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Oradores do MOZEFO vêem nas reformas factor de desenvolvimento

O desenvolvimento de um país depende de muitos factores, por exemplo, “Reformas económicas como indutor de crescimento”, tema do sexto painel do segundo grande fórum MOZEFO, que termina amanhã, no Centro de Conferências Joaquim Chissano, em Maputo. Um dos oradores convidado a intervir, José Chichava, foi exaustivo sobre o que Moçambique precisa fazer para se superar. De acordo com o antigo Ministro da Administração Estatal, o primeiro item crucial para a reforma do país é a paz e a estabilidade, feita de atitude das pessoas, com a percepção de que Moçambique é de todos e que não existe mais moçambicanos do que outros.

Com efeito, resolvido o problema do conflito das armas, diz Chichava, na estabilidade o país não foi capaz de pensar em programas a longo prazo. “Para desenvolver o país não devemos fazer programas de cinco em cinco anos, sem continuidade. Em cada mandato começamos tudo do zero. Precisamos de programas consistentes, de cinco, dez e vinte anos”, sugeriu Chichava.

Além disso, José Chichava partilhou mais ideias com o público, lembrando que a maior parte do povo moçambicano vive no campo e do campo. Então, o país tem que investir na agricultura, investir naquilo que pode ser vantagem competitiva em termos de agricultura, que para o efeito há rios e terra suficiente para produzir todo tipo de produtos com cotação a nível internacional. E o raciocínio de Chichava foi evoluindo, tocando mais em elementos que fragilizam o país, com soluções: “Temos de parar de culpar os outros pelos nossos problemas. Estamos com problemas sérios na economia, mas, em 2007 havíamos atingido o nível de não mais policiamento pelo FMI, pela capacidade de gestão e implementação que conseguimos atingir. No entanto, de repente, estamos no fundo do poço. Como moçambicanos, devemos analisar as causas que nos afectam e pensar numa solução para esses problemas. Devemos nos desfrutar daquilo que a globalização dá, sem querer desenvolver sozinho”.

Mais adiante, José Chichava disse que, para preservar as conquistas, o país deve respeitar as leis e parar de as alterar de cinco em cinco anos; criar instituições fortes, que não permitam alguém estar acima da lei. “E todos devemos sentir que temos responsabilidades. Todos culpamos o governo, mas não pensamos na nossa contribuição para ajudarmos o país a sair dos problemas. Caso corrupção. Todos nos queixamos, mas ainda não nos perguntamos quem corrompe e quem é corrompido. Isso importa, como importa punir a todos envolvidos nesses actos. Temos de moralizar as pessoas, em casa, e não deixar que esse papel seja do Estado ou do professor”.

Antes de finalizar o seu discurso, Chichava disse ainda que o país deve investir no conhecimento porque, assim, terá maior capacidade de negociar melhores contratos com entidades estrangeiras.  

Depois de Chichava, falou Ari Aisen, representante permanente do FMI em Moçambique. Aisen foi pragmático, começando o discurso por dizer que é possível que um país tenha crescimento alto e isso não fazer muito sentido, caso não seja inclusivo, não beneficie toda a sociedade. Nisso, o representante do FMI discordou da opinião defendida por Chichava, a de que o Fundo monetário é polícia dos países. Aisen corrigiu afirmando que o Fundo é parceiro dos países que devem apropriar-se das reformas e perceber que são indispensáveis para o desenvolvimento.

Ainda nesta tarde, Aisen disse que não é possível pensar em crescimento económico sem estabilidade macroeconómica, o que se traduz na inflação baixa e crescimento sustentável ao longo do tempo. “O ambiente macroeconómico é fundamental e os países que a levam em conta alcançam ganhos em termos de investimento inclusivo”, afirmou. Mas não ficou por aí. “Países que em geral não têm disciplina fiscal, ficam sob ameaça de estabilidade económica. O sector financeiro precisa receber poupança das famílias e, em função disso, transformar em financiamento. Quando as famílias não têm a possibilidade de transformar poupança por empréstimos, há problemas. Igualmente, medidas sectoriais são fundamentais, com políticas concretas, poder das instituições, autonomia e burocracia eficiente.

Segundo Aisen, a fortaleza das instituições é a chave no âmbito das políticas públicas. Nessa área, o FMI quer criar nos países parceiros a capacidade de gerenciar uma economia.

O sexto painel contou ainda com Paulo Portas, antigo Vice-Primeiro-Ministro de Portugal, e Rama Sithanen, antigo Ministro das Finanças e antigo Vice-Primeiro-Ministro das Maurícias.

 

 

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