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Manuel Jorge: fundador da “Nação FMF” internacional

Enquanto jogador, tinha em si bem entranhado o “vírus” alvi-negro. Porém, a partir da altura em que aceitou dirigir o órgão máximo do nosso futebol, a sua paixão passou para a FMF. Manuel Jorge viveu, no nervo, na carne e na pele, o parto do nosso futebol, quando o país abria os olhos para África e para o Mundo.

Foi, sem dúvida, um dos nossos mais competentes e respeitados dirigentes desportivos, em situações extremamente difíceis, nos velhos tempos do desporto jogado por amor à camisola. De futebolista de pé (esquerdo) cheio, a respeitadíssimo dirigente. Quis o destino que aos 80 anos, o fundador da “Nação FMF nos deixasse.

Tudo era novo e desconhecido naquela altura. O país vivia ainda a efervescência da Independência Nacional e o futebol, enfrentando um mar de dificuldades era, apesar disso, uma das formas de afirmação do nosso surgimento no Continente Africano e não só.

Adepto confesso do Desportivo de Maputo, a quem dedicou uma grande parte do seu saber, primeiro como futebolista e depois como dirigente, acabou sendo a “lanterna” que iluminou e abriu espaço para a caminhada do nosso país no pós-independência. Organizou e fez convergir para Moçambique os olhos de África e do Mundo, nos primeiros (e difíceis) passos do desporto-rei desta Pérola do Índico.

Manuel Jorge, poliglota, com uma posição e um cargo numa empresa de prestígio, sacrificou muitas horas do seu descanso, usou toda a sua capacidade para (re)conciliar vontades e adversidades entre clubes, árbitros e dirigentes, colocando sempre em lugar próprio a sua paixão pelo clube “alvi-negro”.
 

HOMEM DO FUTEBOL

Como presidente da FMF, Manuel Jorge orientou um elenco que criou as actuais associações provinciais de futebol, para além de ter participado na estreia de Moçambique nas fases finais dos Campeonatos Africanos de Futebol (CAN), em 1986 no Egipto. Foi uma das maiores referências desportivas de sempre do nosso país, marcando um período que será sempre recordado pelas suas qualidades de liderança e pela sua ambição de vitória.

Sócio número 1 do Grupo Desportivo Maputo, Manuel Jorge Carvalho da Silva perdeu a vida dia 19 de Setembro de 2014 deixando para trás um percurso de entrega, bravura e infinitas lições de gestão desportiva.
 

CAN 1986, DE MÁ MEMÓRIA

Recordemos o que disseram algumas figuras do nosso desporto, que com ele conviveram:

–      João de Sousa, jornalista
De Manuel Jorge ficam gratas recordações, sobretudo das viagens que fizémos, ele como dirigente da FMF e eu como jornalista. A mais marcante foi, sem dúvida, em 1986, quando pela primeira vez a nossa Selecção participou numa fase final da Taça das Nações, no Cairo. Perdemos os 3 jogos: 0/2 frente ao Egipto, 0/2 diante do Senegal e 0/3 no confronto com a Costa do Marfim. Sofrer 7 golos e não marcar um único, é para constar na história dos altos e baixos dos nossos “Mambas” que ao tempo de Manuel Jorge ainda nem sequer sonhavam em ser essa serpente africana venenosa. Foi duro e pesado o trabalho que teve de ser desenvolvido, não tínhamos então a Liga Moçambicana de Futebol, mas um campeonato com uma dimensão completamente diferente da actual, por força dos problemas e vicissitudes que o país atravessava. Considero Manuel Jorge uma das figuras que criou as condições para que a nossa Federação, mesmo antes de ele ser presidente, se firmasse internacionalmente.

 
Uma referência para sempre
–      Joel Libombo, antigo Ministro da Juventude e Desportos

 
Cruzou caminhos com Manuel Jorge, tendo trabalhado na edificação do desporto nacional. São dele as palavras que que se seguem:
Foi sempre uma referência, quando nos iniciamos nos processos de liderança, estando sempre connosco, desde a federação de basquetebol, passando depois para a de futebol. Na elaboração da Lei do Desporto, foi sempre meu assessor. Um dos embondeiros que apoiaram o Governo.
 
 
Ajudou a construir a actual FMF
–      Amir Gafur, vice-presidente da federação

 
Descreve o malogrado como homem do futebol moçambicano, grande jogador e dirigente.
– Pela sua competência na direcção do seu clube, foi escolhido para dirigir o futebol nacional. Ajudou com todo o seu saber a construir o que é hoje a Federação de Futebol. Contribuiu e dirigiu a criação das associações provinciais, contribuindo e dirigindo a formação das Selecções, o que culminou com a presença, pela primeira vez, de Moçambique no CAN do Egipto.
 
 
Deixa uma grande obra
–      Calton Banze

 
Lembro-me dele como um homem de poucas palavras e de muito trabalho. Infelizmente não nos preparamos para a sua partida, senão teríamos ido buscar muita história do desporto com ele. O seu legado está connosco, cabe-nos continuar a sua grande obra, sobretudo pela atitude.
Granjeou amizades por todo lado, foi sempre um senhor nas suas atribuições, como futebolista, dirigente do Desportivo e da Federação, pautando por muita simplicidade e humildade. Deixa uma grande obra, que temos a obrigação de homenagear.

 

 

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