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“Houve precipitação em dizer para as pessoas não irem às consultas normais”

Em Grande Entrevista, com respostas sem tabus, o especialista em Saúde Pública e antigo Ministro da Saúde, Hélder Martins, fez a radiografia da situação da COVID-19 em Moçambique. O que de melhor se faz e os aspectos menos positivos nas respostas que o país está a dar para travar esta pandemia. Acompanhe a entrevista na íntegra.

Doutor Hélder Martins, depois um mês e cerca de duas semanas após o país registar o primeiro caso da Covid-19, chegou aos 100 casos positivos desta pandemia e um pouco mais de três dezenas de recuperados. A doença afecta quase metade das províncias de Moçambique. O que é que estes números revelam e principalmente o seu alastramento, o que é que significa ou que leituras se podem fazer do modelo de testagem que o país está a implementar e de rastreio?

Para mim estes números não me surpreendem em absolutamente nada! O que nós assistimos no mundo inteiro é que o número de casos está sempre a aumentar, e no início, o aumento é ligeiro. Mas, depois, a curva começa a subir. O aumento do número de casos é maior. Ontem (terça-feira), e porque os últimos dados que temos disponíveis são os de ontem, era o 52º dia desde que se declarou o primeiro caso, tínhamos 104 casos, para uma população de cerca de 30 milhões de habitantes. Isto dá uma proporção de três casos e meio para um milhão de habitantes. Ora, a média mundial é, neste momento, de 559 casos por um milhão de habitantes, mas se for a ver, alguns países muito afectados, por exemplo, os Estados Unidos da América, têm 4 256 casos por um milhão de habitantes. A Espanha tem 5 765 casos por um milhão de habitantes; O Qatar tem 8 729 casos por um milhão de habitantes, portanto, eu estou a lhe mostrar que aquilo que nós temos, é muitíssimo pouco. Segundo, nós temos, entre nós, uma doença muito benigna. Temos um recorde mundial de percentagem de assintomáticos. Os assintomáticos é um sinal da benignidade da doença. Eu ainda hoje (quarta-feira) de manhã recebi…eu estou a dirigir uma equipa de investigação e tenho pessoas a fazerem pesquisa bibliográfica para mim, quer dizer para o grupo…o resultado de uma pesquisa bibliográfica sobre assintomáticos no mundo. O único estudo em que há uma percentagem elevada de assintomáticos é um estudo da China, em que há 78 por cento de assintomáticos. Em Moçambique nós já chegamos aos 84 por cento de assintomáticos, isto significa que a doença é benigna. Outros factores que nos indicam que a doença é benigna em Moçambique, vocês da televisão mostraram enfermarias que há por todo o país, não só a nível das capitais provinciais, mas também em alguns distritos, que as unidades sanitárias foram preparadas para ter uma área específica para receber os doentes da Covid-19, mas essas enfermarias estão todas vazias, não há nenhuma que está ocupada, todas vazias.

 

Significa que, para o Doutor Hélder Martins, a vigilância epidemiológica no país é forte e está a resultar?

Significa duas coisas: Vigilância muito forte, e podemos explicar isto melhor, mas também que significa que a doença não é muito maligna. Nas redes sociais, vemos por aí, rumores das pessoas que dizem que os dados oficiais não correspondem à realidade. Eu que sou especialista da área digo que isto não tem qualquer forma de cabimento, porque quando há casos, e se esses casos tivessem o mínimo de gravidade, eles apareceriam nas unidades sanitárias. Mas ninguém os viu, nem nas unidades sanitárias públicas do Serviço Nacional de Saúde, nem nos privados. Também há hospitais privados por este país, pelo menos nas capitais provinciais, há unidades sanitárias privadas. Segundo, nós não temos óbitos, por enquanto. Isto tudo são sinais de benignidade da doença.

 

Isso para dizer que considera que podem existir muitos outros casos não registados, mas não são casos graves.

