O País – A verdade como notícia

“Leia Dongue pertence a fina flor da Europa e com visibilidade para o mundo inteiro”

Leia Dongue, ou simplesmente Tanucha, conquistou o campeonato da Espanha em basquetebol seniores femininos, há sensivelmente dois dias e o “O País” não quis deixar a oportunidade de conversar com a pessoas que foi o seu pilar para o sucesso que hoje vive, o professor Nasir Salé. Agora treinador do Ferroviário da Beira, Salé considera que Tanucha tem tudo para explodir ainda mais e chegar a campeonatos mais competitivos, como a WNBA. Acompanhe, na íntegra, a entrevista a Nasir Salé.

O País – Sabe-se que o mister Nasir foi a pessoa que lapidou a Leia Dongue. Recentemente sagrou-se campeã pelo Spart Citylift Girona de Espanha. Como é que olha para esta conquista?
Nasir Salé (NS) – Foram muitos anos de orientação, não só como atleta, mas também preparando-a para outro tipo de responsabilidades na vida quotidiana. Somente tinha 15 anos, e com belíssima ajuda dos treinadores de formação do Grupo Desportivo Maputo, conseguimos trazer para os olhos do mundo aquela que hoje é, sem dúvidas, a nossa representante, como atleta profissional. Mas, não é menos verdade, se disser, que estes feitos, regados de muitos trofeus, conquistas e até destaque no mundo fora, tem há ver com o que a Leia Tánia do Bastião Dongue, sempre foi. Excelente atleta, muito dedicada, não tem e nunca teve mãos a medir quando se tratava de trabalho. Ela vive de trabalho árduo, e tudo que a nossa Tanucha conquistou hoje é fruto do trabalho que ela desenvolveu. Ainda me lembro que era a primeira a chegar e a última a sair. Sempre preocupada em melhorar muitos aspectos técnicos. Hoje, pelo contacto sistemático que tenho com a ela, sinto a mesma dedicação que sempre teve. Ela para além do trabalho de equipa vive todos os dias do seu workout. Será sempre um exemplo a seguir para todos que queiram atingir este tipo de performances.

O País – No seu ponto de vista o que terá pesado para a Leia se destacar no campeonato espanhol e conquistar o título?
NS – A Leia, como todos nós sabemos, transferiu se de África para Europa. Tarefa pouco fácil, pois, os índices e volumes na Europa, e principalmente nas equipas de top, são de grande relevância. Os processos tácticos, horas elevadas de treinamento, os volumes de viagens, etc. Mas, a Leia Dongue, sempre teve em si, um espirito ganhador e bastante vencedor! Não gosta de perder, apesar de saber perder. A sua dedicação e vontade de aprender fez com que a sua integração fosse visível. Como disse antes, o seu chegar cedo e sair bastante tarde do treino, faz dela, uma atleta com rigor.

O País – Mister acha que a Leia Dongue deve continuar na Europa ou ainda tem qualidades para evoluir numa Liga norte-americana?
NS – Neste momento Leia Dongue pertence a fina flor da Europa e com visibilidade para o mundo inteiro. Ela é profissional e se tiver que lhe dar mais algum conselho, será mesmo olhando para a sua valorização. Europa esta valorizada. Leia Dongue é neste momento uma das  jogadoras Africanas, a ser campeã na Europa. Algumas jogadoras que militam em várias selecções em África, não jogam com o passaporte africano, mas sim americano.
A liga norte americana é, de facto, a mais valorizada e até excitante, no ponto de vista de astúcia. Mas, acredito que possa ter essa oportunidade. Caberá a ela tomar a decisão certa no momento certo. Devemos, também, lembrar que o desenvolvimento do desporto nos EUA vem de um processo constituído a vários anos, sendo ele desenvolvido nas escolas, até as duas ligas mais conceituadas: a NBA e WNBA. O que significa que até a data, as escolhas provém das universidades. Mas, na vida, nada é impossível…

O País – Olhando para aquilo que tem sido a prestação da Leia pelo mundo fora, ela se torna uma mais valia para o país em competições africanas?
NS – Sem dúvidas, sempre foi e será por mais anos enquanto jogar!

O País – Sendo a pessoa que está directamente ligada ao secesso da Leia, que significado tem para mister Nasir¬ esta conquista?
NS – Muito Feliz. Felizmente sempre tive um carinho muito especial pela Tanucha. Ela sempre me considerou de pai e eu de filha. Estou  muito orgulhoso pelo contributo que dei. Tenho acompanhado a sua carreira quase todos os dias. Mas, repito, isto é fruto da sua dedicação, vontade, crença, perseverança e muita atitude. Por essa razão estamos perante uma grande campeã, autêntica Samurai.

O País – Acha que o país tem condições de formar mais atletas como leia Dongue no futuro?
NS – É urgente investirmos na formação de treinadores e de atletas. Olharmos com urgência para construção e melhoramento de infraestruturas. Falar de massificação é falar de formação e consequentemente a alta competição. O investimento nos escalões de formação deverá ser com muito prazer!

O País – Em termos de treinamento, olhando para a sua experiência, o que falta para Moçambique ter mais atletas do nível da Leia, ou muito acima dela?
NS – É preciso falarmos a mesma linguagem. Para isso devemos olhar para a complexidade nas escolhas de talentos. Os investimentos nos escalões de formação deverão ser focados na melhoria do desenvolvimento dos atletas. A força de vontade e as oportunidades deverão crescer e seguir em frente como duas aspirais. Mas, como me referi antes, Tanucha poderá ser um exemplo a seguir, mas dependerá do empenho que cada atleta poderá ter. Pois, os incentivos também contam e será sempre benéfico.

O País – Alguma coisa que queira acrescentar sobre esta atleta que não tenhamos tratado durante a nossa conversa no que diz respeito a prestação da Leia Dongue no campeonato Espanhol?
NS – Muito poderia dizer, pois, falar de Tanucha, ocuparia quase muitas páginas do vosso jornal. A sua perspectiva, na Europa, iniciou-se em Budapeste, e acredito que o impacto que ela teve naquela cidade e no seu primeiro clube na Europa, foi fundamental. Na Espanha só e só podia vencer! Desejar a Tanucha tudo de bom aos milhões. Sucessos infinitos.

 

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