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Sobre estradas: empreiteiros defendem que Estado deve organizar-se melhor

A Federação dos Empreiteiros de Moçambique defende que o Estado moçambicano deve deixar de apostar em soluções paliativas e planificar-se melhor para ter estradas de qualidade. O organismo critica também a gestão do Laboratório de Engenharia que desincentiva o trabalho dos engenheiros em Moçambique.

A reportagem produzida, recentemente, pela STV, sobre a situação actual da Estrada Nacional Número 1 (EN1) continua a gerar reacções. Para a Federação dos Empreiteiros de Moçambiqueo cenário reportado revela que o Estado deve organizar-se melhor.

“Isso significa que o nosso Estado não está a planificar devidamente as estradas. Não só a EN1, mas toda a rede. As entidades que viriam gerir essas infra-estruturas estão mais preocupadas em fazer manutenção de mais troços do que fazer intervenções de raiz. Temos cenários de estradas que estão há mais de 15 anos sem serem intervencionadas e, anualmente, o nosso Estado gasta muito dinheiro a tapar buracos e continuamos no mesmo ciclo vicioso”, lamentou Bento Machaila, tendo também dito que “normalmente, se pega por um troço extenso, investe-se pouco e o resultado que se tem é baixa qualidade. Não é possível ter grande qualidade com poucos recursos. É preciso que o Estado comece a rever o que quer do futuro do país. Se ciclicamente estamos a tirar o pouco que temos para investir em reparações, não estamos a fazer nada”, reiterou.

Para o representante do organismo, as autoridades centrais devem estabelecer melhor as suas prioridades para evitar desperdícios. “Temos que planificar e podemos determinar que, anualmente, no pouco que temos, reservamos uma parte e o restante trabalhamos com qualidade num troço (como, por exemplo, Maputo-Manhiça). Isto é, fazemos um trabalho de raiz e o restante troço esperamos para o ano seguinte para voltarmos a fazer o mesmo exercício. E, ao fim de certos anos, poderemos ter uma estrada de qualidade”, defendeu.

 

EMPREITEIROS CRITICAM FALTA DE CONTROLO DE ENTRADA DE MATERIAIS DUVIDOSOS

Noutro desenvolvimento, Machaila lamentou as fragilidades que o Estado apresenta para controlar os materiais que abundam no mercado nacional e que não têm qualidade. “Quem deve controlar o que entra no país, em termos de materiais, é o Estado, mas, infelizmente, não é o que está a acontecer. Há uma entrada desenfreada de materiais cuja origem é desconhecida. Trata-se de materiais que estão a ser vendidos no nosso mercado e nas nossas ferragens, que estão licenciados. Provavelmente haja problemas na inspecção. É preciso que o Estado intensifique acções de fiscalização, capacite as suas instituições para que elas façam bem o seu trabalho”, defendeu para depois defender uma maior acção do Laboratório de Engenharia.

“Esse laboratório não se faz sentir no país, só se faz sentir em Maputo. Outrossim, os preços que ele cobra não são competitivos e acaba por desincentivar os empreiteiros em levar os materiais para aquele laboratório, que até chega a fazer cobranças em dólares”, terminou.

Por seu turno, Celso Nicols, docente universitário e empreiteiro, que está a reabilitar a Avenida das Nações Unidas, na Cidade de Maputo, defendeu que a regra do preço mais baixo prejudica o Estado e propõe mudanças na legislação. “Nem sempre o procedimento do decreto do Ministério das Obras Públicas de preço mais baixo para as obras resolve o problema da durabilidade da obra e da sua qualidade, porque, quando concorremos, o preço mais baixo é o critério principal. Como empreiteiro, vou ao mercado para comprar o material que está dentro daquele orçamento. Acredito que esse decreto deve ser alterado, pois se deve olhar para outros critérios que também são importantes.”

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