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Relatório aponta para intrigas no ANC como uma das causas da violência na África do Sul

As intrigas entre facções no Congresso Nacional Africano, partido no poder na África do Sul, são uma das causas da violência que matou mais de 350 pessoas e originou a destruição e pilhagem de bens e infra-estruturas em Julho do ano passado, segundo um relatório de peritos constituídos pelo Presidente Cyril Ramaphosa.

Estes são alguns episódios que há sete meses geraram caos sem precedentes na África do Sul, logo a seguir à detenção de Jacob Zuma, para cumprir uma sentença de 15 meses de prisão, por desacato ao ignorar a comissão que investigava acusações de corrupção durante o seu mandato, entre 2009 e 2018.

Porque era preciso compreender o que levou à violência nas províncias de Gauteng e KwaZulu-Natal, bem como danos materiais orçados em mais de 50 mil milhões de rands, o Presidente Cyril Ramaphosa montou uma equipa de investigadores para analisar a preparação e reacção do seu Governo ao alvoroço.

Num relatório de 154 páginas, os peritos concluíram que o ANC fez parte da situação ocorrida entre 8 e 17 de Julho do ano passado.

“O que parece serem batalhas entre facções no Congresso Nacional Africano tornou-se uma séria fonte de instabilidade no país”, refere o documento.

O documento aponta, também, que a resposta da Polícia e dos serviços de informações sul-africanos foi inadequada e insuficiente, segundo escrevem a News24 e DW. “A Polícia ficou sem munições, como balas de borracha e gás lacrimogéneo. Relatos de pessoas que testemunharam a violência sugerem que os indivíduos que iniciaram a violência sabiam que teriam pouca resistência das autoridades”.

Os peritos falam igualmente da disfuncionalidade no Governo, apontando dificuldades complexas e falta de informação para planear operações de contenção da violência e tomar decisões rápidas.

Assim, a equipa de investigadores entende que o Presidente da República e os seus ministros falharam na liderança e deviam assumir a responsabilidade por isso.

Ainda de acordo com o relatório, a violência de Julho último pode ser analisada no contexto de múltiplas crises e desafios que a África do Sul enfrenta, tais como: enfraquecimento das instituições do Estado, elevado desemprego, acima dos 70 por cento entre os jovens, níveis elevados de pobreza e desigualdade profunda que subsiste no país após cerca de 30 anos de governação democrática.

Os problemas elencados na investigação encomendada por Ramaphosa incluem ainda:

O mau ordenamento do território, que leva a condições de vida de superlotação e inadequadas para muitos cidadãos, com assentamentos informais a surgirem em espaços urbanos já sobrelotados, bem como a corrupção desenfreada em vários níveis da governação e a captura do Estado pela grande corrupção pública.

Para os peritos, a combinação desses problemas é uma receita para instabilidade constante na economia mais pujante da África Austral.

Espera-se que Ramaphosa anuncie, esta quinta-feira, ao país que medidas o seu Governo irá tomar em resposta ao relatório, diz a DW.

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