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Dizem que a única constante é a mudança, e o panorama de episódios de fraude prova-o quase todos os dias. O jogo do gato e do rato entre criminosos e bancos é algo recorrente.

As equipas de Risco e Fraude fazem um esforço contínuo no sentido de adaptar as tecnologias de prevenção à fraude e, em pouco tempo, os autores das fraudes desenvolvem formas mais arrojadas de as contornar e levar a cabo os seus esquemas. A fraude está cada vez mais direcionada e orientada para o contexto digital.

Sendo o continente africano um dos mais afectados esta é, sem dúvida, uma preocupação global crescente.

Segundo o Inquérito Global Economic Crime and Fraud Survey (edição de 2020) conduzido pela Price waterhouse Coopers (PwC), no qual foram inquiridos cerca de 5.000 líderes empresariais de 99 países diferentes, uma em cada duas empresas (47%) viu-se exposta a eventos fraudulentos e a episódios de crime financeiro nos últimos dois anos. Trata-se do segundo maior pico dos últimos 20 anos – tendo o mais grave ocorrido em 2018, quando 49% dos inquiridos reportou a mesma ocorrência.

O estudo demonstra, ainda, que a criminalidade financeira tende a tornar-se cada vez mais generalizada, com os crimes cibernéticos e a fraude consideradas as duas formas mais destrutivas e perturbadoras de criminalidade financeira, a nível mundial.

Em 2020, 35% dos inquiridos afirmou ter presenciado um aumento dos casos de fraude reportada por clientes, o que representa um aumento de 6 pontos percentuais (contra 29% em 2018).

Actualmente, um dos maiores riscos enfrentado pelos consumidores é a fraude conhecida como “Cartão Não Presente” ou fraude nas transacções online, através da qual os fraudadores acedem de forma ilegal à informação dos cartões de pagamento dos clientes, roubando dados bancários de websites de compras online, onde os dados de milhares de cartões encontram-se armazenados.

A adopção do sistema EMV veio reforçar o nível de segurança dos cartões nos pontos de venda, mas em contrapartida, tornou as transacções de cartões “não presentes” ainda mais frequentes. O resultado? Os níveis fraude online dispararam. Na prática funciona da seguinte forma: depois de se autenticarem e acederem a informação confidencial, os fraudadores compram grandes quantidades de mercadorias a outros comerciantes, também eles autores de esquemas fraudulentos, defraudando os clientes em valores exorbitantes.

Mas se pensarmos que o risco de fraude ameaça apenas clientes particulares, estamos enganados. Temos testemunhado um crescimento acentuado na ocorrência de fraude no meio empresarial, sendo o BEC (Business Email Compromise) o tipo de fraude actualmente praticado de forma mais significativa, esta técnica debruça-se sobre a correspondência entre as empresas e os seus clientes: os e-mails dos clientes são interceptados por fraudadores que se fazem passar por funcionários da empresa em questão e efectuam comunicações subsequentes no sentido de levarem clientes insuspeitos a transferir valores para as contas bancárias indicadas pelo fraudador.

Olhando para África, os níveis de ocorrência de fraude crescem exponencialmente, considerando o volume significativo de incidentes relacionados com roubo de identidade por engenharia social, o que se deve essencialmente aos níveis reduzidos de alfabetização da base de consumidores, que não vê qualquer risco em solicitar ajuda a estranhos em operações de ATM, por exemplo.

Esta tendência agravou-se com a pandemia, durante a qual assistimos a um aumento sem precedentes das compras online e, a partir daí, a um crescimento dos incidentes de fraude relacionados com esta forma de compras.

No caso do FNB Moçambique, como em outros bancos, têm sido realizadas campanhas de sensibilização, alertando os clientes para os riscos que podem enfrentar se as suas credenciais forem comprometidas, ou pedindo ajuda a estranhos quando recorrem às ATM para realizar as suas transacções. Também sensibilizámos os nossos Clientes sobre as precauções a tomar ao abrir e-mails de fontes desconhecidas e/ou com anexos e implementámos recentemente o passo adicional de segurança 3D Secure em todos os cartões de débito e crédito FNB, como um passo adicional de segurança em compras online, por forma a assegurar um nível de defesa reforçado contra a utilização fraudulenta dos cartões de pagamento.

Em resumo, temos feito um esforço contínuo para monitorar as transacções, controlar e optimizar a nossa capacidade de detectar incidentes relacionados com fraude e colaborarmos com a indústria financeira assim como com outros parceiros relevantes para assegurar a protecção dos dados dos nossos clientes.

Estas acções são cada vez mais relevantes numa era de exposição a novos e graves perigos trazidos por um mundo cada vez globalizado, onde os bancos podem e devem proteger os seus activos através da implementação controlos preventivos sempre que possível e comunicando os incidentes que enfrentam entre si, de modo a que a informação proteja a indústria bancária como um todo.

As parcerias com vários intervenientes, tais como as  empresas de telecomunicações, os gateways de pagamento (VISA, Mastercard, Etc) assumem um papel de relevo no sentido de minimizar a exposição ao risco e, em última, análise transferir parte desse risco para as companhias de seguros, com vista a uma recuperação adequada no caso de perdas difíceis de prevenir.

Há que recordar algumas medidas de prevenção essenciais: tenha cuidado nas transacções online, seleccione sempre websites com Secure Checkout (3D Secure), não solicite nem aceite assistência de estranhos enquanto utiliza a ATM, confirme sempre as ordens de pagamento feitas via e-mail, não abra anexos de remetentes desconhecidos ou suspeitos, mantenha as suas credenciais seguras e escolha PINs e passwords mais fortes e, finalmente, pense sempre bem antes de clicar!

Mónica Souto – Directora de Risco do FNB Moçambique

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