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O escritor precisa de gerar renda? Editores apontam soluções para o livro no país

Os editores Jessemusse Cacinda, da Ethale Publishing, e Sandra Tamele, da Trinta Zero Nove, vêem como solução para os problemas relacionados com o mercado editorial moçambicano a aquisição do livro pelo Estado, pelos intelectuais e pela sociedade em geral. Nesse sentido, segundo defenderam na feira virtual da Fundza, é urgente que os leitores compreendam que os autores, os tradutores, os editores, os livreiros e etc., precisam que o livro venda para que possam pagar contas diárias.

 

Já se disse de várias formas que o negócio do livro não é lucrativo no país de Noronha, Craveirinha, Knopfli e Noémia de Sousa. Para as editoras moçambicanas, é sempre um grande desafio editar livros sem patrocínio num contexto em que o nível de cultura de compra é demasiado baixo. Convidados a desenvolver uma conversa sobre o tema “Mercado editorial em Moçambique: problemas e soluções”, Jessemusse Cacinda e Sandra Tamele apontaram alguns caminhos, que, se forem seguidos, podem alimentar a esperança de dias melhores.

Na feira do livro virtual realizada pela Fundza, os editores reafirmaram que o sucesso da literatura moçambicana depende da disponibilização de mais livros aos leitores. “Eu penso que cada leitor e a sociedade civil têm aqui um papel muito maior a desempenhar do que o Estado. Claro que não podemos perder de vista que, por exemplo, se o Ministério da Educação resolver criar um fundo que vai implicar a compra dos livros das editoras independentes e colocar em todas as bibliotecas escolares estará a dar um apoio enorme”. Entretanto, para Sandra Tamele, essa abertura só poderá acontecer se o país aprender a considerar que os escritores, os poetas e todos os intervenientes do mercado editorial precisam de gerar renda para superarem as contas diárias.

Mesmo reconhecendo a importância do Estado na promoção do livro, Jessemusse Cacinda perdeu todas as ilusões em relação a esse tema. Aliás, o editor lembrou que a Ethale Publishing nunca teve um apoio de Moçambique através, por exemplo, de um fundo de cultura ou de outro que vise apoiar o negócio do livro. Por consequência disso, desabafou: “o nosso principal objectivo, o nosso principal sonho, está sendo frustrado, porque nós precisamos de ter leitores. Sem leitores, nada do que estamos a fazer aqui vai funcionar, ou seja, vamos ser editoras hoje, que estão a fazer história, mas daqui a três anos não teremos como continuar”.

Na sua intervenção, Cacinda lembrou que Moçambique possui aproximadamente 50 instituições do ensino superior.  Considerando que uma universidade pública pode possuir 500 professores, o sonho da Ethale Publishing passa por esgotar quinhentas cópias de livros. Foi a essa altura que, aproveitando a deixa de Cacinda, Sandra Tamele reforçou que Moçambique tem  intelectuais e pensadores que não apoiam as editoras com compra de livros de autores nacionais.

A conversa entre Jessemusse Cacinda e Sandra Tamele, na feira do livro virtual da Fundza, semana passada, foi moderada por Faura Amisse.

 

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