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Mais de 2.500 famílias moçambicanas refugiadas no Malawi vivem drama humanitário

Foto: O País

O número de quantos moçambicanos estão naquele país não é preciso, mas estima-se perto de 2.500 famílias neste momento. Em Bangula, onde está localizado o maior centro de refugiados com cerca de 850 famílias, há registo de 146 casos de desnutrição em crianças que estiveram internadas, além da malária e tosse.

A última vez em que as cerca de 2.500 famílias receberam apoio alimentar por parte do Governo malawiano foi a 15 de Março corrente. A fome é severa nas famílias localizadas em todos os nove centros de acolhimento de refugiados estabelecidos no mês de Janeiro, aquando da ocorrência da depressão tropical Ana que assolou e arrasou as famílias moçambicanas e malawianas.

Do lado de Moçambique, os compatriotas provenientes do distrito de Morrumbala perderam quase tudo que tinham. Os campos de produção agrícolas foram completamente perdidos, o que retirou, por completo, o poder de se auto-alimentar. Nesta fase, o Governo malawiano, concretamente do distrito de Nsanje, iniciou o processo de apoio às famílias.

Dado a demanda das inúmeras pessoas, organizações foram activadas para juntos poderem apoiar as famílias, mas foi por pouco tempo. Muito mais tarde, o Governo de Moçambique enviou 43 toneladas de produtos alimentares diversos, incluindo sabão. Só chegou a três dos nove centros disponíveis, ou seja, para a tristeza dos refugiados, o apoio alimentar de Moçambique só foi possível apenas uma vez.

Nos centros visitados pelo jornal “O País” nos últimos quatro dias no Malawi, foi possível constatar as mesmas preocupações no seio das famílias refugiadas, quer em termos de situação da fome quer de doenças. A ocorrência da cólera não foi confirmada em nenhum dos campos de refugiados por onde passamos, apesar de o aglomerado populacional ser propício para a chamada doença de mãos sujas.

Devido à fome, há casos de desnutrição crónica em crianças em todos os nove centros de refugiados, com destaque para Bangula, Pokera, Sanje-sede, Kairedze entre outros.

“A última vez em que recebemos apoio alimentar foi a 15 de Março, quando o Governo de Moçambique enviou dois camiões com produtos alimentares e sabão. Para sermos mais precisos, o apoio do Governo chegou a 24 de Fevereiro, mas não foi de longe suficiente para pelo menos a metade dos centros. Como vocês podem ver, há pessoas que passam cinco dias sem poder ter pelo menos uma refeição, o que está a provocar desnutrição crónica em crianças, com 146 casos. As mesmas crianças estiveram internadas no hospital e, graças aos médicos malawianos, tiveram alta, mas não estão completamente livres do problema, porque não temos alimentos”, disse Micheque Lampião, um líder comunitário proveniente de Chilomo, distrito de Morrumbala, e está no campo de refugiado de Bangula junto à comunidade do seu povoado.

Para as pessoas poderem alimentar-se, desenvolvem trabalhos nas casas e machambas dos malawianos ou procuram lenha nas matas para vender nas comunidades. É uma situação dura, cada dia é uma incerteza. Quando amanhece, não sabem o que vão comer. A única certeza que têm é recorrer às matas para procurar folhas nativas.

Tudo o que as famílias refugiadas construíram ficou em Moçambique, onde até tinham campos de produção agrícola. No Malawi, onde estão hoje, não têm sementes, enxadas, nem outros materiais necessários para agricultura em caso de retoma ao país.

“A segunda época agrícola vai iniciar, nós não temos nada para retomar a produção de comida. Não estamos a dizer que queremos viver de mão estendida para sempre, queremos produzir comida assim que voltarmos a Moçambique”, disse Isabel Motocala, uma das mulheres activas no centro de Kairedze.

Do centro de refugiados de Bangula para a localidade Chilomo no distrito de Morrrumbala, a população percorre, em média, 15 quilómetros e atravessam de canoas os rios Chire e Rúo.

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