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Novos recintos desportivos no cume das prioridades

Das decisões do último Conselho Coordenador do Ministério da Juventude e Desportos, ressalta a imperiosidade de se construir no próximo quinquénio um conjunto de novos recintos desportivos. O MJD projectou e oxalá consiga cumprir. O país só tem que agradecer.

É a realidade. O “sumiço” de vários campos e espaços para se praticar desporto, algo que dá saúde, prestígio e dinheiro é, sem dúvida, o principal “culpado” do nosso retrocesso, facilmente atestado através da vertiginosa queda das principais modalidades nos “rankings”.

 

FORMAÇÃO:
PRIORIDADE SEM CAMPOS?

A venda desordenada dos terrenos, sobretudo nas cidades, com conivência de alguns agentes desportivos ou não, deu no que deu. Por outro lado, a luta pela sobrevivência das populações carenciadas, razão do surgimento dos “dumba-nengues” onde se jogava à bola, fechou a principal “universidade” que forjava as estrelas e que eram os terrenos baldios.

Como vencer esta limitante, uma vez que se afigura impensável demolir prédios para “devolver” os espaços onde se fazia formação, recreação e desporto federado?

As saídas não são fáceis e quanto mais tempo passar, maior será a “invasão” relativamente ao que resistiu, uma vez que a apetência é grande e o controlo reduzido.

 

MÃO DURA NO QUE SOBROU

Espectáculos musicais, igrejas, reuniões e até convívios, têm como palco privilegiado os recintos desportivos, cobertos ou descobertos. São as colectividades, de uma forma geral descapitalizadas, que buscam essas alternativas, para se aliviarem do sufoco em que vivem. Assim sendo, bastas vezes isso resulta no adiamento, transferência ou mesmo cancelamento de treinos e jogos. E se é normal adiar treinos dos seniores, imagine-se quanto se trata das camadas jovens…

A essa “saga”, não escapam os poucos pavilhões cobertos ou descobertos. Isso quer dizer que mesmo sendo poucos os lugares que resistiram à voracidade do cimento, eles têm um índice de utilização reduzido.

 

MAPUTO COMO (MAU) EXEMPLO

Em Maputo, a sangria foi imensa. Mesmo assim, alguns dos raros clubes com património na zona urbana, ainda os vão ‘alienando’, prometendo à sociedade a construção de novos recintos fora da cidade.
Desportivo, Maxaquene e Estrela Vermelha, são os mais mediáticos. Porém, apesar das parangonas dos novos complexos em lugares pouco acessíveis devido à distância, vão-se ficando pelos anúncios das intenções….

No topo dos “sumiços”, provavelmente motivo para uma investigação séria, está o super-mediatizado Complexo Olímpico, construído em Boane, que não passou da inauguração, com pompa e circunstância há mais de uma década!

Para ficarmos com uma ideia, aí vai um ponto de situação desta triste realidade:

 

Ferroviário

É das poucas colectividades que mantêm o seu parque desportivo quase intacto, com manutenção aceitável, da piscina aos dois (bons) campos de futebol: o das Mahotas e o da Machava. Mas o primeiro, mais acessível aos citadinos, volta e meia é priorizado para “shows” musicais, significando impedimento nos dias da montagem do palco, realização dos espectáculos e remoção dos resíduos sólidos.
O clube tem um recinto polivalente onde se treina basquetebol, hóquei e futebol de salão.

 

Desportivo

Está a “renascer das cinzas” e parece que de uma forma consistente. Porém, o histórico Estádio Paulino dos Santos Gil… já era!
A alternativa de Marracuene que nunca avançou, não parece viável pela distância e trânsito infernal que o separa da capital.

Alugar um campo para treinos e jogos, mais os campinhos junto à sede, tem sido a forma de “desenrascar” desta que é uma das mais emblemáticas colectividades nacionais.

 

Maxaquene

Um processo de venda inconclusivo com a empresa Afrin, colocou este clube na situação de ter um campo, que agora não é nem carne e nem peixe. Serve para treinos, pois os jogos da equipa principal são no campo da Afrin. No recinto da baixa, volta e meia há um palco montado e música para todos gostos!

Felizmente o Pavilhão Multiuso, sala de visitas para os desportos de salão, continua em bom estado e talvez por isso seja “catedral” para muitos eventos religiosos e/ou culturais.

 

Costa do Sol

Perdeu as instalações do SNECI, não se sabe bem porquê, dirigindo tudo para a zona denominada Matchiki-tchiki. Realizou por lá uma requalificação que fez reduzir o espaço do complexo destinado à diversão, mais o campo de treinos e áreas adjacentes. Salvou-se o Estádio principal. Pela grandeza do clube, deverão ser equacionados espaços para aumento da polivalência.

