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Mais de 20 mil pessoas morrem anualmente no país devido a diversos tipos de cancro

Foto: O País

Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) indicam que, em Moçambique, cerca de 25 mil pessoas morrem anualmente por causa dos diversos tipos de cancro. Este número faz parte dos oito milhões de indivíduos que perdem a vida no mundo nas mesmas circunstâncias.

O tratamento do cancro em Moçambique tem evoluído significativamente ao longo dos anos, com a introdução de novas tecnologias, assim como formas de tratamento mais eficazes e com melhor qualidade para os pacientes. As autoridades de saúde asseguram que os cancros da mama e do colo do útero são os mais frequentes nas mulheres.

A instalação do Serviço de Radioterapia do HCM é um passo enorme para que os pacientes deixem de se deslocar para fora do país à procura de tratamento. Na África do Sul, por exemplo, chegavam a gastar entre 600 e 800 mil meticais.

No país, estima-se que pelo menos 25.500 pessoas sofram de diferentes tipos de cancro. Destas, 5.3% têm cancro da mama e 17% padecem do cancro do colo do útero.

O cancro do colo do útero é um tipo de tumor maligno que ocorre na parte inferior do útero, causado por uma infecção do Vírus Papiloma Humano (VPH), que está ligado a relações sexuais desprotegidas. Em 2020, foram diagnosticados aproximadamente 4.900 novos casos, que resultaram em 3.000 óbitos.

Outro cancro que preocupa as entidades de saúde – e não só – é o da mama, o segundo mais frequente. Em média, são registados mais de mil casos por ano. O cancro da mama é um tumor maligno que se desenvolve na mama, como consequência de alterações genéticas num conjunto de células da mama, que passam a dividir-se de forma descontrolada.

A porta de entrada para os casos de cancro é o Serviço de Oncologia do HCM, onde – antes da COVID-19 – mais de 50 pessoas eram atendidas por dia. Em média, são feitos 30 internamentos, dos quais 25 são mulheres com cancro do colo do útero e da mama.

Mensalmente e, antes da COVI-19, eram operadas, na maior unidade hospitalar do país, oito a dez mulheres com cancro da mama, provenientes de todo o país. A maior parte das doentes chega com o tumor num estágio avançado e lhes é retirado o seio afectado.

A prevenção tem sido, até ao momento, a melhor arma para o combate desta doença, que segundo dados da Organização Mundial da Saúde, 80 por cento dos casos diagnosticados precocemente podem ser curados. Para já, recomenda-se que a partir dos 40 anos de idade, sejam feitos exames de rastreio da doença, e uma mudança de estilo de vida, tais como: cuidados com a alimentação, bem como a prática regular de exercícios físicos.

 

COVID-19 E CANCRO

No actual contexto da pandemia da COVID-19, no HCM há situações de descontinuidade dos serviços de saúde com impacto nos serviços de rastreio, diagnóstico e cuidados ao cancro. O OCS constatou que há muitos pacientes na lista de espera para diagnosticar se têm ou não cancro, sobretudo mulheres que dizem ter feito uma avaliação caseira e notado que têm um caroço ou um nódulo na mama.

O OCS considera preocupante a redução de serviços de diagnóstico de cancro por causa da COVID-19, pois está-se perante uma doença que quanto mais tarde é descoberta, menores são as hipóteses de se salvar a vida.

No entanto, a nossa tentativa de entrar em contacto com os serviços de Oncologia do HCM fracassou. Aliás, o encerramento de portas – como forma de refutar a prestação de declarações sobre os problemas que assolam os utentes do maior hospital do país – tem caracterizado a actual direcção.

O Observatório do Cidadão para Saúde (OCS) manifesta a sua preocupação para com as denúncias feitas pelos pacientes que frequentam os serviços de oncologia do HCM.

É inconcebível que os exames dos portadores de cancro deem negativo. A Inspecção do Ministério da Saúde (MISAU) é chamada a fazer o seu trabalho com independência e deontologia profissional, de modo a identificar as falhas e induzir mudanças, sem entrar no proteccionismo da classe (médica).

Constitui um atentado aos Direitos Humanos e uma grave violação da Carta dos Direitos e Deveres do Doentes (CDDD) a morosidade no atendimento, que chega a durar meses, ao passo que os pacientes com sintomas de cancro esperam incansavelmente. Ter cancro não pode continuar a significar uma sentença de morte em Moçambique.

Como forma de tratar os doentes de cancro, cuja capacidade Moçambique ainda não tem, o Governo deve adoptar uma política de apoio às famílias desfavorecidas para que os membros também gozem do direito à vida. O Estado não pode deixar os seus cidadãos morrerem por uma doença que, em lugares muito bem identificados, podem ser tratados com sucesso.

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