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Restos mortais de Oldemiro Baloi foram hoje a enterrar na cidade de Maputo

Família, amigos e diferentes personalidades despediram-se, este sábado, do antigo ministro dos Negócios Estrangeiros e Cooperação, Oldemiro Júlio Marques Baloi, falecido a 14 de Abril corrente, na África do Sul, vítima de doença. Os restos mortais do ex-governante foram a enterrar no cemitério de Lhanguene, na capital do país.

Antes de serem levados à última moradia, os restos mortais de Oldemiro Baloi foram velados no Paços do Conselho Municipal da Cidade de Maputo. Entre os presentes na cerimónia, destacam-se o Presidente da República, Filipe Nyusi, e os ex-estadistas Joaquim Chissano e Armando Guebuza.

Oldemiro Baloi ocupou funções directivas nos mandatos dos três Presidentes.

Oldemiro Baloi, professor, economista e diplomata, dedicou larga parte da sua vida ao Estado.

Apesar do desconsolo, a família Baloi diz que a partida do seu ente querido deve ser encarrada como uma oportunidade para celebrar a vida, tal como o malogrado sempre o defendeu.

“Papá, que sorte temos nós por ter partilhado a tua vida e termos sido amados por ti. Que sorte temos nós por como nos apoiaste e nos carregaste às costas e por tudo o que nos ensinaste. Que sorte temos nós por termos vivido décadas com as tuas gargalhadas, carinho e amor à vida. Tu sempre foste amor, por ti próprio, pela nossa mamã, pelos teus pais, por nós, pelos teus netos, pela nossa família, pelos teus amigos e por tudo o que era bom e correcto”, afirmou Edgar Baloi, filho de Oldemiro Baloi.

Segundo Edgar Baloi, o pai sempre mostrou aos filhos o bom que eles poderiam ser, viver e se tornar no futuro. “Mesmo nos piores momentos”, Oldemiro Baloi dizia, “cabeça erguida, bola para frente, que atrás vem gente”.

Com esse espírito de positividade, Oldemiro Baloi trilhou o seu percurso com Judite Baloi. Para ela, o desaparecimento físico do seu marido é injusto.

“CONSOLA-ME O LEGADO QUE DEIXASTE”, VIÚVA DE BALOI

 Com a alma partida pela dor, a viúva Judite Baloi contou que, como “companheira de todas as horas” e par de Oldemiro Baloi é-lhe “difícil aceitar” que o esposo partiu para sempre.

Aliás, para Judite, a morte de Baloi causa-lhe uma “dor profunda e dilacerante”. Dor “por termos deixado de ser um par”.

Contudo, “consola-me o legado que deixaste, de marido extraordinariamente carinhoso e atencioso. Não me esqueço das flores que me oferecias por tudo e por nada”.

No sector bancário, Baloi construiu, também, um percurso marcante e quem o descreve é o Presidente do Conselho de Administração do Millenium Bim, Rui Fonseca.

BALOI TINHA “UMA SÓLIDA FORMAÇÃO E EDUCAÇÃO” 

“Perdemos um homem bom, de quem vamos sentir uma tremenda falta. Era um amigo, companheiro e colega de todos os instantes. Sempre atento e solidário. Amigo dos seus amigos. Oldemiro Baloi era um homem singular, de inteligência e capacidade de análise”, disse Rui Fonseca, destacando que Baloi tinha “uma sólida formação e educação”, bem como “arrojo de decisão, arrojo negocial e capacidade de decisão em todas as etapas em que esteve presente”.

FOI-SE UM “GRANDE MINISTRO”, VERÓNICA MACAMO

 Para a ministra dos Negócios Estrangeiros e Cooperação, Verónica Macamo, que falava em representação do Presidente da República, “falar do percurso da vida de uma personalidade” como Baloi “não é missão fácil”.

Recorrendo às palavras do Presidente da República, Verónica Macamo caracterizou Baloi como “um patriota em todas as dimensões. Foi um homem cujo trajecto de vida foi inigualável”.

Prosseguindo, a ministra explicou que Baloi iniciou a sua trajectória em actividades patrióticas muito jovem, em 1974. Nessa altura, o ex-governante participou na criação das estruturas sociais de base e teve um papel preponderante na “organização das massas, no quadro em preparação da independência nacional”.

“Desde então, a sua vida esteve sempre associada a actividades de engrandecimento da nossa pátria”, disse Verónica Macamo, acrescentando que, foi em reconhecimento das suas qualidades profissionais e humanas, que Baloi foi chamado a exercer “tarefas complexas e de elevada responsabilidade”. Foi-se um “grande ministro”.

No fim e em nome do Executivo, o Presidente da República confortou a família pelo desaparecimento físico de Baloi.