 

Liga Desportiva de Maputo

Uma excepção, de saudar, em que tudo foi criado de raiz. Estamos em presença de uma colectividade que, mercê das capacidades financeiras e entrega dos seus apoiantes, vai crescendo a olhos vistos também no tocante a instalações. Possui uma sede na Matola, mais um campo bem tratado e com anexos. Ao que tudo indica, os projectos não se vão ficar por aqui.

 

1.º de Maio

Beneficiando do patrocínio de um banco da praça, realizou uma reabilitação do seu campo de futebol digna de registo, passando a ser utilizado por uma escola de formação, a partir de um acordo com a FMF. Mas foi “sol de pouca dura”. Pela localização deste recinto, a movimentação de jovens deveria ser bem maior.

Neste momento, uma parte das instalações, agora degradadas, está entregue a uma igreja. O clube mantêm uma sede na Avenida Emília Daússe, que exige uma maior atenção. De Direcção em Direcção, o panorama do clube que era um dos ícones no país, é confrangedor.

 

Estrela Vermelha

Resultante da fusão Indo Português/Malhangalene, o Estrela ‘herdou´ e mantêm dois campos de futebol, mais dois recintos polivalentes. Para o campo anexo ao Pavilhão coberto, havia (ou há) um projecto que pretende amputar uma parte do espaço, já por si exíguo para um campo de futebol. Não é uma boa notícia para os desportistas.
Também este clube possui um projecto fora da periferia da cidade, mas até esta altura, não dá sinais de concretização no imediato.

 

Académica

Tem instalações no campus universitário, com um parque de fazer inveja aos ditos grandes clubes do País. Porém, talvez pela essência, a colectividade prefere sempre caminhar passo-a-passo, consolidando cada realização. O Pavilhão foi requalificado, há campos anexos.

Pela natureza dos seus praticantes, os estudantes e face à realidade do país, ao contrário dos outros clubes, o “néon” Moçambola não é prioridade absoluta.

 

Mahafil Isslamo

É dos poucos clubes na periferia que mantêm a sede e o campo de futebol, este um pouco amputado junto à estrada Irmãos Roby para dar lugar a uma bomba de gasolina. De resto parece manter alguma pujança, embora o nível competitivo da sua representação desportiva mereça mais, pela história que o clube transporta. Um exemplo de persistência.

 

INSTALAÇÕES QUE “ECLIPSARAM”

Com a proclamação da Independência Nacional, entraram em cena novas colectividades como Matchedje, Migração, Águias Especiais, Conseng, entre outros, agravando o drama da exiguidade de instalações.

Em contra-ponto, outros fecharam as portas. São os casos do  Central, que tinha uma sede junto ao Ministério do Interior, movimentando futebol na II Divisão. Deste clube já não reza a história.

O mesmo se passou com o Alto Maé, que também possuía uma sede no bairro que lhe deu o nome. Ambos deixaram de existir, tal como o Atlético Nacional (a sede existe, mas está abandonada), Belenenses, Beira- Mar, Rodoviário, Vasco da Gama, Aeroporto, Caju Industrial, Metal Box, Alumínios, Atlético Mahometano, S. José, Nova Aliança, Gazense, Águia D´Ouro, Inhambanense, Nacional Africano, João Albasini, IMA, Texlom, Zixaxa e muitos outros…

Se tivermos em conta que estes clubes, mesmo na II ou III divisão movimentavam juvenis e juniores, nalguns casos até reservas, facilmente se pode calcular as razões pelas quais o campo de recrutamento se reduziu drasticamente. Será por isso que os principais clubes em actividade têm reduzido campo de recrutamento no mercado interno, recorrendo aos países vizinhos, de onde vêm, muitas vezes jogadores caros, mas de qualidade duvidosa.

 

LUZ À NOITE SÓ PARA “SHOWS”

Antigamente os treinos, pelo puro amadorismo que se vivia, eram realizados depois das horas de expediente, com ajuda da luz artificial.

Na baixa da capital, nos campos do Desportivo, Maxaquene e Ferroviário, não havia mãos a medir. Em redor daqueles recintos e como importante local de apoio para desintoxicação dos atletas, havia todo o pulmão verde da zona do Circuito Repinga e arredores, mais as barreiras, hoje ocupados pelo cimento que a todos nós asfixia.

Também desapareceram vários campos na periferia, como o da Habitação, Metal Box, Alumínio, IMA, Texlom, Cimentos, Quinta das Rosas e outros.

Iluminação artificial, devido aos custos, não está nesta altura no horizonte dos treinos e mesmo jogos de futebol. Ela aparece, bastas vezes, mas para “shows” musicais.

Os recém-construídos estádios do Zimpeto, mais o Chivevezito, são marcos dignos de registo, que nos orgulham pelo seu simbolismo. Porém, são insuficientes para enquadrar uma considerável percentagem de jovens, de forma a (cor)responder ao repetido “slogan” da prioridade para a formação!

 

 

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