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Que culpa tenho eu?

Por: Nilton Arão

 

Como todas outras mães ricas, nasci a norte de um país mais a sul da África. Naturalmente linda, com missangas a cintura e pérolas do Índico sobre o meu pescoço. Vi muitos chegarem e muitos partirem.

Aos meus 46 anos, sou mãe de onze filho de um pai desconhecido, cujo o tempo e o passado o renegou ao esquecimento. Ao longo dos 29 anos, em paz, os meus filhos criei, com uma discussão aí, outra acolá, com suas crenças e diferenças, e sempre unidos.

Quis o destino que fôssemos viver ao cabo da esperança. Do cabo da esperança de um futuro risonho, o lugar transformou-se em cabo do medo e da incerteza.

Com o medo vieram as incertezas dos batimentos cardíacos que nos restavam. Não porque queríamos perpetuar a nossa estadia na terra, mas sim porque como toda mãe, os nossos filhos queríamos ver crescer. Crescer sem divisionismo, sem tribalismo, mas sim como um só corpo.

Hoje acordo. E se acordo, é com os olhos virados para a mata que vivo. Matas estas que um dia a lenha nos serviu, para aquecer o pouco que não tínhamos para com os filhos comer. Hoje delas nos servimos para dos mesmos filhos do desconhecido nos escondermos, esperando o sol derrotar a lua, para uma caminhada para o infinito percorrer.

Como mãe, hoje só peço a Deus que guie a mente e a alma dos meus filhos para um porto seguro, mesmo que de lá para a terra firme não partam, pois mais vale uma quase certeza de um dia ao destino chegar, que a incerteza de um futuro marcado por caminhadas mata a dentro sem do líquido vital deliciar.

Como mãe, não mais quero um cabo de esperança ou de riquezas, apenas quero sentar em paz, com a lenha, sem GÁS, para os meus filhos cozinhar.

Não mais quero nenhum cabo de esperança, ou sobre o meu quintal ver ferros a flutuar, apenas quero um Cabo de enxada para em paz a terra cultivar.

Que culpa tenho eu? Sempre com a lenha cozinhei, e sobre o GÁS nada sei.

 

 

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