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Maldita crise bendita

Vivemos tempos di­fíceis. Uma crise ouvida e percebida também pelos outros senti­dos. Uma crise que actua de forma silenciosa, mas violen­ta. Uma crise que não grita para ser vista, ouvida e sen­tida. Simplesmente chega e derruba esperanças.

Com o metical desvalori­zado, o investimento a re­trair drasticamente, a dívida pública para além da sus­tentabilidade, os doadores a fecharem-nos as portas, e outros males à mistura, há quem diria que estamos no fundo do poço, tramados e sem saídas.

Mas, na verdade, toda a crise é uma oportunidade para nos reinventarmos e descobrirmos novas e me­lhores formas de agir. De nos livrarmos da mesmice, que mata mais do que ali­menta. Se chegámos onde chegámos por falta de ri­gor nas contas, por gestão danosa do Orçamento, por despesismo excessivo, pela mentalidade de que no Es­tado tiramos o leite e toda a gordura que alimenta a vaidade, com a crise, a lição está dada. Falta-nos querer e mudar de atitude e de men­talidade. Mas, para isso, im­põe-se liderança.

Este é o desafio do Pre­sidente Nyusi. Secar todas as lágrimas que o acom­panham desde que tomou posse e descobriu cofres va­zios, dívidas embrulhadas, atrasos nos desembolsos dos doadores, investidores em fuga ou retraídos, etc., e todas as consequências que daí advêm. Este é o seu mo­mento para imprimir a sua visão de liderança, porque todos os argumentos estão a seu favor. A arca está pron­ta, a maré está brava, mas precisamos de chegar a um porto seguro e o Presidente é o capitão.

O leite entornou? Sim. Mas não está perdido. Vai fertilizar o solo para o Presi­dente Nyusi lançar a semen­te que muito acalentamos que brote. De facto, são pou­cos os que tiram proveito das crises, tal como são pou­cos os que governam o Povo. Por isso, esperamos que esta envenenada oportunidade que a vida dá seja bem apro­veitada.

Queremos uma gestão das finanças públicas mais transparente, racional e equilibrada, com rigor e corte nas despesas fúteis. Queremos endividar-nos para continuar a crescer – mas sempre pelos melhores motivos e à medida da nossa capacidade. Não queremos ser acarinhados com pala­vras, mas com actos que re­novem as nossas esperanças.

Que a economia dê as suas voltas entre prosperidade e recessão, mas que o Governo nos devolva a confiança de que somos bem conduzidos. Sabemos que não caminha­mos num movimento recti­líneo, uniforme. Conhece­mos o quão acidentada é a terra que percorremos e os malabarismos que precisa­mos de fazer para alcançar o boom do crescimento.

Auguramos uma recessão de curta duração, porque o que nos projecta é ainda maior do que o que nos des­trói. Por isso, grito: maldita crise bendita que nos devol­ve a esperança de virmos a ser um país melhor.

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