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Professores dizem que uso das TIC face à COVID-19 é seu desafio actual  

Foto: O País

Os professores estão em festa, pois hoje é seu dia. Entretanto, a classe ainda se queixa da falta de pagamento de horas extras e da demora na mudança de carreiras. A estes problemas, junta-se a pandemia da COVID-19 e o uso das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC), que constitui um martírio para os profissionais da Educação.

O ambiente que se vive é de celebração, pela passagem de mais uma efeméride, o 12 de Outubro, Dia do Professor, alusivo à data em que se criou a Organização Nacional de Professores.

Há razões de sobra para isso, pois se trata de uma das profissões mais nobres do mundo, sendo através dela que se ensina ao Homem o saber fazer, ser e estar na sociedade, preparando-o para a vida.

É pelas mãos dos professores que são forjados os médicos, engenheiros, advogados, jornalistas e outros profissionais.

No seu dia-a-dia, trajado de bata, com giz na mão e orgulho de um formador, em uma turma com 50 a 70 alunos, sem medir o sacrifício, indo de “cabeça em cabeça”, o professor transmite o seu conhecimento. E isso é reconhecido pelos seus alunos.

“O professor ensina a escrever, a ler, a contar, etc, tudo o que sabemos foi o professor quem nos ensinou. Graças ao professor, nós teremos uma boa formação e profissão”, contou Alzira Muambo, aluna da 7ª classe, na Escola Primária Joaquim Chissano.

Os alunos, com euforia, contam os seus sonhos e dizem que só será possível alcançá-los com a intervenção da figura do professor.

Apesar do reconhecimento aos feitos da figura do professor, estas celebrações, como de costume, acontecem no meio a desafios.

Professora há 13 anos, Sheila Manhiça é só um exemplo dos mais de cem mil professores em Moçambique que exercem a sua função com dedicação e empenho, apesar das barreiras com que se debatem. Lecciona há dois anos na Escola Primária Completa Eduardo Mondlane, em Maputo, em condições, segundo disse, nada agradáveis.

“Trabalhar aqui não tem sido fácil. Nós amamos o nosso trabalho, fazemos tudo o que estiver ao nosso alcance.”

É assim que a professora Sheila, como carinhosamente é tratada pelos seus alunos, fala dos últimos anos da sua profissão. Além de ter várias turmas, com 50 a 70 alunos cada, o seu local de trabalho tem sido debaixo de árvores.

“Todos os dias, saímos de casa com muita vontade de transmitir o pouco que sabemos às nossas crianças, e, quando pensamos em estar aqui, expostos a tudo e todos, a motivação reduz, porém fazemos aquilo que a nós compete”, desabafou a professora Sheila Manhiça.

Apesar das dificuldades e dos desafios impostos pela pandemia da COVID-19, Sheila diz que procura garantir que cada aluno que passe pelas suas mãos aprenda o máximo possível.

“A pandemia só veio piorar tudo. A interrupção das aulas acaba por dificultar o nosso trabalho, mas sempre lutamos para recuperar o tempo perdido”, disse.

São apontados como parte dos desafios do sector na actualidade, o rácio professor – aluno, porque o número de alunos por turma, 60 a 70 alunos, tem contribuído negativamente na qualidade do trabalho.

“É muito difícil trabalhar nas condições em que a escola está: temos falta de carteiras, salas de aula e outros materiais de trabalho, tanto que, nos dias de chuva, não podemos trabalhar debaixo das árvores”, referiu Isaura Massingue, professora na Escola Primária Completa Joaquim Chissano, em Maputo.

Por seu turno, a Organização Nacional dos Professores ONP, ao nível da Cidade de Maputo, está ciente do problema e procura encontrar soluções junto do Ministério da Educação e Desenvolvimento Humano.

Luísa Cuna, primeira assistente provincial da ONP, disse que a classe está insatisfeita, pois os professores são confrontados com os mesmos desafios, diariamente.

“Dentre vários outros problemas que nos assolam, nós gostaríamos de que as turminhas que existem agora, de 20 a 25 alunos permanecessem para sempre, não apenas por este período da pandemia, mas também porque trabalhar com estes números é prazeroso e dá espaço ao professor para conhecer os seus alunos e melhor preparar os conteúdos”.

Para a ONP, o salário “baixo” e a falta de subsídios que poderiam consolar o professor são, também, uma grande barreira para o sector. O uso de tecnologias na sala de aula tem sido um grande martírio para estes profissionais.

“Os professores estão expostos à pandemia da COVID -19. A Educação não tem pessoal suficiente para garantir permanência de desinfecção das salas sempre que houver troca de turnos. Além disso, as tecnologias colocam-nos numa situação de pressão e gastos sucessivos. Temos assistido a casos de alunos que, simplesmente, não fazem os deveres, alegadamente por não terem condições. O que podemos fazer diante disso?”, questionou a professora.

Moçambique conta com pouco mais de 140 mil professores, dos quais mais de seis mil estão afectos às escolas da capital do país.

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