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“O facto de recorrermos a árbitros estrangeiros é uma forma de proteger os nossos árbitros”

O presidente da Liga Moçambicana de Basquetebol, António Madeira, mostra-se satisfeito com o nível competitivo apresentado pelas equipas que disputaram  a Liga Mozal. Madeira diz ainda ser necessário um forte investimento na  formação de árbitros para elevar a qualidade destes. Entende o presidente da Liga Moçambicana de Basquetebol que a qualidade da arbitragem determina tambem a qualidade do campeonato.

Este ano, em temos daquilo que foram os moldes de disputa da Liga Moçambicana de Basquetebol Mozal, tivemos uma fase regular, na qual as equipas jogaram entre si num sistema de todos contra todos durante sete jornadas. Depois,  tivemos os “play-off” das meias-finais, a melhor de três, e  final a melhor de cinco jogos. Este é o modelo ideal ou o possível nesta altura?

Este não era o modelo inicialmente previsto e, os arranjos que foram feitos, não foram devido a componente financeira, mas devido a realização do Campeonato Africano sub-18 de femininos em Maputo. O modelo inicial previa dois grupos: um grupo em Maputo e  outro na Beira.  Depois, cruzamentos nas duas cidades. Era um modelo eventualmente menos oneroso que este porque foi idealizado dentro  daquilo que tem sido feito na cidade de Maputo para Beira. Portanto, o custo foi maior que o inicialmente previsto.

O facto da Liga Moçambicana de Basquetebol ter tido custos acrescidos não terá criado constrangimentos à agremiação, tendo em conta  toda uma logística relacionada com movimentação de equipas de Maputo para Beira e vice-versa, transporte e acomodação?

Efectivamente, criou alguns constrangimentos e as contas ficaram muito superiores àquelas que estavam previstas. Mas  esse é o risco que nós tínhamos que correr quando organizámos a Liga de Basquetebol Mozal e, isso, tinha que ser assumido.

Qual foi o défice da Liga Moçambicana de Basquetebol  durante o campeonato nacional?

Nós estamos a falar por aí  de cerca de  um milhão de meticais. Mas este  é um assunto que está assumido e vai ser resolvido.

Saindo dos números para o campo desportivo. Em  termos competitivos,  estao satisfeitos com nível apresentado  no campeonato nacional?

Eu acho que, em termos competitivos, esta prova tem estado a ganhar alguma  qualidade de ano para ano.  Acredito que a qualidade deste ano foi superior a do ano passado. Acredito também que  a do ano passado foi ainda superior a do ano anterior. Se reparamos,  neste momento não é tão directo dizer que só existem duas equipas que vão competir (Ferroviário de Maputo e da Beira) porque o Costa do Sol conseguiu fazer frente aos adversários. A A Politécnica também esteve bem, aliás,  terminou em terceiro lugar. Portanto, acho que houve mais competitividade e  os jogos tiveram  animação. Nos  três primeiros períodos, principalmente,  não se sabia bem o que ia acontecer. Houve uma outra luta renhida para ver quem ficava  na Liga e acabou ficando o Desportivo de Maputo em 5º lugar  em troca com o Maxaquene. No ano passado,  tinha sido o Desportivo de Maputo  a ficar fora. Pareceu-me um Ferroviário de Nacala, mais uma vez, com boas indicações. Acredito que Nampula está a fazer basquetebol. A cidade da Beira também tem estado a fazer. Estamos a falar de oito equipas em Nampula e sete na Beira. E é só uma questão de tempo e vai começar a sair qualidade.

Durante a prova, sobretudo na fase regular,  tivemos alguns resultados  disnivelados com algumas equipas a ganharem com facilidade, chegando a  “chapa 100”.  O que a Liga Moçambicana de Basquetebol pensa desta situação?

A questão de ganhar com 100 pontos não vai deixar de existir. Repare que, quando uma equipa considerada mais pequena, vai jogar com um Ferroviário de Maputo ou da Beira, a grande tendência é normalmente pouparem-se para o jogo seguinte, porque nota-se que os treinadores gerem o plantel.  A equipa que não conseguir gerir esforço dentro daqueles 18 ou 20 dias é a que  tem menos possibilidades de ganhar. Há muitas componentes que têm que ser geridas porque é uma prova curta e muita intensa.

“Falta trabalho e paixão”

O que é que está a faltar para que tenhamos essas seis ou sete equipas niveladas?

É uma opinião pessoal e não vou misturar a mesma com a de dirigente da Liga Moçambicana de Basquetebol.  É que, na minha opinião, está a faltar trabalho e paixão. São duas coisas que nos faltam muito. Custumo dizer se não quer apoiar, pelo menos não estraga. Mas acontece que nós temos tendência de estragar. Se fizermos  basquetebol  só pelos valores monetários que possa receber, não teremos  resultados. Nós não somos profissionais.

O que aconteceu, efectivamente, para se adiar o jogo um dos “play-offs” das meias-finais da Liga Moçambicana de Basquetebol Mozal? 

Normalmente, nos campos envernizados, temos resina. Colocou-se  muita água para limpar a poeira e, com a humidade da cassimba, que acabou entrando para o interior do pavilhão, o campo  ficou impraticável naquele primeiro dia. Espero que isto tenha servido de lição para quem gere o pavilhão do Ferroviário da Beira e  ao próprio clube.

