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“O horizonte e a escrita”: o primeiro remédio do José

O jornalista e ensaísta José dos Remédios estreia-se em livro com “O horizonte e a escrita”, disponível nas livrarias desde esta terça-feira. A obra literária, que levou 14 meses a ser escrita, chancelada pela editora Fundza, é um ensaio sobre a narrativa de Adelino Timóteo.

É a estreia de um dos jornalistas que mais crítica (construtiva, diga-se) faz aos livros dos escritores moçambicanos, de há algum tempo a esta parte.
“O horizonte e a escrita” é o seu primeiro livro, que é, na verdade, o preencher de um vazio que o autor constatou em relação aos estudos sobre a narrativa de Adelino Timóteo. “Quis preencher esse vazio porque se trata de um autor cuja escrita nos conduz a uma introspecção sobre várias propostas estéticas e sobre algumas construções estereotipadas”, foi esta a inspiração do Dos Remédios para escrever “O horizonte e a escrita”. Essencialmente, trata-se de uma tentativa de trazer Adelino Timóteo ao centro da sua visão, um tiro que saiu pela culatra, já que “o que aconteceu foi o inverso”, de acordo com o próprio José dos Remédios.

Mas há mais: “na análise, descobri um autor que se comunica e nos comunica com outras literaturas e achei interessante a ideia de reflectir sobre Moçambique através da ficção que nos ajuda a pintar de sentido a própria realidade onde estamos inseridos”.

ENCERRAR E REINAUGURAR UMA ETAPA

O autor não esconde que teve momentos de inspiração e desinspiração enquanto escrevia o livro. Aliás, o tempo é disso prova. “Este é um livro que escrevi ao longo de 14 meses, entre 2019 e 2020. Depois de muitos cortes e acréscimos que não faltam, finalmente foi editado e impresso em Dezembro, sob a chancela da Editorial Fundza”, revela.

E por ser o primeiro, Dos Remédios tem um misto de sentimentos e de objectivos. Primeiro, “sinto-me a encerrar e a reinaugurar uma etapa”. Sim, a encerrar e reinaugurar porque “este é o caminho que escolhi e não tem volta”.

José dos Remédios revela que tem estado a pensar no passo que está a dar e “estou convencido de que quero manter este compromisso de estudar, compreender e divulgar a literatura moçambicana”. Um compromisso que o mais novo ensaísta não se vai eximir, até porque escreve para outros e não para ele. O próprio diz isso, quando afirma que “agora que o livro chegou ao público, começo a desfazer-me do mesmo no sentido de que vai deixando de me pertencer. Parece um cliché, mas é isso que sinto”.

Uma satisfação enorme que o autor do “O horizonte e a escrita” por ter conseguido editar um ensaio feito à obra de um escritor tão necessário entender a sua escrita, afinal, “nos oito romances analisados de Adelino Timóteo nos reencontramos com os nossos espaços identitários e ideais”, diz José dos Remédios.

 

“O HORIZONTE E A ESCRITA” EM DUAS VERSÕES

Já se diz que José dos Remédios foi inspirado pelas narrativas de Adelino Timóteo para entrar nesta odisseia da escrita, mas algo mais inspirou o autor a criar o título. E foi uma inspiração em dose dupla: “Por um lado, a obra em si de Adelino Timóteo. Por outro, o que essa obra nos traz ou para onde nos leva”.

Para essa inspiração foram muitos argumentos levados em conta e ou descobertos, afinal “temos na nossa mira imagens e elementos que precisam de voz para que possam ser inteligíveis. Portanto, o título surgiu-me no fim do estudo, depois de uma conversa a três com Angélica Pereira e Dany Wambire”. Não digo quem eles são de propósito. Quem for a ler o livro, certamente, saberá por que eles foram importantes na aprovação do título”, explica José dos Remédios.

Ora, há uma perspectiva neste livro de José dos Remédios sobre as narrativas de Adelino Timóteo. “Assumo-o como leitor e como um ensaísta comprometido em divulgar a arte literária do nosso país. Se isso poder inspirar os outros, sinceramente, ficarei muitíssimo satisfeito e motivado. Claro está, a estética da recepção só se completa com os leitores”.

Remédios quer escrever e ser lido

Com esta estreia no mundo da escrita, o autor do “O horizonte e a escrita” está ciente de que, tal como o faz com outros livros, vai ser avaliado, mas isso não o tira sono. Aliás, para ele um autor quer duas coisas: continuar a escrever e ser lido. “Depois, o que virá, se vier, é bónus”, revela.

Com isto, José dos Remédios diz não está a pensar em nenhuma avaliação, embora saiba que isso é inevitável. “Espero é que o livro faça sentido a alguém que aprecia a literatura moçambicana”, é o seu maior desejo.

José dos Remédios nasceu a 1 de Agosto de 1987. Tem uma formação no ensino e uma licenciatura em Literatura Moçambicana. É jornalista e ensaísta. Possui inúmeros ensaios publicados na imprensa nacional e no Brasil. Como jornalista, escreveu vários guiões de vídeos em homenagem a personalidades como Marcelino dos Santos, Ungulani Ba Ka Khosa, Dom Dinis Sengulane, Mia Couto e Paulina Chiziane. Foi guionista, técnico de som e fotógrafo do documentário Maputo, a doropa.

O seu primeiro livro “O horizonte e a escrita” está disponível desde esta terça em todas capitais provinciais, bem como em Chókwè, Maxixe e Gondola. Nesta primeira fase o livro será encontrado nas livrarias, enquanto espera pelo seu lançamento oficial, logo que for possível realizar um evento público com segurança sanitária. Até porque “o lançamento é importante, mas é prescindível”.

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