BALOI VAI CONTINUAR A ENSINAR, JOAQUIM CHISSANO

“Apreciamos os valores que Oldemiro Baloi nos deixa, que vão constituir a continuidade da sua vida entre nós, como disse o filho, estamos aqui para celebrar a vida, portanto, tudo o que ele fez de bom, Baloi vai continuar a ensinar”, Joaquim Chissano.

ARMANDO GUEBUZA DIZ QUE SE DEVE HONRAR A MEMÓRIA DE BALOI

“Perdemos um quadro, agora, o que nos resta é honrá-lo, honrar a sua memória para que aquilo que ele fez da sua obra permaneça entre nós”, Armando Guebuza.

BALOI FOI “MUITO MAIS QUE UM SUPERIOR HIERÁRQUICO”

Henrique Banze, ex-vice ministro dos Negócios Estrangeiros e Cooperação, diz que para si e seus colegas, Baloi “foi muito mais que um superior hierárquico”.

Oldemiro Baloi chegou ao Ministério dos Negócios Estrangeiros e Cooperação “numa altura em que o país precisava de reforçar a sua confiança” dentro e fora de portas.
Foi “um momento de muitos desafios, não era só no Ministério dos negócios estrangeiros, mas também na área de cooperação, que também era muito importante. Trabalhou muito nisso. Defender os interesses dos moçambicanos, mas, também, trazer os outros países para trabalhar” com eles como parceiros. “Lembro-me, por exemplo, da situação da Guiné, ele foi uma das pessoas muito importantes que trabalhou nesse processo”.

 BALOI “ENSINOU-NOS A SABER TRABALHAR”, MARIA LUCAS

A antiga vice-ministra dos Negócios Estrangeiros e Cooperação, Maria  Lucas, reagiu, também, à morte de Baloi dizendo: “ensinou-nos muito e aprendemos muito com ele. Era muito rigoroso, muito perfeccionista e muito metódico, didáctico e nós tivemos que aprender a saber trabalhar com ele. Ele dizia que devíamos ter capacidade de inovar, encontrar maneiras de trazer resultados”, pois “era muito orientado a resultados”.

O PAÍS PERDEU UM CIDADÃO DE MUITAS VALÊNCIAS”, MANUEL TOMÉ 

“O país perdeu um cidadão de muitas valências, quer políticas, quer profissionais e, em particular, as da área económica. Basta recordar que o Dr. Oldemiro Baloi passou pelo Ministério da Indústria e Comércio, passou pela cooperação, passou pelos negócios estrangeiros e ele era um cidadão muito fino, eu tive a possibilidade de conviver com ele, quer nas tarefas políticas, quer nos círculos de amizade, e ele era um indivíduo com muita elegância, um gentleman. Perdemos uma grande pessoa, e o que se tem de fazer, para valorizar aquilo que ele era como cidadão e como profissional, é seguirmos o seu exemplo”.

“Fico com esta saudade de ter uma pessoa que, quando é momento de lhe consultar qualquer coisa, ele estava ali pronto, quando era momento para criticar, ele estava ali para dizer tudo bem, isso podemos corrigir. Quando era momento de ser muito sério para decidir sobre questões do país, sobre cooperação, também, estava ali”.

ESTE É “UM MOMENTO ESPECIAL PARA CELEBRARMOS A VIDA E OBRA DE OLDEMIRO BALOI”, DANIEL DAVID

O Presidente do Conselho de Administração do grupo SOICO, Daniel David, reagiu a morte do ex-ministro, salientando o papel que teve na sua vida e na criação do grupo SOICO.

“Foi uma pessoa que, em momentos muito especiais da minha vida, esteve presente e sempre aconselhou naquilo que deviam ser as decisões que eu devia tomar. Mesmo na criação do nosso grupo, o Grupo SOICO, a pessoa que deu apoio incondicional e importante para que o grupo existisse, foi ele”, contou Daniel David.

No Millenium bim, onde Baloi trabalhava, ajudou o grupo a realizar os seus planos. “Na altura, nós não tínhamos capacidade, nem financeira, nem colateral para conseguirmos qualquer financiamento para que o nosso projecto fosse avante”, narrou o PCA do Grupo SOICO, explicando que, Baloi dissera uma palavra que não vai esquecer: “Daniel, tu não tens dinheiro, és pobre que nem eu, mas a única coisa que é o teu colateral é a tua palavra. Eu confio em ti e é por isso que em ti vou garantir que possas iniciar esse teu projecto”.

Num outro desenvolvimento, Daniel David disse que recebeu, também, de Baloi, palavras de encorajamento, ao afirmar que, “tenha a certeza, se vais começar um projecto destes, é porque sabes que vais ter sucesso nele. E foi assim que começou a nossa trajectória da criação do Grupo SOICO. Ele assumiu o cargo de membro do Conselho Consultivo da nossa Fundação. Até este momento, ele era membro do Conselho Consultivo da Fundação e tínhamos os nossos encontros habituais. É um momento especial. Nós, agora, celebrarmos a vida e a obra de Oldemiro Baloi”.

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