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SOMAS indignada com ultraje à obra de Malangatana

A Sociedade Moçambicana de Autores (SOMAS) juntou a sua voz ao repúdio contra o que tratamento dado ao mural do artista plástico, Malangatana Valente Ngwenya, no recinto do Centro dos Estudos Africanos (CEA), na Universidade Eduardo Mondlane (UEM).

Depois da indignação que iniciou com um artigo de opinião da autoria do escritor Nelson Saúte, com amparo de outros segmentos da sociedade, a SOMAS divulgou, ontem, uma nota vincando a sua indignação.

“A SOMAS considera a colocação de furos e tubagem da casa de banho no mural do poeta e artista Malangatana uma violação ao direito do autor, para além de denotar falta de cultura, de civismo institucional e de respeito para com as artes, não apenas da parte do CEA, mas da própria UEM”, refere um comunicado de imprensa que tivemos acesso.

O guardião dos direitos autorais no país considera que há mesmo indícios criminais e defende, deste modo, que tem de haver uma intervenção do Ministério Público.

“Um desrespeito que urge repudiar e exigir responsabilidades, não apenas disciplinares, mas o respectivo procedimento criminal pelo Ministério Público”, vincaram no comunicado.

A SOMAS deplora ainda o facto de ser numa entidade como a UEM a acontecer o que classifica de “horripilante” gesto.

“É exactamente nesta Universidade, detentora de um inestimável património cultural, e que se espera ser a instituição que cultiva e mantém viva a memória de Malangatana, enquanto filho amado da nação moçambicana, que ocorre a mais gritante e horripilante violação a cultura e legado de Malangatana e do povo moçambicano” frisa.

O ministro da Cultura e Turismo, Silva Dunduru, visitou recentemente o mural e manifestou tambem desagrado pelo que viu, tendo considerado a acção como “um atentado grosseiro às artes”.

De acordo com informações que tivemos acesso, de fontes oficiais, “o restauro do mural vai acontecer num esforço conjunto entre o Ministério da Cultura e Turismo e a Universidade Eduardo Mondlane”.

Com efeito, o Ministério da Cultura e Turismo já mandou ao local um especialista para se inteirar dos níveis de intervenção a serem levados a cabo para solucionar os danos causados ao mural.

Segundo Afonso Malace, do Museu Nacional de Arte, curador e especialista na área de conservação e restauro, o mural deverá passar por um restauro total, pois “para além dos locais furados, verificam-se lacunas na camada cromática. Isso deverá, também, ser solucionado”.

Aquele especialista disse que, neste momento, se está num processo de levantamento das necessidades e destacou a complexidade do processo.
“Temos que procurar materiais semelhantes ou iguais àqueles usados na obra original.

A indignação de Nelson Saúte
“Perante esta ultrajante imagem, perante este vitupério, perante este insulto ao Mestre, sou incapaz de redigir estas palavras de forma desapaixonada. Isto revela algo de grave. Muito mais grave do que a irresponsabilidade de um incauto canalizador. Vivemos um tempo em que o sucesso material tem concitado o entusiasmo de quem ignora a cultura. Por outro lado, não se fala nem se ensina sobre os nossos artistas. Lá fora, os miúdos vão aos museus ver as obras que estudaram na escola. Aqui existe um real desprezo pela cultura. A cultura – ou melhor, o folclore – serve para abrir comícios. Para muitos, cultura é apenas quando se levanta poeira. Dançar e cantar. Não existem outras manifestações culturais” escreveu Saúte, num artigos publicados neste jornal.

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