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O cinema deve ajudar a solucionar a crise climática – Ronny Fritsche

Durante os primeiros anos a seguir a independência nacional, no país, levou-se muito em consideração a ideia de que o cinema é o reflexo dos povos, instrumento de aproximação e conexão.

Como que a ter em conta este raciocínio, os suecos organizam a 42ª edição do Göteborg Film Festival, evento que exibe 450 filmes de 83 países e que movimenta cerca de 160 mil pessoas de todo o mundo, incluindo Moçambique.

Uma dessas pessoas que participa da edição 2019 da iniciativa sueca é Ronny Fritsche, cujos créditos residem no facto de ter sido distinguido com “Sustainable Production Champion Award”, o mesmo que Prémio Excelência em Produção Sustentável, pela Vancounver International Film de Canadá.

Para aquele Produtor da Zentropa Sweden, é cada vez mais necessário que o cinema exerça o seu papel na questão da consciencialização ambiental de forma clara e inequívoca, de modo que os filmes ajudem a solucionar a crise climática que afecta a humanidade.  

Segundo a percepção de Fritsche, quando a indústria cinematográfica conta histórias tratando de questões ambientais, trata principalmente de filmes sobre desastres, apocalipse ou pós-apocalipse, muitos deles ambientados num mundo de ficção científica.

No entanto, avança, essa não é a melhor maneira de comunicar o desafio climático ao público, pois o desastre é apresentado como algo improvável, algo que apenas é possível ser observado no cinema e não na realidade, daí os filmes com cariz ambiental não tornarem, muitas vezes, a humanidade responsável pelo desastre reportado.

Num contexto em que a humanidade está a enfrentar grandes alterações climáticas, Ronny Fritsche entende que os padrões de vida e comportamentos culturais de mais de 7,5 bilhões de pessoas precisam mudar. “É um grande desafio de comunicação e eu acho que precisamos dos filmes para gerenciar isso.

Eu dificilmente acho que a política e a pesquisa sozinhas farão o trabalho! Eu acho que o filme hoje é uma oportunidade não utilizada para ajudar a resolver a crise climática.

Com as histórias, podemos afectar o nosso futuro. O poder mágico do filme de usar sentimentos para afectar o coração das pessoas é muito mais forte do que os números e estatísticas da pesquisa”, afirmou o produtor acrescentando que com os filmes, os artistas têm a oportunidade de atingir milhões de pessoas ao mesmo tempo.

E porque o planeta precisa de ser respeitado e acarinhado, o desenvolvimento sustentável em consideração a área ambiental é urgente para a sociedade e também para a indústria cinematográfica.

Por isso, Fritsche sugere que se inicie o desenvolvimento sustentável da produção cinematográfica já. E informa: “Caso você ainda não tenha reflectido sobre como nossa indústria realmente coloca ênfase no planeta, posso dizer que quase todas as acções no processo de filme têm uma consequência de carbono.

Ao produzir filmes, fazemos o mesmo que os indivíduos privados, mas fazemos mais intensamente.

 Nós consumimos, comemos alimentos, viajamos, usamos energia, queimamos combustíveis fósseis e produzimos resíduos.

A pergunta mais comum que eu recebo quando digo que trabalho com filmes verdes é: ‘Qual é a coisa menos amigável ambientalmente para o cinema?’ E isso depende de qual filme, mas a resposta mais plausível é viagem aérea e transporte”.

Dito isto, o produtor defende que a produção cinematográfica é provavelmente a forma de cultura ambientalmente mais stressante que é feita.

Para sustentar a sua posição cita o estudo realizado em 2006, pela UCLA, o qual descobriu que o sector de entretenimento é o segundo maior poluidor em Los Angeles (LA), atrás da indústria do petróleo.

“O acto de filmar coloca pressão no meio ambiente, por isso é importante começar a trabalhar com métodos mais ecologicamente correctos agora, para que um dia possamos produzir nossos filmes sem stressar o planeta”.

Mesmo sem ter uma fama ao nível dos Estados Unidos ou Bélgica, a Suécia é um bom país para se escolher uma produção cinematográfica ecologicamente correcta.
Tal ocorre porque o país tem um sistema muito bem desenvolvido para resíduos, boas fontes de energia e o impacto da produção de alimentos é baixo.

Mas e o que é necessário para que a indústria cinematográfica se torne mais sustentável?

“Precisamos de líderes e financiadores que assumam a responsabilidade e sejam dedicados ao meio ambiente.Todo mundo precisa de um chefe que diga quais políticas devemos seguir. Uma equipe de filmagem precisa de um produtor que administre o trabalho ambiental, e um produtor, por sua vez, precisa de demandas impostas a eles. Essas demandas devem vir dos financistas do filme, dos fundos do filme e dos institutos”.

Ronny Fritsche é produtor sueco e tem desenvolvido relatórios sobre cinema e apresentando palestras em festivais como de Cannes, de Tromsø e Gotemburgo.

A sua produção mais recente é “Wasted”, feita com uma grande consciência ambiental. Em outubro do ano passado foi premiado com o “Sustainable Production Champion Award” no Vancouver International Film Festival pelo seu trabalho.

 

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