mais marcantes. Pela qualificação do país para o seu segundo CAN, mas sobretudo pela situação irrepetível de uma viagem no marcador nunca antes vivido no Estádio da Machava.

O Malawi vinha super-confiante, pois um empate bastar-lhe-ia. E quando, ainda na primeira parte, a turma dos países vizinho marcou um tento, o favoritismo foi reforçado. Foi delírio naquele país.

Para nós, moçambicanos, só a vitória nos qualificaria. Adelino, ponta de lança do Matchedje, marcou o tento de igualdade. A esperança renasceu, mas com o passar do tempo o desespero tomava conta dos moçambicanos…

De repente, o milagre aconteceu. Entrou-se no minuto 86 e Tico-Tico, de posse do esférico, tabelou com um colega, desmarcou e como que num golpe de magia, surgiu do nada entre os latagões malawianos para desferir o golpe de misericórdia. O país inteiro pôs-se a dançar. Os locutores gritavam até a rouquidão. Nos camarotes, abraços misturavam-se com choros.

A loucura foi total e prolongou-se pela escuridão da noite. A emoção atingiu o rubro numa memorável tarde futebolística no país, cujo herói tem um nome: Tico-Tico.

Escolinha de um Mamba que não se marimba

Arrumou as botas mas vive obcecado com a função de formador. Tico-Tico, campeão e ganhador, é patrono de uma escola em que a prioridade é formar estrelas mas também homens úteis à sociedade. Um Mamba que nunca se vai “marimbar” para o desporto que o tornou célebre.

A escolinha do Tico está virada para um extracto social pobre de Massaca, arredores de Boane. Há um acordo assinado com o Real Madrid e o ex-internacional, divide o seu tempo e disponibilidade entre esta paixão e a de fazer parte da equipa técnica de um grande clube do Moçambola.

 

 

 

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