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Moradores de alguns bairros em Maputo vivem como se a COVID-19 não existisse

Moradores de alguns bairros periféricos da cidade de Maputo não cumprem as medidas de prevenção contra o novo Coronavírus. Os adultos não usam máscaras, ignoram o distanciamento físico e social e as crianças, sem nenhuma protecção, fazem-se às ruas sozinhas ou acompanhadas pelos mais velhos.

Conta-se o número de pessoas que usam máscaras em determinados bairros periféricos da cidade de Maputo, o epicentro da pandemia. É incontável o número de crianças que se fazem à rua sem nenhuma protecção contra o novo Coronavírus.

Maxaquene. Histórico e periférico bairro da capital moçambicana, onde as medidas de prevenção da COVID-19 estão, igualmente, na periferia da preocupação dos moradores.

“Previnimo-nos usando máscara, mas a minha esqueci onde estava”, disse Nilza Cossa, residente de Maxaquene que, entretanto, não trazia o acessório de protecção contra o novo Coronavírus.

Esquece-se a máscara por aqui, ali ou acolá não por desconhecimento da existência do novo Coronavírus e muito menos das suas consequências. “É um erro porque se essas pessoas andam na rua sem máscaras, podem contrair a doença. A minha máscara está no bolso porque estava a fumar um cigarro e depois de chegar em casa e lavar as mãos poderei voltar a usar”, justificou Vasco Nhone, residente do bairro da Maxaquene, na cidade de Maputo .

As crianças são um outro grupo exposto à COVID-19 em Maxaquene. Um menino conduz motorizada que é de brincadeira, mas mergulhado no mundo da sua ingenuidade, não tem a noção de que o Coronavírus é real e pode conduzi-lo a um leito do hospital. Os moradores de Maxaquene acreditam que são os pais.

“O assunto das crianças é muito complicado. Nós, que somos encarregados, não damos educação aos nossos filhos. Esses meninos têm máscaras, mas  andarem com elas (as máscaras) é muito complicado e gostam muito de ficar na rua”, indicou Rosa António, também moradora de Maxaquene.

Ficam na estrada e, na inocência, partilham entre elas o amor que lhes pode custar a saúde. Os que ainda não andam por si só, são os mais velhos que os levam à rua e, não poucas vezes, seus pais que também não usam máscaras.

“Eu uso máscara, mas  tenho problema de respiração por isso não usei”, defendeu-se Érica Machava, de Maxaquene, que trazia um bebé de seis meses nas costas e sem nenhuma explicação, justificando que não deixou o seu filho em casa porque não com quem deixar e para proteger o menino da COVID-19 mantém-no sempre consigo e dá banho constantemente.

Ficar em casa é, certamente, mais seguro para Érica e o pequeno Drake.

Além de se fazer às ruas sem máscaras, os jovens deste bairro espalham abraços, trocam carinhos e mimos que podem carregar consigo o vírus. Um comportamento de risco em plena cidade que é o epicentro da doença. As autoridades locais dizem que não estão alheias à situação.

“São ditos para ficarem em casa, mas sem nada para fazer saem à rua e ficam aglomerados em grupos de 15 a 20 jovens. Estão a fazer o quê?” questionou retoricamente, João Mangue, chefe de quarteirão de Maxaquene, acrescentando que quando ele fala, como autoridade, não querem ouvir, mas quando veem a Polícia começam a se espalhar, ou seja, “eles não nos respeitam”

E não são só os jovens que não respeitam as autoridades do bairro…os pais das crianças que estão expostas à COVID-19 na rua também não dão atenção ao chefe do quarteirão. “Por aqui, todas as casas têm portões, mas não se explica que as crianças estejam na rua e nós estaremos a dizer a mesma coisa sempre. O facto é que os pais não cuidam dos seus filhos” acusou João Mangue.

Os raios solares incidem sobre a cara dos residentes do bairro e a sua preocupação é mesmo com o sol porque para COVID-19, estão nem aí.

“Eu esqueci minha máscara em casa. Eu não máscara porque tenho problemas de tensão. Às vezes não consigo respirar”, argumentou Irene Salvador, residente do bairro Chamanculo, na cidade de Maputo.

Não é fácil respirar, mas Irene Salvador faz parte do grupo de risco devido à hipertensão, daí a necessidade de redobrar as medidas de prevenção do Coronavírus.

Além dos grupos mais vulneráveis estarem expostos à COVID-19 em Chamanculo, as crianças deambulam pelas ruas sem nenhuma protecção a doença. “Não é normal o que acontece nesse bairro. Deveria haver uma forma de educar as crianças para não se aglomerarem nas ruas. É, igualmente, triste ver pessoas sem máscaras. O mesmo acontece nos mercados”, lamentou Manuel Pinho, morador do bairro de Chamanculo “B”.

A inobservância das medidas de prevenção do novo Coronavírus é do conhecimento dos responsáveis pelo bairro, mas estão impotentes diante da situação.   “Fazemos de tudo para sensibilizar, mas é algo complicado porque muitas pessoas dizem que nunca viram alguém com COVID-19 ou a morrer vítima dessa doença e as reclamações são sempre essas”, apontou Emília Pinto, chefe de quarteirão do bairro Chamanculo “B”, na cidade de Maputo.

Os resultados do último inquérito seroepidemiológico indicam que Nlhamankulo é o bairro mais exposto à COVID-19 com uma taxa de 4.72 por cento e Kamaxakeni está em quarto lugar com 3.93 por cento.

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