Eu não digo isso. Digo que podiam haver muitos, mas não há. A gente tem que fazer uma análise epidemiológica e não baseada em emoções e em subjectivismos. A nossa taxa de positividade da testagem é de dois por cento. Agora, há mais ou menos 10 dias, o número de testes por dia aumentou exponencialmente. A taxa de positividade baixou. Neste momento a taxa global é de 2,1 por cento, o que significa que nós estamos a testar muito mais do que o que existe, mas só encontramos aqueles. É preciso não ver só a quantidade de testagem, é preciso ver a qualidade da testagem. A nossa testagem está a ser feita baseando-se na vigilância epidemiológica, isto é, está a ser feita baseada em critérios científicos, mesmo quando nós estamos ainda a testar pouco. Testar menos do que estamos a testar agora é esta testagem dirigida e irmos testar lá onde há possibilidade de haver um caso.
Portanto, se eu começar a testar a torta e a direita, não vai valer em nada. A testagem é muito cara. Sua Excelência o Ministro da Saúde já explicou na televisão quanto é que custa. O ministro explicou que um caso negativo corresponde a 11 mil e tal meticais. Por isso, a testagem deve ser dirigida.
Mas nós não estamos numa fase de fazer testagem daquilo que se chama vigilância activa. Já não é só ir lá testar onde a gente acha que aqui deve haver. Nós estamos a ser capazes de detectar, mesmo estes casos que surgiram na Beira e em Inhambane, o que foi uma certa surpresa, mas conseguimos chegar a eles e são casos assintomáticos. Não foi à base de sintomas, mas sim porque fomos testar lá onde devia.

 

Isso para dizer que os números de casos positivos registados no nosso país reflectem a situação actual da Covid-19 em Moçambique…

Sim! Em qualquer país do mundo pode-se sempre admitir que há outros casos, mais que aqueles que não estão registados, isto não é só em Moçambique, é assim em todos os países do mundo. Mas realmente não há muitos casos, e esses que houver são assintomáticos. Aliás, como aqueles que nós estamos a testar, que estamos a identificar, também um grande número de assintomáticos, nós estamos em 84 por cento de assintomáticos, o que é um recorde mundial. Ainda hoje recebi essa pesquisa bibliográfica. Na Europa não chega a 50 por cento, no geral ronda nos 30, 40 por cento. Houve alguns epidemiologistas que estimaram que 50 por cento dos casos seriam assintomáticos, mas não provaram. Aquilo que está provado é muito menos. Agora, há este relatório da China, de 78 por cento. Nós temos 84. Não sei muito bem quanto, mas estamos acima de 80 por cento de assintomáticos. Isso é um sinal de que estamos a chegar lá e que não escapou nada de essencial.

 

A OMS projecta o pico para África para daqui a um mês e uma ou duas semanas. No caso de Moçambique, considerando esta forma eficiente e eficaz que está aqui a argumentar da nossa vigilância epidemiológica. Para quando é que projecta o pico no nosso país e o que tem de ser feito em termos de reforçar de medidas no imediato para retardar esse pico?

Infelizmente a OMS baseia-se em modelos matemáticos que foram desenvolvidos nos países do norte, e que estas instituições do norte tomam conta de África e fazem projecções lá. Todas essas projecções têm se revelado completamente falsas, completamente fora da realidade de modo que eu não sei…há uma última agora feita há dias, pelo Instituto de Higiene e Medicina Tropical de Lisboa, que não é dirigida a África, é dirigida a Moçambique, fez uma coisa…aquilo não tem valor nenhum, porque eu acho que não conhecem toda a realidade.
Isto é assim, o que pode condicionar o desenvolvimento da epidemia? Há três factores ou três grupos de factores.
Primeiro, o estado imunitário da população. Nenhum destes modelos matemáticos teve isso em conta, mas isto é um factor fundamental. Pode não ser um estado imunitário específico em relação à Covid, porque a gente também ainda não conhece a doença, mas que pode ser uma capacidade imunitária geral, aquilo que chamam efeitos não específicos, ou imunidade tardia.
O segundo factor é ecológico, como o clima. A gente tem que ver que há países que neste momento estão no hemisfério Norte, estão no inverno ou passaram todo este período no inverno. É aí onde está a haver muitos casos. Nós estamos no hemisfério Sul. Uma observação rápida que eu faço todos os dias, vou a aqueles sites que dão a situação no mundo, é que os países da zona equatorial, do hemisfério Sul, têm tido muitos menos casos em relação à sua população. Não interessa ver números absolutos, a imprensa internacional vem com notícias sensacionalistas sobre tantos mil casos no Brasil, mas o Brasil tem 200 mil milhões de habitantes, por isso não pode querer que o Brasil tenha igual número que as Seycheles que tem 98 mil habitantes. Portanto, os números absolutos não querem dizer absolutamente nada, o que interessa é em relação a um milhão de habitantes ou em relação a 100 mil habitantes, tanto nos casos como nos óbitos.
O terceiro factor são as medidas que se tomaram. Em relação as medidas que se tomaram, sobretudo nos países do norte, tem havido muita polémica, porque a Suécia tomou muitas medidas diferentes dos outros. Não fechou as escolas, mas criou distanciamento social. Nas escolas eles têm condições. Na Suécia habitualmente só há 18 alunos por uma sala de aula. Então conseguem separar os alunos. Noutros países dizem que não é possível fazer isso.
Mas quando a gente vê bem, todos os países em todo o mundo seguiram aquilo que eu chamo de cardápio da OMS. A OMS definiu tudo à base da ciência. Definiu o leque de medidas preventivas que deviam ser realizadas, e toda a gente seguiu aquilo. Houve uns que deram mais ênfase, há uns que tomaram as medidas obrigatórias, há outros que foram mais para a persuasão. Então, a intensidade com que se aplicaram essas medidas é que varia de um país para o outro.
Mas agora que no norte, a epidemia em alguns países está a acabar, há um site que dá os gráficos, e a gente vê que a epidemia está a acabar na Espanha, Itália, França, na Suiça, na Suécia…

