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Má gestão de água compromete produção de cereais em Chókwè

Foto: O País

Produtores do Regadio de Chókwè poderiam produzir 140 mil toneladas de arroz, mas só fazem 15 mil, porque há problemas na gestão de águas para irrigação das culturas. A empresa Hidráulica de Chókwè não está a fazer o seu trabalho supostamente por falta de dinheiro e o IGEPE diz que o problema será resolvido ainda este mês.

Já foi considerado celeiro do país, mas há muito que deixou de o ser e, a cada ano, os produtores relatam novos problemas, sem que os antigos tenham sido resolvidos. Ano passado, o problema de comercialização de arroz não foi resolvido. Este ano, é a gestão de água, que não está em falta, só é mal gerida pela Hidráulica de Chókwè.

O que antes era o canal de circulação de água, hoje, transformou-se em verdadeiras florestas. E por quê? Sucede que a HICEP não faz a limpeza há alguns anos por, supostamente, não ter dinheiro para fazer o trabalho.

Neste momento, os produtores de Chókwè poderiam estar a produzir em mais de 20 mil hectares, mas, porque a água não circula devidamente, há mais de 15 mil hectares que não estão a ser utilizados.

Em termos de produção, “devíamos estar a produzir 140 mil toneladas de arroz, mas, agora, estamos em cerca de 15 mil, porque só usamos três dos 20 mil hectares que temos aqui. A mesma área poderíamos usar, já na segunda época, para produzir milho. Faríamos cerca de 70 mil toneladas, mas estamos a fazer sete toneladas”, explicou Daniel Dimas, presidente da Associação dos Produtores do Baixo Limpopo.

Dimas toma as dores dos associados em geral, mas sente na pele a dor das perdas de investimento por falta de uma parte da cadeia. Os privados fazem o investimento e o Estado não desempenha o seu papel, através da empresa responsável por todo o regadio.

Daniel fez a lavoura de um campo de mais de 10 hectares esperando semear feijão, mas a água nunca chegou e o capim voltou a germinar no seu campo. “Devíamos ter semeado feijão em Março, mas, até agora, fizemos isso porque não temos água”.

Não é o único. Outro agricultor fez a lavoura de um campo de 16 hectares, onde esperava produzir a cultura de repolho. O sonho de ver crescer repolho na sua machamba ficou imerso na desilusão de ver os seus 76 mil Meticais investidos na lavoura transformados em prejuízo.

Mas, as situações não são iguais. Jaime Matavel, por exemplo, é um jovem agricultor que ainda sonha em transformar-se numa referência no mercado nacional. Fora falta de dinheiro para investir, um dos maiores impasses que encontra para realizar o seu sonho é a falta de apoio por parte do Estado.

Jaime tem uma área total de 2.5 hectares, mas agora está a explorar apenas um hectare. Por quê? A razão é que, depois da chuva, os seus campos ficaram alagados e as águas não têm para onde ir, senão ficar lá mesmo. Isto porque as valas que deviam escoar as águas estão cheias de floresta.

“Estou a produzir num hectare apenas, porque os outros estão alagados e isso me tira forças e, quando chega a época da taxa de água, temos de pagar”, desabafou o jovem que saía da machamba com a sua filha a bordo da garoupa da bicicleta.

O caso de Jaime Matável é diferente dos outros, por isso não explora todas as terras que tem.

A raiz do problema está mesmo na relação com a empresa que devia ser responsável por este trabalho todo. Em norma, os agricultores têm um período específico para fazer o pagamento do que chamam taxa de água. No entanto, agora tiveram de contribuir para pagar pelos custos ligados à máquina que faz esse trabalho.

Na verdade, a máquina está, neste momento, a trabalhar, porque os agricultores juntaram dinheiro e investiram na empresa pública que devia fazer isso por si só. “Fizemos um acordo com a empresa que presta os serviços. Pagámos pelo combustível e óleo e já está a trabalhar”, explicou Dimas.

A empresa em causa é a Hidráulica de Chókwè – Empresa Pública, gerida pelo Instituto de Gestão de Empresas Participadas pelo Estado (IGEPE). Em contacto telefónico com o jornal “O País”, o administrador, Raimundo Matule, disse conhecer o problema, mas começou por atirar a culpa ao tesouro. “Uma das dificuldades é que só agora é que se começou a executar o orçamento, as transferências, da parte do Estado, ainda não foram feitas na totalidade… São problemas conjunturais”.

Em todo o caso, o IGEPE promete que a solução está para breve. “Pela informação que eu tenho é mesmo neste mês de Abril… lá para o início de Maio”. São fundos que passarão pelo IGEPE, vindo do Fundo Nacional de Desenvolvimento Sustentável, tutelado pelo Ministério da Agricultura e Desenvolvimento Rural, cujo ministro é Celso Correia.

O Governo foi confrontado com esta situação recentemente. Correia disse conhecer o problema, mas explicou que não é só de Chókwè e que a solução devia ser para abranger muitos campos de produção ao longo de todo o país.

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