Na Bélgica, a morte do afro-americano George Floyd reacendeu o debate sobre a violência do período colonial no Congo e o papel muito controverso do falecido rei Leopoldo II, acusado de matar milhões de congoleses.
Por ocasião dos 60 anos da independência da República Democrática do Congo (RDC), o rei Filipe apresentou pela primeira vez na história os “seus mais profundos arrependimentos pelas feridas” causadas durante o período colonial no Congo.
O pedido de desculpas foi expresso através de uma carta enviada esta terça-feira ao presidente da RDC, Félix Tshisekedi, na qual o Rei da Bélgica escreveu o seguinte: “Gostaria de expressar os mais profundos pesares por essas feridas do passado, cuja dor agora é reacendida pela discriminação ainda presente nas nossas sociedades”.
“Na época do estado independente do Congo [quando este território africano era propriedade do ex-rei Leopoldo II], foram cometidos atos de violência e crueldade, que ainda pesam na nossa memória coletiva”, afirmou Filipe, que reina desde 2013.
“O período colonial que se seguiu [o do Congo Belga de 1908 a 1960] também causou sofrimento e humilhação. Encorajo a reflexão iniciada pelo nosso parlamento para que a nossa memória seja definitivamente pacificada”, acrescentou.
O Estado Livre do Congo foi fundado por Leopoldo II em 1885 e perdurou até 1908, como propriedade absoluta do rei belga. Durante esse período, foram massacrados ou morreram de doença entre cinco e 20 milhões de congoleses. Muitos outros foram mutilados devido às regras cruéis impostas pelo regime de Leopoldo. O reino terminou com a anexação à Bélgica, que durou até à independência do país agora chamado República Democrática do Congo, conseguida por Patrice Lumumba em 1960.