 

Mas na Rússia a tendência é contrária…

Na Rússia ainda não está a acabar, mas a gente vê que nesses países onde a epidemia está a acabar, as coisas não são idênticas. Os países não tomaram as mesmas medidas, ou pelo menos a intensidade das medidas não foi a mesma. A curva da Suécia e a curva dos outros foi igual, o que significa que a epidemia está a acabar e que a gente já sabe como é que subiu, como é que desceu e como atingiu o pico.
A sua pergunta agora era para quando o pico da epidemia em Moçambique. Eu não tenho bola de cristal. Isso eu acho que não há evidências científicas para se poder saber, neste momento, quando é que nós vamos ter o pico. Eu não gostaria de fazer projecções a longo prazo, eu gostaria de pensar até ao fim do mês de Maio o que é que se vai passar, eventualmente, depois começar a pensar o que se vai passar em Junho. Eu penso que é nesta base que nós devemos actuar, a situação, por enquanto, em Moçambique parece-me completamente sob o controlo. Eu penso que disso não há dúvida nenhuma, mas uma solução que não nos crie grandes motivos de preocupação.

 

Quando falava em medidas, há um conjunto de medidas que contam no Decreto Presidencial do estado de emergência, olhando para aquilo que é a atitude da sociedade, hoje em dia, há cada vez mais a tendência das instituições apostarem muito nos túneis de desinfecção como um dos modelos. Ouvimos muito no princípio o uso das máscaras, das viseiras, a lavagem das mãos e agora a moda são os túneis de desinfecção, sem mesmo uma informação prévia para os utentes perceberem a sua eficiência e como usar. Qual é a leitura que faz deste modelo?

Vão me desculpar os telespectadores, mas isto vai soar como uma pedrada no charco. O que nós temos que ter consciência é que aquelas medidas básicas de prevenção é que são fundamentais, nomeadamente, o distanciamento social, o uso do mecanismo de protecção, como a viseira, mas há quem diga que elas podem deixar escapar ou permitir a entrada de alguma coisa através da parte de baixo da boca, contudo, quem quiser um reforço pode associar a viseira ao uso de máscara. Digamos que terá uma protecção ainda maior. Já as máscaras são muito boas, mas têm um problema: É o mau uso, e quando nós assistimos a televisão vemos isso.

