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“O país perdeu um intelectual de referência”

Antigos colegas de Mário Machungo entendem que o economista partiu numa altura em que ainda tinha muito a ensinar e a partilhar com os moçambicanos.

 

Partiu numa altura em que o país ainda precisava muito dele. Esta posição é geral entre os antigos colegas de Mário da Graça Machungo, aqueles com quem o economista trabalhou no Millenium BIM.

Na véspera do último adeus a Machungo, as pessoas que com ele conviveu realçam qualidades do antigo governante. Mário Machungo é descrito como um homem inteligente, polido, educado, sensato e que sabia ouvir os outros. Para ele não bastava que o trabalho fosse bem realizado. Devido à sua dimensão humana muito profunda, o economista interessava-se em perceber as inquietações ou preocupações dos seus colegas. O seu interesse, dizem eles, era o de ver as pessoas que o rodeavam a evoluir profissionalmente. Por isso, sempre motivou os colaboradores do Millenium BIM, quando lá ocupou a função de Presidente do Conselho de Administração, a estudarem, ainda que isso significasse reajustar o horário de trabalho.

Uma das pessoas que se beneficiou dos conselhos do economista foi Angelina Mbeve. Juntos trabalharam 20 anos. Um dia desses, Machungo perguntou à colega por que ela não se formava no ensino superior. Angelina Mbeve respondeu ao chefe dizendo que não havia tempo por causa do trabalho. Mário Machungo corrigiu. Disse que se ela quisesse, estudaria. Bastava apenas dizer. E dito e feito. No ano seguinte, Angelina Mbeve começou a frequentar um curso de licenciatura e, agora, confessa que deve a formação ao homem cujo corpo esta segunda-feira vai a enterrar no Cemitério de Lhanguene, na cidade de Maputo.

Ainda no Millenium BIM, outra colega que guarda para vida ensinamentos de Mário Machungo é Virgínia Sengo. A senhora trabalha na área das limpezas e por vários anos manteve limpa o gabinete do seu chefe. No princípio, Virgínia Sengo lembra que tinha muito preconceito em relação à sua actividade. Mudou a forma de pensar no dia em que, estando a conversar com Mário Machungo, ele explicou-lhe que a área das limpezas era tão importante quanto a da administração, pois, sem limpeza, não haveriam condições para nenhum colaborador do banco trabalhar. As palavras não só transformaram Virgínia Sengo como a motivaram a desempenhar as suas responsabilidades.

Quem o conheceu, lembra-se ainda de um homem didáctico, aberto e preocupado em ouvir as pessoas. Machungo é lembrado como um influenciador de vidas, um homem que se preocupou mais em semear do que em colher o que quer que fosse. Por isso, enquanto pôde, procurou ensinar. E ensinou sempre. Elísio Langa, seu antigo assessor, recorda que graças ao economista aprendeu a saber medir o peso da relevância das suas palavras numa reunião: “só vale a pena partilharmos o nosso pensamento se as nossas palavras poderem ser ouvidas”. Lembrou.

Elísio Langa sublinha que o chefe destacava-se pela capacidade de liderança e pensar o país, afinal desde jovem viveu intensamente a economia moçambicana. Daí ter inspirado jovens da altura, como Omar Mithá, quando se encontrava ainda a estudar. Mithá reconhece-lhe o mérito na construção do BIM e da economia nacional.

Para todos que trabalharam com o economista, Mário Machungo morreu, mas não partiu dos seus corações.

 

 

 

 

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