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Seis mil desempregados em sete fábricas de caju fechadas em Nampula

Forto: O Pais

No balanço do sector de caju de 2015 a 2020, olhando para a castanha bruta produzida, exportada e processada no país, há uma diferença de 297 mil toneladas, que equivale a mais de 49 milhões de dólares de divisas perdidas devido ao contrabando.

Na campanha 2020/21, por exemplo, o país produziu 144.823 toneladas; foram exportadas 26.670 e 35.888 foram para a indústria nacional, o que mostra que há 82.265 toneladas que não estão no registo oficial, uma mostra do quão as redes de contrabando são fortes e arruínam a indústria.

A fábrica da Condor, localizada no posto administrativo de Anchilo, no distrito de Nampula, é um dos exemplos das fábricas que tiveram que fechar as portas este ano devido a vários problemas que enfermam o sector, sendo a falta de matéria-prima um deles. A unidade abriu em 2008 e recebia castanha bruta proveniente de vários distritos da província de Nampula, que é responsável pela produção de 50% da castanha bruta produzida no país.

A unidade empregava mais de 3 mil operários e a partir de Setembro de 2020 começou a mostrar sintomas graves de crise que levaram ao encerramento definitivo este ano.

A comunidade que vive nas redondezas da fábrica da Condor encontrava emprego naquela unidade fabril. Agora, sem renda, a agricultura de subsistência é o único refúgio para tantos desempregados. Laura Adriano é um deles que começou a laborar em 2011 até ao momento do encerramento. “Estava no sector de descasque [da película de amêndoa da castanha de cajú]. Ainda não tive indemnização”, disse.  

Lelo Estêvão, também da mesma comunidade, diz ter trabalhado durante 11 anos e também caiu no desemprego. “A vida é muito difícil. Aquela fábrica dava-nos muito emprego aqui”, lamentou.

A crise no sector de cajú existe há bastante tempo e nos últimos cinco anos tem atingido níveis alarmantes devido a circuitos de compra e exportação ilegal da castanha bruta, contrariando a legislação em vigor que preconiza a priorização do abastecimento das indústriais nacionais de processamento, quando se abre a época de comercialização no final de cada ano, e só o excedente é que pode ir à exportação.

“Quando a indústria de caju entrou para o Programa de Desenvolvimento Nacional e da província, há 15 anos, crescemos de nada para 100 mil toneladas e estava no nosso compromisso e as exigências da nossa governação que em 2020 pudéssemos processar 100 mil toneladas. Por razões de força maior retrocedemos, onde processamos nesse ano não mais que 25 a 30 mil toneladas”, disse Yunus Gafur, presidente da Associação dos Industriais de Caju, que fala de seis mil desempregados em consequência da falência de sete fábricas, só na província de Nampula.

O Governo lançou recentemente o debate para a revisão da legislação que regula o sector de caju e espera-se que os problemas que se registam neste momento inspirem a aprovação de uma lei que proteja ainda mais a indústria nacional de processamento da castanha de caju.

Cálculos feitos mostram que em 5 anos, o país perdeu mais de 49 milhões de dólares de divisas com o contrabando, fazendo à razão de 200 dólares a comercialização da tonelada de castanha bruta.

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