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Matateu: goleador-maravilha

Sebastião Lucas da Fonseca, conhecido por Matateu terá sido um dos melhores pontas-de-lança de sempre, no conceito restrito da função, orgulho para Moçambique, terra em que nasceu, do Belenenses e de Portugal, onde realizou a maior parte da sua carreira. Na altura, a Comunicação Social estava longe do impacto de hoje, pois de outra forma, teria tido visibilidade idêntica à de Eusébio, ou mesmo Ronaldo.

Em Portugal, recém-chegado da então colónia de Moçambique, no início da década 50, em jogo empolgante numa tarde de glória, o Belenenses venceu o Sporting por 4-3, com 2 golos marcados por Matateu. No fim, os adeptos azuis invadiram o terreno e carregaram-no em ombros. Afirmou-se então que tinha sido a 1ª vez em Lisboa, que brancos tinham aclamado e levado em triunfo um homem preto. A partir daí, o sucesso de Matateu foi crescendo.

 

EPISÓDIOS PARA RECORDAR

As suas maiores conquistas foram a Taça de Portugal de 1960 (vitória sobre o Sporting em 3 de Julho, por 2-1, com Matateu a marcar o golo da vitória) e as Taças de Honra de 59 e 60. Nesta última, Matateu e Yaúca desbarataram completamente a defesa do Benfica (que 8 meses depois foi Campeão Europeu) inflingindo uma pesada derrota por 5-0 ao seu rival.

Mais tarde, um guarda-redes do Benfica disse que não conhecia Matateu e que nunca sofreria um golo dele. Numa partida logo a seguir, no primeiro minuto, Matateu recolheu a bola, foi passando por tudo quanto era adversário e marcou. Virou-se então para o guarda-redes encarnado: "agora já sabes quem eu sou!

E revelou:

– Quando entro em campo, penso sempre que o Belenenses vai ganhar por 5-0, pois acho que cada avançado deve marcar um golo. Por mim, não descanso enquanto não marcar o que me compete…”

Dele, conta também José Castro, ex-colega e que foi seleccionador em Moçambique: Matateu possuía uma força impressionante, de tal forma que quanto mais pesado estivesse o terreno, mais ele rendia. Cheguei a acompanhar a sua vida, ver o que ele comia ou bebia, para imitá-lo e ter tanta força como ele. Nunca consegui”.

 

A ORIGEM

DE UMA ALCUNHA

Desde pequeno, no Alto Mahé, bairro da capital moçambicana, Matateu era conhecido pela sua alcunha, cuja origem nunca foi completamente esclarecida. Liga-se a um termo ronga “tateu”, que significa andar sempre com as pernas esfoladas e a retirar as crostas das feridas.

Mas a delícia de Matateu era jogar à bola. Iniciou a sua carreira no João Albasini e 1º de Maio, depois foi para o Clube de Manjacaze. Aí, logo no final do primeiro jogo, foi abordado pelo árbitro, antigo internacional do Belenenses, João Pedro Belo, que lhe perguntou: “Queres ir para Lisboa?” Matateu ficou boquiaberto, apesar de já ter havido rumores sobre o interesse do Benfica, do Porto e do União de Coimbra.

Assim, a 4 de Setembro de 1951, desembarcou em Lisboa para assinar contrato com o Belenenses, então o quarto maior clube de Portugal. Doze dias após a chegada, com 24 anos, estreou-se contra o Porto, no Estádio Nacional. A imprensa ficou bem impressionada com o drible desconcertante e o seu remate do poderoso.

Na sua longa carreira, representou a Selecção Portuguesa por 27 vezes, apontando 13 golos, em países como Alemanha, França ou Brasil. Em 1955, quando o Belenenses jogou em Paris, para a Taça Latina, com o Real Madrid e Milão, a estrela moçambicana brilhou intensamente, ofuscando por completo o famosíssimo Di Stefano, como mais tarde o faria com Kopa.

Nunca chegou a jogar com o seu compatriota Eusébio que só se estreou um ano após o último jogo de Matateu.

 

NO OCASO DA CARREIRA

Jogou até aos 50 anos, no Canadá. Em Portugal, pelo Amora, actuou até aos 41 anos. O seu segredo estava no consumo de cerveja e foi revelado pelo próprio: “Tenho 41 anos, mas parece que tenho 19, porque estou conservado em cerveja. Acreditem que quando não bebo cerveja, não sou o mesmo, sinto-me mal e o meu rendimento é sempre inferior. É verdade, se eu não bebesse cerveja, já teria arrumado as botas há muito tempo».

Matateu nasceu a 26 de Julho de 1927, em Lourenco Marques e faleceu a 27 de Janeiro de 2000, no Canadá. Filho de Lucas Matambo e Margarida Heliodoro, foi o terceiro de cinco irmãos: Alberto Monteiro, o mais velho, Albertina, Sebastião Lucas, Lisete e Vicente Lucas, que também brilhou no futebol português.

 

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