O País – A verdade como notícia

José Craveirinha, a luz multiplicada

Em resumo:

Já reparaste no século?

Quando te viu passar

tirou o chapéu.

Carlos Cardoso, Fevereiro, 1984 In Directo ao Assunto

Aqui estou perante o desafio de evocar as maíusculcas que inscrevem um dos maiores vultos da nossa jovem nação literária, ou porque não o maior vulto das letras desta imensa varanda à beira do índico, o Poeta José Craveirinha.

Há quinze anos as ondas sonoras da Antena Nacional da Rádio Moçambique anunciaram a morte do Poeta. Já não me lembro se foi Emílio Manhique, ou Hélder Izidine quem leu o noticiário matinal, com aquela odiosa notícia de 6 de fevereiro. O Poeta libertou-se da lei da morte, justamente três dias após a passagem data dos heróis. E ergueu o seu olhar, passando a contemplar-nos a partir da dimensão que só a eternidade permite. Quis registar algumas notas, a caneta e o papel conspiraram contra mim. Debalde.

Salvo bastas repetições da praxe cumpre-nos elevar bem alto a obra e todo legado deste Poeta. Quem nos sugere um plano curricular da formação de professores que dedique mais atenção à leitura como disciplina. Estando ainda em formação o candidato a professor quiçá terá maior profundidade para lidar com leitura, estimulando e potenciando as suas qualidades na sala de aula. Quem fala do estímulo à leitura na formação lança um prolongado olhar ao futuro e aos desafios diários que o professor enfrenta e não são poucos. A escrita terá nesta acção um aliado, multiplicando-se, de certo o Sia Vuma, há muito vaticinado pelo nosso infalível Poeta. Talvez por este caminho possamos desaguar no rio de um plano de leitura, e no farol das tentações que o ofício da escrita. Que será dos poetas e escritores quando os leitores escaresseiam?

Que será do doce olhar azul, oh Carol se nos falta prática da selfie com as palavras plasmadas no papel?

Poeta, a luz que se multiplica sem receio já há cinco anos repetiu o Camões para Moçambique. E corremos o risco saudável de repetir nos próximos anos porque temos Ungulani, João Paulo, Patraquim, White, Chiziane e uma nova vaga de escritores que em nada deixam a dever à criação literária. Os nomes o tempo, esse grande mestre tratará de os revelar, sem pressa.

Ainda ontem a Matola rejubilava em festa. Por ali o parque municipal leva o pomposo nome: Paque dos Poetas. E se convocassem artistas a erguer estátuas do trio José Craveirinha, Noémia de Sousa, Rui Knopfli naquele parque? E temos nós mais poetas que podem emprestar àquele lugar um selo de qualidade cultural digna dos grandes centros urbanos como pretende ser a minha cidade. É só ler as maiúsculas que a memória regista nas badanas do nosso jovem sistema literário.

Não resisto à tentação de registar um poema deste vulto em 3D:

MEMÓRIA DOS DOIS

Ambos

Juntos na mesma memória.

Eu

O Zé que não te esquece.

Tu

A Maria sempre lembrada.

In Maria,  (1988:55)

O Camarada Control que não nos deixe passar de Moçambique para dentro de Moçambique sem prestarmos a devida vénia à obra de José Craveirinha. Mesmo no My Love podemos acenar ao Poeta da Mafala lendo-os em voz alta. Ler o verso que mantém viva a obra de José Craveirinha porque ele estará verdadeira vivo e radiante se exercermos a leitura, com a mesma militância das selfies que clandestinamente plantaste aos gritos, como bem fez Luís Carlos Patraquim.

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