Estas são as coisas fundamentais, e sempre há que ter em atenção o seguinte: O vírus não circula sozinho, circula transportado por pessoas, nunca transportados por mercadorias. Ele, nas mercadorias, não dura por muito tempo, e como as mercadorias demoram para chegar ao destino, quando chegam já não há vírus.
Isto é uma ideia muito fundamental porque, por exemplo, nas fronteiras, não há nenhuma razão para haver restrições sob a passagem de mercadorias, seja quais forem. Mas infelizmente há, o que está a prejudicar a economia. Eu estou a fazer esta introdução toda para responder a sua pergunta sobre os túneis.
As pessoas tiveram muito boas intenções. Começaram por fazer fumigações, a questão dos túneis vem depois. Eu próprio, numa intervenção pública que tive há alguns tempos elogiei a iniciativa que começou nos municípios do Chimoio, mas que entretanto, se espalhou por outros sítios, de fazer fumigações, pulverizações de objectos, de veículos, superfícies, de móveis, de corrimões, botões de elevadores e também de espaços públicos e no chão das ruas. Sobre os túneis criou-se uma ideia de que é possível desinfectar pessoas. Ora, isso é uma asneira, não tem qualquer fundamento científico e há evidência científica de que isso é perigoso, por várias razões. Primeiro, aqueles produtos se forem utilizados nas concentrações apropriadas, porque são nocivos à pele, são nocivos às mucosas, são nocivos aos olhos, são nocivos ao nariz e à boca. A gente vê na televisão que se fumiga as mãos das pessoas, isso é um erro grave, as pessoas fizeram isso com base em imitações, não devemos condenar as pessoas que fizeram isso, porque o fizeram com boas intenções. Isso não tem base científica, segundo isso cria uma fraca sensação de segurança. Eu refiro-me à reportagem feita pela Stv, na província de Nampula, há dois ou três dias atrás. Acho que foi na quinta-feira ou sexta-feira da semana passada, se eu não estou em erro, em que há um sujeito que acabou de passar pelo túnel e que fez um discurso sobre as vantagens do túnel. E ele disse que passou pelo túnel e ficou purificado, mas não ficou coisa nenhuma. Não é bom que a roupa tenha contacto com aqueles produtos. A roupa tem de ser lavada com detergente, de preferência com uma temperatura acima de 60 graus ou o mínimo de 60 graus. Portanto, a pulverização da roupa não serve para nada.
Há ainda um outro problema ligado aos túneis. É que ninguém sabe em que concentração aqueles produtos estão a ser utilizados, e se eles estão a ser utilizados em concentrações insuficientes, aquilo não faz nada, mas dão sempre a ideia as pessoas de ficarem purificadas.

 

Doutor Hélder Martins faz parte da Comissão Científica. Já colocou o assunto neste fórum?

Eu vim para aqui como especialista dar a minha opinião, não vou falar nada da Comissão, não sou porta-voz da Comissão, nem pedi autorização à Comissão para vir até cá. Isso, em devido tempo, vai ser conhecido qual é a posição da Comissão.
Eu estou a dar a minha opinião, mas a minha opinião é baseada em questões científicas. O CDC (Centro de Prevenção e Controlo de Doença-em terminologia portuguesa) Atlanta, antes de estar sujeito a influências políticas, em que está neste momento – a administração Trump está a fazer interferências políticas no órgão- mas antes dele estar sob essas influências fez uma declaração clara e evidente do motivo pelo qual não se devia desinfectar pessoas. Devemos desinfectar objectos, e esse esforço que as pessoas fizeram com a melhor das intenções, que continue, mas para desinfectar objectos, veículos, não para desinfectar pessoas. Nos transportes públicos o que se deve fazer, mandar sair as pessoas, desinfectar o veículo e depois as pessoas entram lá dentro, portanto, não se deve desinfectar com as pessoas lá dentro.
O Centro Europeu, também antes de estar sob influência política -porque neste momento todos eles estão sob influência política – declarou o mesmo, na base de evidências científicas. A OMS também declarou o mesmo, na base de evidências científicas, portanto, a evidência científica sobre isto é enorme.
É claro que também apareceu gente a querer vender túneis, é normal, e até acredito que o fizeram com boas intenções.

 

A outra medida é o distanciamento, aliás, uma das medidas pouco implementadas. As crianças deviam ficar em casa, uma vez que houve a suspensão das aulas, mas fazem-se à rua com muita normalidade, tal como os adultos também o fazem. O que explica esta aparente rebeldia?

Eu não diria que é rebeldia, mas de facto isso é uma coisa que nós devíamos pensar muito seriamente, porque as medidas que foram tomadas até agora, na minha opinião, são largamente suficientes. Não é preciso avançar para outras medidas, pelo menos por enquanto. Já expliquei que com a situação epidemiológica que temos, de uma infecção benigna, de uma situação completamente controlada não há nenhuma para se avançar.
Eu já disse em público que sou contra o lockdown, contra o confinamento obrigatório e sempre serei, porque em África não é possível. Os efeitos colaterais que isso teria sobre a economia das famílias seria terrível. As pessoas não iam morrer de COVID-19, iam morrer de fome.
Na situação actual nem se quer há necessidade de equacionar essas coisas. O que nós todos vemos, basta ligar a televisão, é que as medidas estão a ser mal implementadas, e aquilo não é culpa do Governo. Eu acho que o Governo já fez o que tinha de fazer. Eu acho que talvez o que está a falhar é a campanha de comunicação, de fazer passar a mensagem.

