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“Não coloco de lado a possibilidade de jogar na WNBA”

Quatro títulos conquistados na Taça dos Clubes Campeões Africanos ao serviço do 1º de Agosto, Desportivo e extinta equipa da Liga Desportiva de Maputo e actuações brilhantes nos Campeonatos Africanos, onde várias vezes foi indicada como uma das cinco melhores jogadoras, colocaram Leia Dongue na rota das melhores ligas do Mundo.

A poste, que em 2014 foi considerada uma das melhores jogadoras da primeira fase do Campeonato do Mundo de basquetebol, na Turquia, assinou contrato com a Regeracom Sports, agência responsável por jogadoras que evoluem nos EUA e principais ligas da Europa.

Actualmente a evoluir no Gernika da Espanha, onde obteve médias de 11 pontos e 4.9 ressaltos em 19 minutos, Dongue sente-se realizada ao evoluir numa das melhores ligas do mundo. E não fecha as portas à atractiva WNBA.

Leia Dongue assinou, recentemente, contrato com a Regeneracom Sports, agência de jogadores com penetração nos mercados europeu e dos EUA. Detida pelo espanhol Lluis Túnez e certificada pela FIBA e WNBA, a Regeneracom Sports agencia atletas como Italee Lucas, base americana naturalizada angolana e que actualmente evoluiu no DK Gipuzkoa da Liga Espanhola, bem como as malianas Minata Keita e Mariam Coulibally. O que representa, em termos profissionais, este contrato?

Este contrato é reconhecimento de um trabalho que venho desenvolvendo já há muito tempo. Dizer que eu já era agenciada por uma outra empresa representante de jogadores internacionais, mas não era do nível da Regenera tanto que a informação desta agência teve a repercussão que teve. Com isto, quero dizer que estou com mais probabilidades de ter as portas abertas em relação a vários mercados internacionais.

Com este contrato, podemos afirmar que a Leia Dongue está próxima de jogar na WNBA ou a preferência recai sobre o basquetebol europeu?

Um dos meus maiores sonhos, e nunca escondi isso, era evoluir em grandes ligas. Graças a Deus estou numa das melhores ligas do mundo que é da Espanha. Mas não abro a excepção de chegar a WNBA. Com a assinatura deste contrato com uma agência que tem facilidades no mercado americano, não diria meu caminho andado, mas se houver esta possibilidade já está praticamente encaminhada. É uma mais-valia e não coloco de lado a possibilidade de estar na WNBA.

Em termos profissionais, quais os passos a serem seguidos para quem estiver interessado nos seus préstimos, tendo em conta a nova realidade contratual? O que este contrato muda em termos de procedimentos?

A anterior agência, os procedimentos eram os mesmos. Mas, por ser uma agência muito grande, teve a repercussão de que teve. Se, por exemplo, um clube quiser me contratar pode entrar em contacto comigo ou directamente com a agência e tudo é tratado com a empresa. Então, não estou autorizada a dar informação, por exemplo, discutir propostas, etc. Tudo é tratado pela agência e esta entra em contacto comigo e tomamos uma decisão.

Em Janeiro deste ano, 2018, Leia Dongue assinou contrato com o Gernika da Espanha e obteve médias de 11.4 pontos e 4.9 ressaltos em 19 minutos por jogo. Destacou-se nos jogos com o Sedis (22 pontos em 25 minutos), Girona (21 pontos em 26 minutos) e Ferrol (20 pontos e 10 ressaltos). Está satisfeita com estes “targets”?

Ainda não, mas consigo encontrar uma razão para isso. Quando a atleta chega no meio da época, que é o que aconteceu comigo, eu cheguei no período de inverno e só consegui apanhar a segunda volta do campeonato. Não é a mesma coisa quando a atleta chega no início da época pois os processos já estão mais entrosados. Portanto, para o atleta se integrar, não é com tanta facilidade. Tive um bocado de dificuldades, aliás, dificuldades até não mas desvantagem em relação a outras jogadoras. Mas sempre que podia e que era solicitada, dava o meu melhor para ajudar a equipa. Quanto aos números, dizer que foram nas jornadas do fim da segunda volta. As primeiras jornadas, que foi a altura em que cheguei à Espanha, em Janeiro, fui oscilando entre 10 e 15 minutos e fui conquistado a confiança dos treinadores para que tivesse mais minutos.

