O País – A verdade como notícia

Tamara Seda: “Sinto-me lisonjeada pelo reconhecimento da FIBA-África”

Foto: FIBA-África

Três presenças no “Afrobasket”, duas distinções como melhor ressaltadora de África. É muita fruta. Foi tudo mais rápido do que se imaginaria. Influente no jogo interior da selecção nacional de basquetebol sénior feminino e referência obrigatória nas tabelas no Kutxabank Araski da Espanha, Tamara Seda deixa, a cada ano, pistas da sua evolução e não escapa aos holofotes. É como se o passado e o futuro trocam cumplicidades. E, no rolo compressor de emoções que se revela o “Afrobasket”, a basquetebolista obriga a que se façam anotações, se analisem as suas estatísticas e lhe confiram um estatuto diferente num leque de atletas que evoluem em ligas europeias e até mesmo na extraordinária WNBA. É assim: as actuações de Tamara Seda não passaram despercebidas aos olhos da crítica de basquetebol africano que a coloca na lista de jogadoras com enorme potencial e futuro promissor. O brilharete não podia ficar retido para outros amanheceres.

“Este reconhecimento significa muito. Significa que o trabalho que tenho feito é de alguma forma visto ou serve de alguma influência para as gerações que estão por vir. Da minha parte, apenas continuar a trabalhar e que isto se mantenha. Sinto-me lisonjeada por fazer parte deste elenco”, regozija-se a valorosa jogadora que colectou 25 ressaltos nos cinco jogos disputados no “Afrobasket” 2021.

2021 não foi um ano carregado de sucesso na Liga Endesa, campeonato espanhol de basquetebol sénior feminino. Mas também não foi de todo mau. O Kutxabank Araski falhou o apuramento aos “play-offs” dos quartos-de-final, ao fechar a fase regular na 10ª posição com 30 pontos. Este foi o saldo: 11 vitórias, 19 derrotas e um cesto-average de 1924 pontos marcados e 2121 sofridos.

Os “targets” de Tamara Seda foram de 214 pontos (média de 7,6 por jogo), 172 ressaltos dos quais 116 defensivos e 56 ofensivos (média de 6, 1 /jogo) 15 roubos de bola e 63 “turnovers” em 28 jogos (685:07 minutos na quadra, uma média de 24:28/jogo).

Na sua quarta temporada no basquetebol profissional espanhol, Seda converteu 94/199 lançamentos de campo (47,2%), 25 em 33 na linha de lances livres (75,8% de aproveitamento) e 1 em 4 nos tiros exteriores que não são o seu forte (25%).

Joia do Kutxabanki Araski, em que aterrou em 2020, Seda acumulou 76 faltas pessoais (2,7 por jogo) e oito desarmes de lançamento (0, 3).

“Para uma quarta temporada ao nível profissional, faço um balanço positivo. Não conseguimos traçar vários objectivos que tínhamos como equipa, mas posso dizer que a prestação é satisfatória. Esperamos, agora, pela próxima temporada”, notou.

Foco. Determinação. Números equilibrados e consistentes não podiam, de forma alguma, evitar que fosse considerada melhor jogadora do Kutxabank Araski, logo na época de estreia neste clube. E agora? O que se segue? Continuará vinculada ao Kuxtabanki? Ou vai dar o salto para outras ligas? São questões que assaltaram a mente do repórter e colocou-as a Tamara Seda. E a resposta foi cautelosa. O futuro, certo, é incerto!

Já estive nos EUA, onde fiz a minha formação académica. Agora estou no basquetebol profissional. Então, para onde os meus caminhos me levam a seguir. Tenho as melhores aspirações e vou continuar a trabalhar para que o nível esteja sempre à altura”, prometeu a internacional basquetebolista que entrou para o basquetebol profissional pela porta do Club Deportivo Zamarat (Quesos El Pastor) corria a temporada 2018/2019.

 

MELHORAR ORGANIZAÇÃO INTERNA

Moçambique estabeleceu uma dinastia ao nível do basquetebol feminino em África. É, por isso, uma nação respeitável na modalidade da bola ao cesto. Produziu, produz e certamente continuará a produzir “ene” estrelas do basquetebol.

Conquistou, ao longo de 27 edições do “Afrobasket” feminino, três medalhas de prata (1986, 2003 e 2011) e igual número de bronze (1990, 1993 e 2005).

Desfilou, pela primeira vez na sua história, no Campeonato do Mundo de basquetebol de 2014, na Turquia. Mesmo com todo este trajecto impecável, a organização deixa muito a desejar. É só olhar para a desorganização, com requintes de tragicomédia, havida em 2021 quando se chegou mesmo a colocar em causa a participação de Moçambique no “Afrobasket” de Yaoundé, nos Camarões. E as competições internas não têm sido regulares.

“Isto já é um puxão de orelhas para as federações, Governo e outras entidades para continuarem a apoiar. De facto, existe talento, existe vontade e uma melhor organização faria melhor com que a nossa prestação ao nível internacional fosse sempre positiva, tendo em conta que Moçambique sempre fez parte do top 5. Já foi vice-campeão e, para trilharmos por este caminho e continuarmos a enaltecer o bom nome da pátria, é necessário termos muito apoio quer financeiro quer moral”, observou Tamara Seda. Mas nem tudo está mal, constata Seda: “O nível do basquetebol moçambicano sempre foi bom e positivo. Sempre tivemos uma das melhores selecções de África. Ao nível de clubes, também temos bons resultados. Estamos num bom caminho e espero que continuem a apoiar e enaltecer o nosso desporto para que haja uma boa participação ao nível internacional”, finalizou.

 

TAMARA SEDA INCENTIVA JOVENS TALENTOS EM NKOBE

De férias no país após uma temporada desgastante e menos conseguida em termos de equipa, Tamara Seda visitou, há dias, o núcleo de basquetebol do bairro Nkobe, na Província de Maputo. No local, a internacional basquetebolista moçambicana interagiu com o grupo de crianças que aprendem o ABC da modalidade da bola ao cesto, incentivando-as a praticar desporto, neste caso o basquetebol.

Tamara Seda falou da sua experiência e transmitiu uma mensagem de incentivo a perto de duas dezenas de crianças que podem alimentar um dia à alta competição e representar a selecção nacional. E, no final, recebeu uma recordação dos petizes que um dia sonham dar voos altos dentro e fora do país.

O núcleo de basquetebol de Nkobe tem como monitor Jacinto Cumbula, “coach” que tem trabalhado na perspectiva de lapidar novos talentos e massificar o basquetebol.

O projecto conta, ainda, com o apoio da internacional basquetebolista moçambicana Amélia Massingue (madrinha), campeã africana de clubes pelo Ferroviário de Maputo em 2018, em Maputo, e 2019, no Cairo, Egipto. Tudo vale a pena quando a alma não é pequena. Escreveu, e bem, o poeta.

Partilhe

RELACIONADAS

+ LIDAS

Siga nos