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Quem devolve dignidade aos doentes ignorados?

A insensibilidade perante a dor do povo é preocupante neste país. Há mais de 45 anos que sonhamos com boas condições nos serviços de saúde, mas as tímidas melhorias continuam a passos lentos, e a aparente evolução, até com os olhos fitos à lupa, custa identificar. Somam-se dias piores que culminam com luto nas famílias e nada de resposta.

Esta semana, assistimos à reedição do sofrimento dos doentes em Nampula. Doentes apinhados em enfermarias, deitados nas sobras do chão, a mendigar atendimento: é o cúmulo da esperança sepultada! Indigência vulgarizada na maior unidade sanitária da província mais populosa do país, sob o olhar impávido dos nossos “subordinados”, aqueles que elegemos para nos governarem, mas deram-nos o falso estatuto de “patrão”.

Um sofrimento também vivido pelos profissionais de saúde, que, por serem fiéis ao juramento hipocrático, além dos contornos ao labirinto humano, se agacham vezes sem conta, entre um e outro doente, para prestar-lhe assistência possível, nas deploráveis condições existentes. Por melhor que seja a intenção de prover assistência, com infra-estruturas saturadíssimas, o trabalho leva à exaustão desta classe, e pouco se ganha em matéria de qualidade de serviço. Quem se importa com os profissionais de saúde?

Afinal, por que o comboio do progresso só anda em retaguarda no país? Por que nos tornamos invisíveis ou simplesmente fantasmas a sucumbir na indiferença do grito de socorro? Quando me lembro da frase: O NOSSO MAIOR VALOR É A VIDA, pergunto-me se quem escolheu este slogan sabe o que significa VIDA, por ser o único elemento estranho nesta oração.

Por onde anda o ministro Armindo Tiago, que, desde que assumiu a pasta da Saúde, nos habituou a frontalidade. Pedimos frontalidade no esclarecimento e resolução deste caos. A falência dos serviços de saúde públicos é uma realidade de bárbara branca, hoje evidenciada em Nampula, mas pode ser flagrada em muitas unidades sanitárias em todo o país. A normalidade dos péssimos serviços de saúde deve encontrar um ponto final em respostas criativas e eficazes.

Se a saúde pública elegesse políticos, teríamos, com certeza, prioridade. Nem os ilustres deputados nos representam nessa matéria. O silêncio desta classe deve-se ao facto de não sentirem na pele o que o povo sente. Passar o dia à procura de um diagnóstico que não chega e, no fim, receber uma receita com apenas analgésicos como paliativos, dirigir-se à farmácia e por vezes nem estes medicamentos encontrar, é doloroso. É a morte precipitada pela incompetência. Devolva-se dignidade aos doentes!

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