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Ndambi diz que não fez chegar documentos ao pai e que a PGR persegue a sua família

Foto: O País

Armando Ndambi Guebuza disse ao Tribunal, ontem, segunda-feira, que não recebeu brochuras do amigo Bruno Langa, referentes ao projecto de Protecção da Zona Económica Exclusiva, e que não fez chegar qualquer documento por si entregue ao seu pai, quando era Presidente da República. Segundo o réu, o Ministério Público é mentiroso e a Procuradoria-Geral da República é a máquina utilizada para perseguir a sua família.

A segunda semana do julgamento do caso das dívidas ocultas arrancou com audiência a Armando Ndambi Guebuza. Na tarde desta segunda-feira, o réu respondeu, como é óbvio, a várias perguntas colocadas pelo juiz Efigénio Baptista e pela Procuradora Ana Sheila Marrengula. Durante o seu depoimento, Armando Ndambi Guebuza afirmou que não fez solicitação de cobrança, nem fez chegar documentos entregues por Bruno Langa, sobre o projecto de Protecção da Zona Económica Exclusiva, ao seu pai, na altura Presidente da República. Segundo sustentou, o Presidente da República tem canais próprios, quando se trata de receber documentos, e não é o filho que cumpre essa função.

Confrontado pela Procuradora Ana Sheila Marrengula, Armando Ndambi Guebuza disse que o Ministério Público é mentiroso e que a Procuradoria-Geral da República persegue a sua família. “A PGR foi a máquina usada para me perseguir”. Continuou: “A PGR sempre inventou desculpas para me manter preso”. Dito isto, o réu reforçou que a sua prisão foi utilizada como perseguição política, para chantagear o pai: Armando Emílio Guebuza.

Entre advertências do Ministério Público em relação a uma eventual falta de respeito por parte do réu e protestos da Defesa, Ndambi Guebuza respondeu que, em 2012, viajou a Abu Dhabi à procura de oportunidades de negócio. No entanto, não sabe dizer com que propósito o amigo Bruno Langa e Teófilo Nhangumele viajaram. O réu confirmou a sua parceria com Jean Boustani, a título individual e não em representação do grupo Previnvest. Ainda assim, não quis falar dessa parceria. Ndambi Guebuza recusou que tenha viajado para receber qualquer adiantamento conforme a acusação do Ministério Público. E mais, confirmou que é amigo de Bruno Langa, mas recusou que tenha relação com António Carlos do Rosário.

Em audiência, Armando Ndambi Guebuza confirmou ainda que, em 2011, viajou à Alemanha apenas com Bruno Langa, e não com António Carlos do Rosário e Teófilo Nhangumele, segundo a acusação.

Sobre as informações pormenorizadas em relação às viagens realizadas à Alemanha ou Abu Dhabi, o réu respondeu que toda e qualquer viagem dos filhos do Presidente da República de Moçambique segue um protocolo, daí ignorar muitas questões pontuais a si colocadas.

Ndambi Guebuza confirmou que possui uma conta bancária em Abu Dhabi. Quando confrontado pela Procuradora Ana Sheila Marrengula, por ter dado uma resposta diferente à PGR, o réu sublinhou que a pergunta não foi feita da mesma maneira como o juiz Efigénio Baptista fez. Ou seja, na PGR, Ndambi disse que, há dois anos, a PGR quis saber se teria aberto uma conta bancária, em Abu Dhabi, para receber dinheiro de subornos, pelo que disse não.

Armando Ndambi Guebuza é acusado de crimes de falsificação de documentos, corrupção passiva, abuso de confiança e associação para delinquir.

SOBRE RECEBIMENTO DE DINHEIRO

Na audiência desta segunda-feira, na Cadeia de Máxima Segurança da Machava, província de Maputo, Armando Ndambi Guebuza negou ter recebido dinheiro das dívidas ocultas. Entretanto, confrontado com comprovativos de transferência de valores, o réu alegou que a Privinvest lhe pagou dinheiro no âmbito de parcerias com Jean Boustani, em outros negócios.

Ao longo de aproximadamente 10 horas de audiência, o Juiz Efigénio Baptista citou mensagens enviadas ao correio-electrónico de Armando Ndambi Guebuza, mas o filho do antigo Presidente da República recusou a recepção. E não só, Ndambi Guebuza também negou que recebeu a quantia de 14 milhões de dólares, que conhece Batsetsane Thlokoane e esclareceu que não tem conta bancária no Líbano. Mesmo confrontado com documentos por si assinados, Armando Ndambi Guebuza disse que são falsos, reiterando que não recebeu qualquer valor e que, hoje em dia, se podem falsificar assinaturas.

Embora os dados da empresa Privinvest apontem Armando Ndambi Guebuza como trabalhador, inclusive no documento exibido pelo Juiz da causa,  vem que é mecânico hidráulico, o réu nega ter trabalhado para a empresa em alusão. No entanto, fazia viagens pagas pela empresa Privinvest, segundo disse, na qualidade de parceiro. O réu disse que não há problema nenhum nisso, que a Privinvest tem custeado despesas de viagens aos seus parceiros.

Quando, a certa altura da audiência, a Procuradora Ana Sheila Marrengula disse que Armando Ndambi Guebuza estava a faltar com a verdade, o réu e o seu advogado Isálcio Mahanjane protestaram. Mahanjane ainda disse que a Procuradora estava a colocar perguntas sugestivas e Ndambi Guebuza rematou que o Ministério Público é mentiroso, que desde a sua prisão tem agido com parcialidade. Inclusive, afirmou que o Ministério Público “vazou” informação publicada na imprensa, denegrindo a sua imagem sem respeitar a presunção de inocência.

A sessão desta segunda-feira, entre o réu Armando Ndambi Guebuza e a Procuradora Ana Sheila Marrengula foi tensa. Por isso, várias vezes, a Procuradora deu “ponto de ordem”, exigindo respeito do réu, porque está a exercer uma função em representação do Estado moçambicano. A Procuradora Ana Sheila Marrengula impediu o réu de colocar perguntas, pois, na qualidade de réu, a sua função é responder às questões em tribunal e não colocar. O Juiz Efigénio Baptista acalmou as emoções, mas Ndambi Guebuza também manifestou que se sentia desrespeitado pelo Ministério Público, no caso, na pessoa da Procuradora Ana Sheila Marrengula.

A sexta sessão do julgamento do caso das dívidas ocultas contou com a presença do antigo Presidente da República, Armando Emílio Guebuza, que não falou à imprensa. No tribunal montado na Cadeia de Máxima Segurança da Machava, a audiência iniciou por volta das 10 horas, portanto, com uma hora de atraso, e prolongou-se até depois das 20 horas. Esta terça-feira, os trabalhos prosseguem a partir das 9 horas, com a presença de Armando Ndambi Guebuza no tribunal.

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