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Mais de 200 mil cidadãos não levantam BI’s desde 2019

Foto: O País

Há mais de 200 mil Bilhetes de Identidade que não são reclamados desde 2019, em todo o país. A Direcção Nacional de Identificação Civil diz que os titulares ignoram as suas notificações e há documentos prestes a expirar o prazo.

Durante anos tratar Bilhete de identidade era um autêntico martírio, caraterizado por filas longas, demora no atendimento e uma eternidade para a obter o documento.

Actualmente a situação inverteu. Os utentes contam que, apesar das constantes falhas técnicas e lentidão no sistema de pré-marcação ter o bilhete de identidade ficou mais fácil, pelo menos na Cidade de Maputo.

O “País” visitou alguns postos, nesta segunda-feira (11) e viu algumas filas de pessoas que procuravam tratar os seus bilhetes de identidade e outros que apenas corriam para levantar.

Zacarias Chambale estava num dos postos para levantar o seu último bilhete (vitalício). Para ele, houve uma grande melhoria no processo de emissão dos documentos, pois antes a pessoa podia até se esquecer de levantar de tanta demora.

“O que posso dizer é que o atendimento foi rápido. Depois de iniciar o processo, dois dias depois recebi a mensagem para ir levantar”, disse.

Porém o mesmo não ocorre para quem vive longe das capitais provinciais. Fernanda Martinho, natural da província da Zambézia, conta o outro lado.

“Aqui foi fácil ter o BI, mas não é fácil para quem está nos distritos. Lá nós pagamos 360 Meticais e muitas vezes demora muito para ser emitido e há grande possibilidade de o BI não sair e você ter que fazer de novo”.

Fernanda disse ainda que há pessoas que preferem viajar para as sedes distritais para tratar este tipo de documentos.

“Minha mãe, por exemplo, teve que sair do distrito para Quelimane e lá teve o BI, em um mês”.

Enquanto alguns enfrentam dificuldades, há quem, mesmo depois da notificação demorou três meses para ir levantar.

“Tratei em Janeiro. Dois dias depois fui notificado para vir levantar. Sucede, porém, que estava fora do país e não tinha como levantar. Mas assim que voltei vim efectuar o levantamento”, disse Samuel Johane, um utente que encontramos num dos postos de identificação.

Igual a Samuel existem mais de 200 mil utentes, em todo o país que não levantam os seus bilhetes, desde 2019.

“Estamos neste momento a trabalhar para reverter o cenário, uma das medidas por nós tomadas é a introdução do novo modelo de talão de Bilhete de identidade. Este difere do anterior, porque apenas tem dois elementos identificadores do cidadão, nomeadamente o nome e a data de nascimento. Este não permite que o cidadão possa realizar outras actividades que exijam o BI, seja no banco, escola e outros”, explicou Gilda Lameque, Porta-voz da Direcção Nacional de Identificação Civil, para quem a medida visa incentivar o cidadão a levantar o seu bilhete.

Questionada se a falta de levantamento do documento teria a ver com a demora no processo de obtenção do bilhete, que as pessoas já estão acostumadas, a gestora disse que “pode até ser verdade. Mas é preciso mudarmos este pensamento das pessoas, pois a demora já não ocorre. Sucede que as pessoas continuam com este pensamento e quando as notificamos, não comparassem, pensando que não seja verdade”, explicou a fonte.

A Direcção Nacional de Identificação Civil diz que os titulares ignoram as suas notificações e há documentos prestes a expirar o prazo. Para reverter o cenário a entidade avançou que tem “contado com o apoio das lideranças comunitárias para fazer chegar a mensagem aos cidadãos”.

A Cidade de Maputo, seguida de Nampula, província de Maputo e Zambézia são as que mais casos de bilhetes não reclamados apresentam.

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