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No ritmo + Eu de Assa Matusse

A terra guarda a raiz da gente. Mas a mulher é a raiz da terra.

Mia Couto

 

 

Caramba! 28 minutos atrasados. Mas chegamos, ansiosos e motivados, afinal no palco do Franco-Moçambicano estava, quinta à noite, uma bela mulher: Assa Matusse, essa raiz da terra que também é som, sonho e vibração.

À nossa chegada, “a menina do bairro” cantava a música “Estranho” para uma audiência que encheu a Sala Grande, ao estilo afro/jazz, grandiosa trajada de um vestido preto com uma racha à esquerda como protagonista. Assa estava na sua melhor noite, gira, álacre e cativante, divertindo-se no seu espectáculo até à exaustão. E ela não é egoísta, então para gozar aquele momento em que o + e o Eu misturam-se como que mecanicamente, convidou a amiga Duduzile Makhoba para juntas interpretarem “Estranho”. Então a sul-africana apresentou-se no palco entre aplausos expectantes. A intombazane não envergonhou no dueto e nem quando actuou sozinha. Entretanto o espectáculo era de Assa. Por isso, minutos depois de se ter recolhido para os bastidores, onde foi trocar aquele vestido matreiro, culpado por eventuais distrações masculinas, voltou ao palco e continuou a proporcionar ao auditório momentos de boa música.

– A Assa Matusse está muito madura! Aquiescemos, quando Leonel Matusse, um bom amigo, finalmente rompeu o seu silêncio para se render ao talento em forma de mulher. E, de facto, o jornalista do Notícias estava certo. Durante o concerto, Assa provou estar preparada para aquele tipo de eventos. Sempre afinada, desinibida e envolvente, a artista mostrou que quando tudo é bem feito pode não haver diferença entre um álbum e o show ao vivo. Fez sentido ter cantado “Fenomenal woman”, pois é isso o que está a tornar-se ao levar para a música a sua feminilidade acompanhada de um acentuado poder de observação. Está aqui uma explicação para a cantora ter recriado “Nitxitxile” e inserido no seu álbum de estreia. A interpretação dessa música foi feita com paixão, lembrando-nos do que a xenofobia tem feito dos moçambicanos na África do Sul. Ainda bem que a cantora sabe separar as coisas, daí ter chamado Duduzile.

“Menina do bairro”. Assa também cantou essa música, um exemplo de quem reivindica a origem, a infância, os sonhos puros dessa fase e essa disposição de ir à ribalta para dar atenção ao seu tão amado Mavalane. Acompanhada da sua banda, a cantora contou essa história sobre ser em função das circunstâncias.

Ao som de Assa, o tempo passou rápido no Franco. E foi supersónico quando Mingas deixou o assento de onde viu quase todo o concerto, ali bem perto dos holofotes, para cantar com a autora de + Eu. Com Mingas no palco, o espectáculo ganhou um contorno mais electrizante. Ambas cantaram “Xihono” e “Ndzumba”. E lá os telemóveis saíram dos bolsos para registarem em vídeo épocas diferentes personificadas na qualidade vocal de duas mulheres.

A propósito de mulheres, Assa homenageou todas aquelas que, sendo raízes da terra, fazem por merecer, ao cantar “Carinho de mãe”. Apenas um reparo, talvez os cantores, durante os espectáculos, devessem parar de falar ao fim de cada música que cantam. É desnecessário. Muitas vezes, Assa caiu nessa tendência aborrecida de explicar, justificar ou mesmo cumprimentar pessoas queridas. É dispensável.

Seja como for, a algumas horas do Dia da Paz, a “menina do bairro” conseguiu realizar um concerto equilibrado, à altura do seu primeiro disco, e, a partir daí, desejando ou não, refrescar-nos o espírito para o que aí vem a seguir.   

 

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