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Morreu artista…ficou a obra

A dor da morte de Hugh Masekela extrapola os limites territoriais da África do Sul, até porque o trompetista ostenta o rótulo do pai do jazz africano. Moçambique, país que por várias vezes visitou e deixou o perfume do seu talento também chora o seu desaparecimento físico. Através das redes sociais, os moçambicanos mostraram a tristeza e a grandeza do homem que se apresentava por detrás do trompete. Alguns artistas moçambicanos que tiveram a oportunidade de partilhar palco com Masekela lamentaram a perda e o descreveram como um homem de fortes ideias, sendo que a sua obra ficará para sempre.

Moreira Chonguiça conhece-o há mais de 20 anos e teve oportunidade de partilhar o palco e ideias em momentos distintos. Chonguiça não escondeu que ficou chocado com a notícia da morte do artista. “Estou muito triste. Sou felizardo porque a relação que tinha com ele transcendia a música. Tive a honra de o conhecer como pessoa. Foi um pai, avó, irmão, enfim, este pacote todo. O que ele fez por mim, nesta minha curta carreira, não sei como dizer obrigado”, descreveu o saxofonista para depois avançar que teve o último contacto com Hugh Masekela em Agosto de 2017, onde mais uma vez, aquele mostrou ter convicções fortes. “Estávamos num dos hotéis da cidade de Maputo e perguntou se havia naquele local, mulheres que traziam tissagens. Algumas levantaram as mãos e ele disse que não tiraria fotos com elas. Ele ensinava com um tom de brincadeira. Naquele dia, queria transmitir a elas que deveriam gostar da sua origem como africanas. Masekela defendia bastante a autoestima dos africanos, era um homem de ideias próprias. Teve um papel fundamental para emancipação do povo sul-africano, foi o tipo de homem que eu me revejo e digo que gostaria de ser como ele”, disse Chonguiça.

Por seu turno, Humberto Carlos Benfica, mais conhecido por Wazimbo conta que conheceu o artista de jazz em 1987, na capital do Zimbabwe, Harare, onde teve oportunidade de dividir, pela primeira vez, o palco. “Foi muito interessante porque só ouvia falar dele. Estivemos com grandes vozes como Oliver M’tukudzi, Miriam Makeba entre outros. Estamos todos chocados por esta notícia. Ele deixa um legado aos mais novos, eles devem se espelhar e tentar seguir o que ele fez pela música e pela África no geral. Temos que imortalizar a sua figura seguindo os seus ideias, os seus ensinamentos”, disse Wazimbo que não esqueceu de se referir o jeito frontal com que o artista defendia as suas opiniões. “Era músico, mas também político. Ele não tinha receio de exprimir as suas opiniões independentemente das pessoas que estavam ao seu redor. Era dono do seu pensamento e exprimia sem medo e receio”, terminou.

 

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