O País – A verdade como notícia

Moçambique acusado de detenções de supostos muçulmanos confundidos com terroristas

Foto: O PaísFoto: O País

A liberdade religiosa no país registou várias violações em 2021, caracterizadas por detenções arbitrárias de grupos religiosos que eram associados ao terrorismo, revelam os Estados Unidos da América. Há pessoas que, por parecerem muçulmanas (pelas roupas e barba), eram recolhidas às celas. Os EUA dedicam sete páginas para descrever cenários vividos em Moçambique.

A informação é avançada no relatório anual dos Estados Unidos sobre a Liberdade Religiosa no mundo, referente ao ano 2021. O documento foi divulgado a 2 de Junho corrente, na versão inglesa, e aponta violações da liberdade religiosa na sequência do combate ao terrorismo em Cabo Delgado.

“Numa tentativa de controlar a situação (em Cabo Delgado) e conter a violência, a Polícia continuou a prática de deter arbitrariamente alguns indivíduos, porque pareciam muçulmanos pela sua roupa ou barba, segundo organizações islâmicas nacionais e outros relatos nos media.”

Na sequência dos acontecimentos, representantes do Conselho Islâmico em Cabo Delgado tiveram de dialogar com o Governo para que se evitasse a detenção de indivíduos muçulmanos não ligados à insurgência.

Além da detenção destas pessoas, o departamento do Estado norte-americano diz que, “nos dias 7 e 12 de Setembro, a Polícia deteve dois grupos pertencentes a um grupo religioso não identificado na província de Tete”.

O argumento inicial para as pessoas serem recolhidas às celas era a violação das medidas de prevenção da COVID-19, que determinavam a não realização de cultos com aglomeração de pessoas. Entretanto, de acordo com o relatório, a Polícia estava a investigar grupos ligados à insurgência em Cabo Delgado.

O documento fala também da transferência do Bispo de Pemba, Dom Luís Fernando Lisboa, para o Brasil, detalhando que “após a sua transferência, Lisboa afirmou que recebeu ameaças depois de criticar a resposta do Governo moçambicano aos ataques terroristas”.

Líderes religiosos, muçulmanos e cristãos, comunicação social e organizações da sociedade civil, particularmente ligadas aos direitos humanos, criticaram a situação, de acordo com o documento.

Enquanto isso, a Embaixada dos EUA diz ter debatido estas violações à liberdade religiosa com o Presidente da República, Filipe Nyusi, e com os Ministérios da Justiça, da Defesa e do Interior, tendo destacado a necessidade de envolver parceiros da comunidade religiosa para abordar, de forma eficaz, a violência e destacou a importância da tolerância religiosa para promover a paz e a segurança com líderes e representantes de grupos religiosos e da sociedade civil local.

O relatório anual dos Estados Unidos sobre a Liberdade Religiosa abrange cerca de 200 países. O documento não diz se, em Moçambique, a situação se deteriorou ou teve melhorias em relação aos anos anteriores. Sobre Angola, o documento afirma que o Governo ainda não respondeu a um pedido de registo de diversas organizações religiosas, incluindo muçulmanas.

No relatório, o departamento liderado pelo chefe da diplomacia dos Estados Unidos, Antony Blinken, denuncia perseguições contra minorias religiosas em países como China, Afeganistão, Birmânia e Arábia Saudita.

Em Cabo Verde e São Tomé e Príncipe, o documento diz que a liberdade religiosa tem sido respeitada.

O relatório é usado pelos Estados Unidos da América quando avaliam programas de ajuda e é meramente descritivo de actividades religiosas nos países analisados.

Partilhe

RELACIONADAS

+ LIDAS

Siga nos