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O congresso de sobrevivência do MDM

Nunca o Movimento Democrático de Moçambique (MDM) reuniu a sua cúpula, perante tamanhos e complexos desafios como os que têm de resolver hoje, para que se mantenha como um importante actor na esfera política em Moçambique.

O II Congresso do MDM é um momento decisivo, se colocarmos em consideração as guerras internas de poder, amplificadas agora em Nampula, a gestão centralizada a partir da Beira, a falta de combatividade própria da oposição, as próximas eleições, e, principalmente, o facto do partido ainda não ter atingido aquilo a que se propôs: ser uma alternativa à Frelimo e à Renamo.

Nas eleições presidenciais de 2014, o presidente do MDM, Daviz Simango, teve um resultado abaixo do pleito anterior. Em 2009, Daviz Simango obteve 8.59% dos votos totais, contra 6.36% de 2014, representando uma erosão de mais ou menos 30 mil eleitores. Cresceu, nessa altura, a ideia de que o avanço do MDM é explicado pelos momentos mortos da Renamo.

O recuo do líder da terceira maior força política também pode encontrar explicação na hipótese de que o seu discurso e a linha programática do MDM não sejam suficientemente diferenciadores, não tenham marca própria, não galvanizem nem mobilizem os eleitores a optarem por tal escolha.

A demissão, em 2011, de uma ala académica e ideológica do partido, em particular o seu secretário-geral, Ismael Mussá, e o chefe de departamento de Planificação e Estratégias, João Colaço, associada as acusações de ditadura, nepotismo e ilegalidades, afectaram a percepção de que o MDM é um movimento aglutinador do pensamento divergente e de pessoas provenientes dos diferentes sectores da sociedade.

O afastamento de Mahumudo Amurane, seguido do seu recente assassinato, bem como as telenovelas gratuitas dos edis interinos, mais do que um problema circunscrito a representação do MDM em Nampula, passou a afectar o partido no seu todo, mostrando a falta de métodos para gestão de crise e vaidades pessoais.

Um partido que quer ser governo não pode desobedecer duas vezes consecutivas, qual curto espaço de tempo, instituições estabelecidas, como o fizeram os edis interinos do MDM em relação à decisão do Tribunal Administrativo de que não deveriam exonerar vereadores.

Os estilhaços da tensão na capital do norte podem, assim, influenciar nos resultados nacionais do MDM – eleições gerais –, na medida em que levantam questões sobre os critérios de selecção dos membros, qualidade dos quadros escolhidos para funções importantes, democracia interna e papel dos órgãos de disciplina.

O primeiro grande teste serão as eleições intercalares de 24 de Janeiro, onde o MDM avança fragilizado, num quadro em que a Frelimo e a Renamo vão jogar o tudo ou nada para conquistar o poder.

Um partido novo, que emerge em democracia e que pretende ser alternativa de oposição e governação, tem de fazer um caminho menos sinuoso e, acima de tudo, servir de referência e exemplo, tentando ser melhor que os seus rivais.

Os partidos políticos, pela sua natureza, têm dinâmicas próprias de luta e acesso às funções de poder, mas devem geri-las com métodos subtis sem passar, cá para fora, a imagem de que a ambição de grupos é mais importante que a visão colectiva.

O II Congresso do MDM é uma oportunidade de instrospecção, de questionamento, de discussão da vida interna, que pode reforçar a coesão e recuperar o eleitorado desiludido, sem perder de vista os ciclos eleitorais à porta.

 

 

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