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Ser mulher

Palavras sem algemas

Sim, sou mulher. Mas por que sou? Desen¬gana-se quem, precipitadamente, responder que o sou porque nasci do sexo feminino. Ser mulher é muito mais do que o sexo, os cabelos trançados, as unhas longas e cintilantes, os batons coloridos nos lábios, as saias e os vestidos, os saltos altos, as bolsas grandes, os brincos que baloiçam com o roçar dos ventos, ou qualquer outro adereço que pos¬sa ostentar.

Quando se aprecia o sexo à nascença, o bebé ganha à partida um destino: o de ser homem ou mulher. Do homem não me iria pronunciar, relegando para outra inspiração. Mas, porque está intrinsecamente ligado ao da mulher, vou fazê-lo.

Ser homem ou mulher é, à partida, uma expectativa social. Portanto, há um conjunto de comportamentos pré-fabricados pelos que têm o poder de definir valores numa sociedade, os quais, uma vez entranhados, se transformam em normas sociais.

Neste sentido, das mulhe¬res, em muitas sociedades, espera-se que sejam boas donas de casa (saber lavar, passar, cozinhar e cuidar do marido). Para isso, tem uma infância que a induz a essa responsabilidade. Brinca com bonecas para crescer a saber cuidar dos filhos, com panelinhas e fogões forjados para saber cozinhar. E tudo gira à volta desta implícita e imposta preparação, sem contar que, ainda criança ou na adolescência, passa da simulação para a acção verdadeira ao participar nos trabalhos de casa.

Do homem, espera-se que seja o provedor da família, garantindo a arrecadação da renda para suprir as necessidades. Colocam-nos a brincar com carrinhos para lhes incutir o espírito de luta pela vida no mundo fora… impingem-lhes a ideia de que homem não chora, de que deve exibir a sua força para parecer valente, etc… e, por vezes, constrói-se um monstro que se apaixona pela violência e pelo crime gratuitamente.

Sucede que as sociedades se transformaram com o evoluir dos tempos e, rapidamente, a mulher começou a desempenhar as tarefas tidas como próprias do homem, mas o contrário ainda é a excepção. E aqui reside a heroicidade da mulher na actualidade – ela consegue, virtuosamente, conciliar o que a sociedade reserva para ela e para o homem. E quando se foca numa só função, o sucesso é ainda maior.
Todos passam por uma socialização pré-definida pela sociedade, embora não faltem excepções. Mas para os que rejeitam as vontades so¬ciais e seguem puramente os instintos, sobra-lhes a sorte de serem percebidos e aceites ou enfrentarem a dura rejei¬ção social.

A todas as mulheres virtuosas, faço-lhes uma vénia.

 

 

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