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Rio Guiua continua a secar e agrava falta de água em Inhambane

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O Rio Guiua continua a secar e deixa famílias sem água canalizada na cidade de Inhambane. No bairro Muelé 3, arredores da urbe, o “O Pais” encontrou a senhora Judite, que há cerca de um ano que não vê água jorrar na sua torneira. O cenário repete-se por vários bairros da cidade. A causa do problema, segundo o Fundo de Investimento e Património do Abastecimento de Água (FIPAG), resulta da baixa disponibilidade de água na fonte de captação

Judite não dispõe de água na sua casa, mas sorte diferente têm outros moradores de uma região não muito distante dela, onde o precioso líquido jorra uma vez e outra, com pouca pressão e por pouco tempo.

Muitas famílias no bairro Muelé 3 e de outros bairros da cidade vivem de favor, na medida em que para obterem água dependem da boa vontade de vizinhos, que têm furos para o abastecimento. O grande problema é que para ter água na casa do vizinho é necessário recarregar o contador de corrente eléctrica. Só assim a bomba funciona e para tal são necessários 50 meticais, por dia, valor que muitas famílias consideram muito alto.

Para aquela família que não tem os 50 meticais diários para comprar energia, a alternativa são os poços artesanais, muitos deles feitos a céu aberto. A grande preocupação tem que ver com a qualidade da própria água, uma vez que acidentalmente ou mesmo propositadamente podem cair detritos no poço e contaminar a fonte.

Num desses poços, “O País” interpelou Laura, de apenas oito anos. Apesar da tenra idade, já tem de ajudar a mãe em casa com uma lata de água. A progenitora conta que o exercício é diário e começa por volta das 04 horas. Mas não basta saber levantar-se de madrugada, é preciso cumprir a fila com outras pessoas. Vezes sem conta, passam até duas horas de espera para ter apenas 25 litros de água.

A mãe da miúda conta ainda que não poucas vezes o poço também seca, sendo necessária a intervenção de pessoas para remover a areia até a água ressurgir água, com todos os riscos que os indivíduos que fazem esse trabalho correm.

O Rio Guiua é, há muito tempo, a única fonte de abastecimento de água na cidade de Inhambane. A actual nascente do rio fica há mais de 14 quilómetros de onde este curso de água natural começava, há mais de 20 anos.

Ao redor da nascente é possível encontrar machambas da comunidade local, com canais abertos para desviar o curso da água que é usada para irrigação. Boa parte dessa água é perdida com a evaporação.

Segundo um agricultor ouvido pelo “O País” as machambas surgem precisamente porque não há controlo por parte de quem devia impor impedimento, no caso a Administração Regional de Águas. Esta não devia permitir nenhuma intervenção humana numa área de 10 metros ao longo das margens do rio.

A acção do homem ao longo do rio e o uso irracional da água, aliados às mudanças climáticas, fazem secar o “Guiua” que já não consegue garantir o precioso líquido à população da cidade de Inhambane.

O número de clientes do FIPAG aumentou de oito mil ligações domiciliárias, em 2010, para 13 mil e quinhentos, em 2014, altura em que a instituição parou de fazer novas canalizações dada a indisponibilidade de água.

Neste momento, o FIPAG tem capacidade para abastecer 14,400 m3/dia, por seis a sete horas diariamente, mas apenas consegue 7,200 m3/dia.

Sem água suficiente em “Guiua”, a única saída passa por encontrar outras fontes para garantir o precioso líquido à cidade capital. Essa solução chama-se “Guicuacua”, um rio que fica a cerca de 10 quilómetros da actual estacão de tratamento de água.

A materialização do projecto passa por várias etapas, das quais a aquisição do espaço para albufeira no Rio Guicuacua, a instalação de um PT, a construção de casota para o funcionamento do conjunto de electrobombas, construção de reservatório semi-enterrado de 2.000 metros cúbicos e o lançamento de uma conduta adutora, do Rio Guicuacua para Estação de Tratamento de Água de Guiua. O investimento está avaliado em cerca de 1.7 milhões de dólares americanos.

Ao todo, a solução para a falta de água na cidade de Inhambane custa 2.6 milhões de dólares.

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