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“O problema dramático e trágico é a inexistência de fundos para o cinema” – Licínio Azevedo

Licínio Azevedo foi o convidado, na tarde desta quarta-feira pela revista Literatas para falar da sua experiência como jornalista e cineasta. O convite foi no âmbito da exposição Pensar Futuro organizado pela revista Literatas.

O Centro Cultural Moçambicano-Alemão (CCMA) foi o local onde jornalistas, estudantes e diversos actores sociais conversaram com o director do Comboio de Sal e Açúcar. Simples no falar, dono de uma memória fina, exacta e, acima de tudo, concisa nas datas e acontecimentos: assim se mostrou o cineasta. Esta conversa foi pensada dentro da exposição Pensar Futuro. Aliás, Azevedo ocupou páginas da edição especial da revista Literatas.

Antes de "esconder" o rosto e a voz por detrás das telas, Azevedo foi jornalista que se dedicava a contar estórias e histórias da América Latina e do Mundo inteiro. Isto serviu de pretexto para accionar a conversa com o cineasta. "Eu antes de fazer cinema fui jornalista no Brasil. Conheci muitos países da América Latina por conta da profissão de jornalista. Fiz uma transição do jornalismo para o documentário e assim cheguei à ficção. Considero-me um filho do jornalismo. Muitos escritores americanos que admirava muito tinham passado pelo jornalismo. E assim segui. Era encantado pelo jornalismo americano". Assim confirmou o cineasta.

O momento serviu para reflectir, em paralelo, a situação da sétima arte a nível nacional. Para Azevedo tinha que se dar muito valor ao cinema, pois essa arte consegue levar a cultura de qualquer país para o palco do mundo. "Em moçambique o problema dramático e trágico é a inexistência de fundos para o cinema. Temos jovens que querem fazer cinema, jovens formados, todavia acabam não tendo muito sucesso para iniciar por falta de fundos. Mas é também um problema de muitos países do Mundo, expecto os Estados Unidos. Por essa dificuldade fazemos três a quatro filmes em cada três anos. E isso é muito pouco". A falta de financiamentos aos filmes acaba condicionando a sua produção e isso leva o cineasta a dizer que já não pode discutir tanto a questão da falta de críticos de cinema: "Por falta de uma produção massiva não podemos falar de críticos de cinema. Os críticos existem onde há produção de filmes com frequência. É preciso que se façam filmes para se ter críticos. Se fazemos um filme por ano que crítica teremos?"

Por sua vez o director da revista Literatas, Eduardo Quive, disse haver necessidade de sempre aproximar artistas e coloca-los a pensar. A pensar sobretudo o futuro da arte e a arte do futuro.

"O objectivo é colocar o público a dialogar com aquele que muitas vezes tem ficado muito distante: o cineasta. E deste modo pretendemos criar um espaço de conversação entre Licínio Azevedo e jornalistas. É uma forma de celebrar os seis anos do Literatas e criando este espaço de diálogo. Licínio é um artista com um pensamento sobre o país, tem memória sobre o mesmo, isso pode ser visto em seus filmes e livros. Em linhas gerais pretendemos pensar a arte do amanha a partir de hoje".

Licínio Azevedo nasceu em 1951 em Porto Alegre, Brasil. É um realizador e escritor brasileiro. Radicado em Moçambique desde 1975, é um dos fundadores da empresa moçambicana de produção de cinema Ébano Multimédia e produtor de vários longas-metragens e documentários No INC (Instituto Nacional de Cinema de Moçambique), participou em experiências de Ruy Guerra e de Jean-Luc Godard. Os seus diversos documentários foram premiados em todo o mundo. A sua primeira ficção (média-metragem) O Grande Bazar foi apresentada em inúmeros festivais.

A Colheita Do Diabo (1988), Marracuene (1990), Adeus RDA (1992), A Árvore dos Antepassados (1994), A Guerra da Água (1996), Tchuma Tchato (1997), A Ilha dos Espíritos (2010), Virgem Margarida (2012) e Comboio de Sal e Açúcar são algumas produções desse cineasta.

Desde o dia 16 de Outubro, está aberta a exposição de capas da 10ª edição da revista Literatas. A mesma, está patente no CCMA até dia 31 de Outubro e é aberta ao público.

 

 

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