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“Sou uma cantora comprometida com o amor e com a vida”

No próximo dia 24, à noite, um dos grandes nomes da música africana vai pisar o palco do Moments of Jazz, no Campus Principal da Universidade Eduardo Mondlane, em Maputo. Chama-se Lira, e vem à capital do país para ecoar aos ouvidos do público nacional e de outras proveniências o que a caracteriza como artista que acredita na Humanidade. Nesta entrevista, a cantora sul-africana, detentora de vários prémios, promete aos moçambicanos uma performance enérgica no evento organizado pela BDQ Concertos – com músicas animadas –, assume a sua admiração por algumas cantoras da pátria amada e ainda reconstrói o percurso do seu sucesso.

A sua música é bem conhecida pelos moçambicanos, mas poucos sabem que, no início da sua carreira, teve que travar muitos “combates” para poder cantar. Por quê?
Venho de uma família de professores, contabilistas e engenheiros informáticos. Foi-lhes, portanto, um espanto ao descobrir que eu queria seguir a carreira musical. Eles receavam que eu não conseguisse uma vida estável com a música, mas a minha mãe deu-me apoio e o resto da família só o fez no início do meu sucesso.

Portanto, não contou com apoio de outros membros da família, no início?
Sim, eles estavam receosos que a música não fosse uma carreira estável. Mas quando notaram que estava determinada, eles abençoaram-me.

A Lira é a única a cantar na família?
Tal como maior parte das famílias africanas, a minha mãe, tias e tios cantam na igreja, mas nenhum deles se considera um cantor.

Começar é sempre um grande desafio. Como descreve o início da sua carreira e quais foram os principais obstáculos por si travados?
O início foi-me fácil, quase um milagre. Eu trabalhava como controladora de crédito e auditora interna, mas queria desistir do meu emprego e seguir a carreira de música pela qual estava apaixonada. Duas semanas depois de ter abandonado o emprego, consegui um contrato de gravação… eu vi-me literalmente no lugar certo e na altura certa. Abracei esta perfeita oportunidade. Era justamente no dia do meu aniversário e eu havia conseguido um contrato de gravação. Mas essa foi a parte mais fácil. Avançar com a carreira musical foi incrivelmente difícil. Assinei para uma pequena editora chamada 999 Music, cujo principal foco era Kwaito. Fui promovida, pois eles queriam bastante lançar um novo artista R&B, mas me senti engolida pela editora e não tive atenção focada no género de música da qual gostava. Até hoje, as pessoas estão convencidas que eu era uma artista Kwaito, mas nunca o fui. Comecei a entender que não podia criar um futuro dentro dessa editora ou mesmo crescer como um artista. Então, abandonei a editora e comecei a criar minhas próprias oportunidades, actuando em espectáculos e promovendo-me mais rápido quanto possível. Durante três anos, apostei no desenvolvimento das minhas qualidades artísticas e empresariais na indústria da música. Cresci bastante. Senti-me desafiada com poucos recursos, mas estava decidida a fazer as coisas funcionar. Isto me manteve em movimento. Conheci meu marido e após um ano de namoro entrei no estúdio e gravei o álbum “Feel Good”, que o meu amigo apresentou a Sony. Consegui contrato por meio deste álbum, o resto é história.

Quando decidiu avançar com a música, recebeu apoio de outros artistas?
Na indústria da música, todos estão à sua sorte. Mas tive apoio incrível dos DJ e chefes de estações de rádio – DJ Fresh, mais tarde, Khabzela de YFM fame e Lawrence Dube do Metro. Eles foram os primeiros DJ a expor minha carreira no ar.

Como se sentiu enquanto trabalhava no seu primeiro álbum?
Esperei dois anos para gravar e tive de lutar até pela oportunidade de entrar num estúdio. Por isso, estava entusiasmada na produção deste álbum. Escrevi cada canção e ajudei na produção das canções mesmo sem receber nenhum crédito por isso. Estava feliz por finalmente trabalhar o meu álbum.

Assume-se uma compositora por excelência?
Escrevi todas as canções dos meus sete álbuns, excepto duas canções (“Iris”, composta por RJ Benjamin, e “Something inside so strong”, de Labbi Siffre. A escrita é feita em qualquer lugar a qualquer momento. Estou feliz com o telemóvel, pois é nele que guardo minhas anotações.

O que lhe move no seu processo criativo?
Sou inspirada pela vida e pelo amor, a maneira como nós, seres humanos, navegamos pela vida e tudo vai cruzando o caminho. Aposto em mensagens positivas nas minhas músicas, pois acredito que o poder das palavras em forma de melodia e emoção cria um impacto ou influência nas nossas vidas. Faço disso uma causa para curar e construir, ao invés de destruir.  

Já ganhou vários prémios. Qual é, actualmente, o maior objetivo da sua carreira?
Estou determinada a conseguir uma carreira de sucesso internacional. Há vários anos que me dedico a isso. Dos meus sete álbuns, venci cinco prémios, em áreas de composição e produção. Ousei algo novo e tenho-me sentido bastante desafiada. Este é meu terceiro lançamento internacional e gostaria de vencer um prémio e mostrar o apreço pelo apoio de Sade e John Legend.

Vem a Maputo para actuar no Moments of Jazz. O que se pode esperar da sua performance?
Boa música, muita energia e boa actuação. Os fãs podem esperar por uma noite memorável.

Quais temas e tópicos você abordará?
Grandes vibrações, amor e belas memórias.

Vem com sua banda. Quem são os membros e que instrumentos cada um deles vai executar?
Victor Mngomezulu, no teclado; Siya Hlengethwa, no baixo, e Synth, Urban Nobela, na guitara, e Tino Dambaneunga, na bateria.

Já agora, conhece a música moçambicana?
Mingas é minha favorita. Aprecio Lizha James.

Está aberta a intercâmbios artísticos com artistas moçambicanos?
Seria uma honra trabalhar com artistas moçambicanos.
De que maneira a proximidade geográfica pode ajudar a indústria musical de Moçambique e a região sul da África a desenvolver-se.

Precisamos de mais artistas moçambicanos para África do Sul. Temos muitos festivais superlotados. A vantagem está em sermos vizinhos e não precisamos de pagar tanto pela viagem.

A terminar esta conversa, o que mais lhe vai à alma?
Estimo o amor e o apoio que Moçambique me tem dado ao longo de todos estes anos. Amo Moçambique e o seu povo.
 
PERFIL
Lira é uma cantora sul-africana. Nasceu a 14 de Março de 1979, em Joanesburgo. Começou a cantar ainda adolescente, e investe na fusão de soul, funk e afro/jazz. Como muitos autores do seu tempo, cresceu ouvindo Miriam Makeba, Stevie Wonder e Nina Simone. Estreia-se em disco com Feel Good, muito aclamado pelo público sul-africano, moçambicano, italiano e de outras realidades. Com o disco, Lira conseguiu várias nomeações e distinções no SAMA – Prémio Sul-Africano de Música. O prestígio musical tornou a cantora embaixadora da Audi, Shield, Samsung, MTN e BlackBerry e já apareceu nas capas de mais de 30 revistas em todo o mundo. No seu repertório musical, constam as obras Feel good, álbum platina, Return to love, no qual faz jus ao significado do seu nome, ou Born free. Seu nome de baptismo é Lerato Molapo.
 

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