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Racismo: descriminação racial no sistema laboral

Segundo o dicionário brasileiro www.dicio.com.br, Racismo seria um conjunto de teorias e crenças que estabelecem uma hierarquia entre as raças, entre as etnias.
Na altura eu era assistente em recrutamento e fui convidado para apoiar a Gestora de Comunicação no processo de recrutamento de um (a) assistente de comunicação para o seu departamento. Uma negra (preta se preferir) e outra mulata (café com leite ou mestiça), foram as últimas escolhidas do shortlist. A negra veio ter comigo e disse “eu sei que vocês vão escolher a outra porque é mulata”. Por outro lado a dita mulata (que não estou muito certo que seja, pois parece de origem indiana, enfim…), sorriu e foi sentar-se à espera que fosse chamada para a entrevista. No final adivinhem quem escolhemos, pois claro, a mulata. Foi para a entrevista confiante, sorriu, mostrou gestão de suas emoções, não foi racista e ainda por cima mostrou que tinha competência para o cargo. Nada melhor do que ter este tipo de candidato como colega, pois não?

Se eu tivesse a inteligência que tenho hoje, nem teria perdido meu tempo entrevistando a moça negra que por sinal não era nada má. Moral da história: eu e a minha colega, que conduzimos o processo de recrutamento e contratamos a mulata acabamos deixando a empresa e sei que a mulata é hoje a Communication & Image Manager na mesma empresa, sinal de que fizemos good job.

Será raça um critério de discriminação ao mercado de emprego em Moçambique?
Com expecção da Bélgica onde meu trabalho é efectivamente recrutar Africanos (na sua maioria negros) para África, em Moçambique nunca me foi recomendado escolher pessoas pela cor de pele, sexo ou etnia e também nunca pude presenciar escolhas de candidatos baseado nesses critérios. No entanto já ouvi, notadamente numa passagem da música do músico Azagaia onde diz “vais para empresas tipo bancos e não encontras nem um negro”.

Não estou em posição para afirmar que o racismo no sistema laboral é inexistente pois não estou na cabeça dos outros profissionais para saber que critérios usam efectivamente, no entanto, sei que como seres humanos que somos, fomos programados para pensarmos geralmente negativo. Encontrar justificações e culpados para a situação em que nos encontramos, principalmente quando esta é má, é evidentemente melhor do que procurar soluções favoráveis para sairmos dessa situação. Aceitar que não temos competências técnicas e/ou os soft skills necessários para o posto é impensável para muitos de nós, pois aceitar implica voltar para casa e pôr-se ao trabalho (ler, investigar, procurar uma formação que possa colmatar a lacuna). Neste caso é melhor culpar a raça, apelido, idade, sexo, etnia e isso por apenas alguns minutos pois o resto do tempo deve ser consagrado a beber txilar e reclamar que o estado não ajuda e que nos outros países é melhor (como se tivéssemos conhecimento desses tais países).

Como fazer face a questão do racismo

Nós como humanos transmitimos às outras pessoas, uma imagem de nós, projetada a partir do que nós mesmos achamos de nós mesmos. E é a partir dessa imagem que nós somos tratados e julgados. A boa nova é que podemos mudar a forma que nós nos vemos.

A procura de emprego é um dos maiores desafios que enfrentamos na vida. Saber que vamos conseguir o trabalho significa, potencialmente, que as nossas preocupações financeiras serão eliminadas, poderemos fazer planos de vida e ganhar uma certa dignidade. Saber que a entrevista pode correr mal, cria pânico, e a confirmação deste prenúncio faz com que nos sintamos estagnados, fracassados, temos vontade de desistir de tudo e ir para lugar incerto. Quem nunca esteve nesta situação?
É certamente por este sentimento que mesmo antes da entrevista começamos a procurar justificações caso não consigamos o trabalho, pois ouvir “NÃO” é realmente doído, principalmente quando nos falta comida na mesa. Como é o caso de muitos de nós, infelizmente.

A solução passa por uma boa preparação. Como para todos os encontros que sejam desportivos, amorosos ou viagens, a preparação é primordial. Quando nos preparamos para uma entrevista de trabalho ou mesmo para uma reunião de negócios, o nosso estado de espírito é o mais importante, saber que somos capazes e que vamos sair do encontro vitoriosos é a chave do sucesso nestes meetings.

No processo de preparação para além das suas competências técnicas, Informe-se sobre a cultura da empresa, pois nas suas respostas poderá dar inconscientemente, informações suplementares ao entrevistador; veja o endereço da empresa com antecedência de maneira que chegue a horas e sem estresses; prepare antecipadamente a sua indumentária de acordo com a cultura da empresa; leve consigo alguns CV’s caso sejam necessários; prepare seus argumentos em adequação à cultura da empresa ou ao entrevistador; sorria e elimine todas as ideias pré-definidas sobre raça, etnia, idade, apelido, sexo; seja autêntico e original; responda as questões com entusiasmo como se já tivesse sido contratado.

As empresas estão para fazer lucros. Este é o objectivo central de todas as empresas e contrariamente ao que muitos pensam, as empresas precisam mais “dos bons candidatos” do que o contrário. Daí que elas não vão recrutar pessoas incompetentes que tenham cor clara ou mais escura. A cor não vai ajudar as empresas a atingirem os seus objectivos financeiros. Então, quando for a entrevista, mostre que é bom no que faz e esqueça todas as ideias pré-definidas. Se não conseguir passar na 1ra, 2nda ou mesmo 3ra entrevista, tente novamente sem desistir, melhore suas competências todos os dias e sem perder entusiasmo espere pela sua vez.

Recomendação de livro para o mês de Fevereiro: ” Empreendedorismo e Desenvolvimento de Negócios” – António Sendi

Samuel Gerson Andrisse, é especialista de recrutamento e autor do livro “Be ready for your next job interview”

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