Foi fácil para uma jogadora africana impor-se numa das maiores ligas de basquetebol do mundo?

Isto tem a ver também com a formação que eu tive no Desportivo de Maputo e Liga Muçulmana. O que se treinava no Desportivo e Liga Muçulmana é similar ao que se treina na Europa. Então, não tive muitas dificuldades para perceber certas linguagens desportivas. Isso, de um lado, facilitou a minha integração o que não é fácil para certas jogadoras que vem de África.

Há dois anos, Leia Dongue disputou a segunda divisão na Espanha tendo arrancado médias de 17,2 pontos e 7.9 ressaltos ao serviço do Al Qazers. Foi decisiva com 25 pontos e 10 ressaltos no decisivo jogo que apurou a sua equipa para a primeira Liga. Que diferenças nota entre a primeira e segunda aventuras no basquetebol europeu?

Eu acho que a segunda Liga, não que seja fácil, eu olhei para mim como uma preparação daquilo que iria encontrar na Liga 1. Eu creio que se não tivesse passado pela Liga 2 acho que teria encontrado um pouco mais de dificuldades agora que fui para a Liga 1 em termos de adaptação. Repito, não que a Liga 2 seja totalmente fácil mas a Liga 1 tem maior exigência pois as melhores jogadoras do mundo evoluem nesta proava. O nível de exigência é maior em relação a Liga 2.

Em 2017, em Angola, foi campeã africana de clubes e indicada para o cinco ideal da Taça dos Clubes Campeões Africanos de basquetebol com média de 15.7 pontos e 5,7 ressaltos. Como descreve este momento, tendo em conta o facto de na final o 1º de Agosto ter vencido o Ferroviário de Maputo?

Esta é uma pergunta pertinente. Este é um momento oportuno para deixar aqui bem claro que eu sou uma atleta profissional. Eu vivo de basquetebol. Eu defendo as cores que estou a vestir. Se hoje eu vestir as cores do 1º de Agosto, vou defender até a morte. Se vestir a camisola do Desportivo, vou defender até a morte ou a camisola de onde quer que seja, sobretudo, selecção nacional.

Como se sentiu ao defrontar, na final, algumas atletas com as quais joga na selecção nacional e com as quais já foi campeã africana de clubes no Desportivo e extinta equipa da Liga Desportiva?

Falando especificamente deste jogo, diria que foi uma mistura de sentimentos. Não foi fácil. Para mim, pessoalmente como moçambicana, e sabendo da rivalidade existente entre Moçambique e Angola ao nível do basquetebol. Estando numa equipa angolana e a defrontar na final uma equipa moçambicana, o Ferroviário de Maputo que há muito tempo luta por um título africano, foi muito difícil. Mas, o que aconteceu naquele dia é que eu tinha fazer o meu trabalho. É profissionalismo. Há pessoas que não percebem isso. Depois, andou uma certa polémica nas redes sociais: a Leia Dongue é uma traidora ao ganhar a equipa da casa. São coisas totalmente diferentes. Vou dar o exemplo que Cristiano Ronaldo que, para mim, é o melhor jogador do mundo: Ronaldo é jogador do Real Madrid e formou-se no Sporting. Mas quando Cristiania Ronaldo joga contra o Sporting, ele faz o trabalho dele. É preciso saber separar o amor e patriotismo do profissionalismo. Acho que são assuntos totalmente diferentes.

Sentiu-se incompreendida pelos moçambicanos pelos comentários feitos nas redes sociais?

Não. Isto porque, no meio dessa polémica, haviam também pessoas que percebem. Acho que havia um equilíbrio. No final, as pessoas perceberam que era uma questão de profissionalismo.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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