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Maputo/KaTembe: Os dois anos de uma ponte (ainda) aquém das expectativas

Dois milhões e seiscentos e trinta mil viaturas atravessaram pela ponte Maputo/KaTembe, desde a sua inauguração, há dois anos. O número está aquém da projecção que o Fundo Nacional de Estradas tinha quando a infra-estrutura entrou em funcionamento.

A ponte trouxe ganhos na transitabilidade de viaturas e cargas, principalmente no que diz respeito à segurança na travessia de uma margem para outra na Baía de Maputo, comparativamente ao anterior cenário de uso do ferryboat.

A infra-estrutura é tida como a maior ponte suspensa de África e custou 785 milhões de dólares norte-americanos. A sua utilização contribui para o desenvolvimento socioeconómico dos dois polos.

Há 25 quilómetros do interior da KaTembe, a nossa reportagem conheceu o avicultor Luís Campos, que partilhou os ganhos do seu negócio antes e depois do surgimento da ponte.

“Eu cheguei a esta propriedade há mais de 20 anos, é evidente que sofri todos os problemas de transporte e chuva. Foram 20 anos de sofrimento. A ponte veio trazer-nos uma mobilidade fantástica, eu saio daqui de casa passados 20 minutos e já me vejo a tomar café na Julius Nyerere. E como avicultor bem como os agricultores, o transporte das aves é muito mais rápido, não há deteriorção, a estrada é óptima”, contou.

E acrescentou, “nós temos uma ponte fantástica mas eu penso que na óptica do utilizador. Eu como residente está tudo bem, eu frequento muito a ponte e por via disso gozo de algum desconto, ainda assim não deixa de ser muito caro. Existe quem não consiga suportar o custo da portagem, se baixassem o preço para metade os investidores e não só vinham mais para este lado”.

Por sua vez, Manuel Comé, nativo da KaTembe, mudou-se para capital Maputo e considera a ponte uma mais-valia.

“A ponte mudou muito a nossa transitabilidade, nós antes dependíamos do ferryboat, passamos mal quando o tempo estivesse mau, chuva não era fácil. Com a ponte podemos circular a vontade, várias vezes em segurança mas acho que deviam reavaliar o preço da portagem”, disse o jovem Manuel Comé.

E existe ainda quem prefira atravessar de barco, o motivo é comum, factor tempo.

“Para onde eu vou é mais rápido ir de barco, do que ir dar a volta, ir ficar na bicha (fila) na paragem, gasto muito tempo”, disse Domingos Raul, um dos utentes da ponte Maputo/KaTembe.

DESENVOLVIMENTO DO TURISMO

A ponte conjugada com a estrada circular melhorou, consideravelmente, o acesso às praias e a Reserva Especial de Maputo, tornando a margem sul da província de Maputo atractiva ao turismo.

“Não restam dúvidas de que a ponte Maputo/KaTembe foi um marco muito importante. Foi de importância crucial por vários motivos e eu vou falar do motivo que me interessa que é o desenvolvimento na área do turismo. Nós sabemos que a Ponta de Ouro é um dos destinos turísticos muito apetitosos, muito conhecido e um dos melhores que nós temos aqui no país. Temos a ligação com África do Sul que é outro ponto importantíssimo e no meio do trajecto temos também a Reserva Especial de Maputo”, anotou Noor Momade, presidente da Associação das Agências de Viagens e Operadores Turísticos de Moçambique (AVITUM).

Entretanto, e apesar da arquitetura bem-sucedida da ponte Maputo/KaTembe, que é um dos cartões-de-visita da cidade de Maputo, o jurista e também residente da KaTembe, Teodoro Wate, entende que a infra-estrutura deve ser gerida de forma sustentável.

“Hoje a KaTembe é uma cidade em miniatura, mas de facto existe um grande desenvolvimento”, apontou.

Para a economista, Inocência Mapisse, a redução do rendimento real das pessoas baixou, devido ao aumento do custo do transporte.

“Todos nos esperávamos que a ponte trouxesse um impacto negativo. Olhando apenas para este aspecto o impacto não foi positivo, as pessoas simplesmente tiveram uma deterioração do seu nível de vida”, referiu a economista.

Desde a inauguração até o dia 30 de Outubro último, já atravessaram pela ponte cerca de dois milhoes seicentos e trinta mil viaturas, dentre as quais 89% são viaturas ligeiras. Assumindo que todas as viaturas pagam as taxas mínimas significa que apenas com esta portagem, o Governo facturou pouco mais de 420 milhões de meticais em dois anos.

 

 

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