Algumas partes chegaram a colocar a hipótese de se ter tratado de uma situação premeditada…

Vou explicar. Às 14h00, o delegado da Liga Moçambicana de Basquetebol  esteve no campo, portanto, as quatro equipas iriam jogar e todas podiam ter situações em que os seus jogadores poderiam ter quedas. Agora, se eu quiser trazer problemas, posso começar a pensar como o Aristides diz.

O jogo dois dos “play-offs”  da final  da Liga Moçambicana de Basquetebol Mozal  acabou sendo pela expulsão  do americano Angelo Warner. O que terá acontecido naquele lance com o  Orlando Novela, no entender da Liga?

Ele agrediu o adversário. O árbitro expulsou-lhe  de acordo  com o  regulamento de disciplina em vigor, que lhe dá direito de um a três jogos fora. Eu não posso tomar medidas que são  boas  para um e más  para os outros. O relatório do árbitro, que não foi o mesmo que expulsou o jogador do Vaz  Team e o relatório do árbitro que expulsou o jogador do Ferroviário da Beira, o Angelo Warner, são bem semelhantes. Exactamente,  a mesma situação:  agressão. Se a medida para o jogador do Vaz foi aquela, de um jogo de suspensão, então para o jogador do Ferroviário da Beira, também tinha que ser um jogo de suspensão. Se temos regras temos que seguir. Doa a quem doer. Foi cumprido o regulamento. Muita gente não concordou, acredito que sim. Se nós começarmos a criar regulamentos para cada jogo, não vamos chegar a lado nenhum. Se fosse o outro jogador a ser expulso teria o mesmo tratamento. Em edições anteriores, houve casos desses e tiveram o mesmo tratamento. Se fosse reincidente seriam dois jogos.

O Ferroviário da Beira recorreu ao júri de apelo  e a Liga Moçambicana de Basquetebol não deu provimento ao seu recurso…

Recorreu para o júri de apelo e com todas as dificuldades de comunicação que existiram reuniu-se e houve comunicação  via telefone. Não foi uma reunião física. Os membros do júri visionaram as imagens. Então, houve razão para se dar o jogo um jogo de  suspensão. Acho que a decisão foi bem tomada. Eu não posso olhar pela nacionalidade dele e muito menos  pela origem do clube.

“Falta um bocado de organização interna dentro da arbitragem”

A arbitragem é também das componentes a abordar. A Liga Moçambicana de Basquetebol está satisfeita com o nível da arbitragem que tivemos na edição 2017 -2018 da Liga Mozal?

Acho que, nesta edição, tivemos uma arbitragem bastante boa. Portanto, acima do suficiente. Foi boa tanto na fase regular como nas meias-finais e finais. Começámos com dois árbitros internacionais, incluindo Bandeira, que é único moçambicano e outro zimbabweano. Nas meias-finais, vieram mais dois árbitros, um zambiano e um angolano que depois foram fazer juntamente com Bandeira e António  Engles a fase final. A qualidade da arbitragem foi boa. Agora , se pergunta se estou satisfeito com a arbitragem no geral em Moçambique, diria que não. Não estou satisfeito. Também tens  que perguntar se estamos  a fazer alguma coisa? Sim, a Liga Moçambicana de Basquetebol  está a fazer alguma coisa para ver se mudamos o espectro da  arbitragem que existe. Falo do espectro, porque muitas vezes não temos más arbitragens, eventualmente tenhamos maus comportamentos. São influenciados muitas vezes pelos próprios jogdores, pelos treinadores e por algum público conhecido. Porque, quando estamos dentro do campo, vemos quem está a nos insultar e a tratar bem ou mal. Os árbitros deixam-se levar e mudam a forma de arbitrar ao longo do caminho. Não acredito que seja intencional, é que é tanta pressão e o árbitro é o elo mais fraco. É aquele que não tem formação, é sempre o culpado das derrotas e falta um bocado de organização interna dentro da arbitragem.    E, porque os árbitros não estão organizados, incluindo a mim, não estamos preparados para defender a classe. E todos actores do basquetebol aproveitam-se para tirar vantagem e têm conseguido. Temos que mudar muita coisa na arbitragem. Por exemplo, já houve duas mudanças de regras e nunca houve actualização. Nós estamos a arbitrar passos de acordo com a nova regra, mas há árbitros que não sabem.

Como inverter este cenário da arbitragem?

Temos que fazer cursos, formação e  actualizações. Não basta ter uma reunião á segunda-feira para inverter este cenário porque nem todos vão. É necessário que haja trabalho de campo.

Este ano, optou-se por alguns árbitros que vieram de fora. Porquê essa opção?

Incialmente,  a ideia era tentarmos ter um árbitro e juntarmos aos nossos árbitros. Só que, esta prova, concidiu com a realização do Campeonato Africano sub-18 em femininos, prova na qual o Artur Bandeira que é internacional esteve envolvido. Então,  veio um  árbitros do  Zimbabwe que estava mais próximo  da Beira. Nos jogos fortes da cidade de Maputo, onde a luta é grande e não há único jogo da cidade de Maputo que não se sai sem polémica, não queria imaginar uma meia-final e final da Liga Mozal com polémica de arbitragem. O facto de termos árbitros estrangeiros é uma forma de também proteger os nossos árbitros. 

      

 

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