A poetisa, escritora, pintora e professora Sílvia Bragança morreu esta segunda-feira, aos 83 anos de idade, em Goa, quando se preparava para regressar a Moçambique.
Uma mulher extraordinária! Em poucas palavras, é assim como é descrita Sílvia Bragança, que, enquanto teve saúde, escreveu poesia, livros infanto-juvenis, pintou, deu aulas e afirmou-se como uma educadora apaixonada por crianças.
Aos 83 anos de idade, numa aldeia em Goa, Sílvia Bragança não resistiu a uma doença e, esta segunda-feira, perdeu a vida, numa altura em que se preparava para voltar a Moçambique. Não foi a tempo, devido à dificuldade de arranjar um voo neste tempo de COVID-19.
Sílvia Bragança nasceu a 4 de Outubro de 1937, em Goa, na Índia, e realizou uma grande obra em Moçambique. Além de artista, com exposições em Moçambique, Índia e Portugal, a viúva de Aquino de Bragança (que morreu no mesmo acidente que vitimou Samora Machel, em 1986) teve projectos de educação com crianças, ensinou na Faculdade de Educação e colaborou com o Museu Nacional de Arte. Sílvia Bragança é lembrada como uma pessoa interessada pelo que fazia, tendo deixado livros didácticos que ainda não foram impressos.
Como forma de homenagear Sílvia Bragança, às 18 horas desta quarta-feira será celebrada uma missa, na Igreja da Polana, na cidade de Maputo.
Entre as publicações de Sílvia Bragança constam: A quem a minha vida, a vida deu? (Maputo, Imprensa Universitária, 1998), Aquino de Bragança, batalhas ganhas, sonhos a continuar. (Maputo, Ndjira, 2009) e Sonho da lua (Brasil, 2015). “Nesta preciosa obra, da série Vozes da África, a escritora Sílvia Bragança, com vasta e profunda vivência em Moçambique, nos oferece dez poemas infantis sobre o universo, apresentando às crianças o mundo que está ao seu redor, visível ou não. As ilustrações da brasileira Amanda de Azevedo enriquecem ainda mais as pequenas joias poéticas de Sílvia sobre a lua, o vento, a chuva, o elefante, a aranha, as flores, os pássaros, o arco-íris e outros elementos da natureza”, destaca a editora Kapulana, que lançou o livro no Brasil.
Sílvia Bragança deixa dois filhos.
Um poema de Sílvia Bragança
O meu pensamento
O meu pensamento voa veloz,
Ultrapassa o vento, a chuva, a corrente.
Introduz-se no magma da terra,
Invade as lavas de um vulcão,
Dorme nas cinzas incandescentes.
Como uma broca perfura o mais duro diamante.
Descansa junto de um terno coração.
Brama no cérebro terrificante,
Produtor da máquina da morte.
Brinca com os algarismos…
Transforma-os em números
Que se vão multiplicando até ao
Infinito.
Subtrai-os, divide-os,
Encontra sempre um pouco para cada um.
Jamais encontra o nada…
Perdura através de TODOS na eternidade.
Descobre a Paz na guerra.
Existe no MUNDO!
In: Sonho da lua.