 

Mas aí também não está a responsabilidade do Governo em reforçar esta comunicação para a mensagem chegar à população da melhor forma?

Eu tenho falado com amigos, colegas, gente da comunicação social, e de facto é preciso ver o que se pode fazer para melhorar esta comunicação, porque é preciso que a comunicação chegue, não só as pessoas da cidade, mas também do interior.

 

Vimos na cidade de Nampula, numa reportagem exibida aqui na Stv, um parque cheio de crianças, abarrotado de crianças, sem nenhuma observância destas medidas e sob o olhar de todas as autoridades.

Eu acho que podem fechar o parque, mas aquelas crianças irão para outro sítio. Eu acompanhei isto tudo, porque sou um telespectador fiel do telejornal da Stv e vi isso tudo. As máscaras são mal usadas, o que nós assistimos na televisão eu costumo chamar de mal mascarados. É preciso fazer um grande esforço para que as pessoas usem as máscaras convenientemente, porque as máscaras mal usadas são más, são piores.

 

Quais são os maiores erros que a sociedade está a cometer hoje, no uso das máscaras?

Eu até já vi uns com máscaras na testa, com a máscara no queixo é muito comum, outros têm as máscaras na boca, mas não tapam o nariz, pegam constantemente na máscara para tapar o nariz, tocar na máscara com as mãos é a pior coisa que há.

 

Então neste momento mais do que proteger a máscara tornou-se num perigo!

Se for mal usada, pode ser um perigo sim. Uma máscara tem que ser colocada para tapar a boca, o nariz e o queixo e depois não se deve andar a tocar na máscara, nem na cara. Há um estudo que mostra que as pessoas normalmente tocam 32 vezes a cara, por hora. Este é um estudo que foi feito muito antes da Covid-19, como a máscara provoca comichão, as pessoas têm a tendência de tocar mais vezes na cara, então isso é pior. A gente anda a lavar as mão e deve lavar as mãos muitas vezes, faço aqui o apelo para que se lave as mãos e as unhas, a viseira tem outra coisa, as vezes também sinto comichão, com a viseira não me dá jeito de meter os dedos, lembro-me que eu não devo tocar.

 

Voltando para a questão das máscaras em termos de fabrico da própria máscara, hoje há uma tendência de máscaras até para ofertas gratuitas, essas máscaras são oferecidas e as pessoas imediatamente usam, sem se quer perceber se toda a higienização necessária foi feita. Como orientar as pessoas também para a produção correcta e uso correcto para quem adquire na via pública ou recebe como oferta de alguém?

Isso o Ministério da Saúde já tem um manual de como produzir a máscara, mesmo as máscaras caseiras. A gente não vai conseguir importar máscaras fabricadas para toda a população, por isso temos que recorrer às soluções locais. Houve cooperativas que se puderam a fazer máscaras, grupo de pessoas, até são iniciativas de se louvar, e é preciso que estas iniciativas se multipliquem ainda mais. Mas quem tiver máquina de costura que aproveite e faça. Já se explicou que a máscara tem que ter três camadas…

O que significa três camadas? Três camadas são três tecidos?

Uma máscara bem-feita, a camada do meio deve ser um tecido que se chama “não tecido”, não sei por que tem esse nome, não me pergunte a explicação porque eu não sei, só sei que é algo mais puro, que tem a vantagem de absorver, que é para quando o vírus passar ficar por ali e não passar para a terceira camada.
Eu comprei uma na rua, tem três camadas, mas não tem o “não tecido”.

 

Mas protege?

Sempre dá alguma protecção, são há nenhum objecto de protecção que seja 100 por cento eficaz. Eu tenho muito orgulho da viseira, eu acho que ela é muito eficaz, mas também reconheço que não é 100 por cento eficaz.
Mas sabe, nós nunca podemos esperar que tudo funcione a 100 por cento sem nenhuma falha, por isso é que nós temos várias medidas de protecção, começando por lavar as mãos, eu quero insistir aqui, para que se lave as mãos e as unhas. As unhas são fonte de acumulação de vírus e bactérias, por isso é importante ao lavar as mãos meter o sabão nas unhas, as senhoras que têm unhas compridas devem ter muito cuidado com a outra unha ir lá meter o sabão para limpar bem as unhas.
Depois é o distanciamento social, é preciso ver quando vamos para lugares aglomerados, que haja distância entre as pessoas.

 

Doutor Hélder Martins, voltando para a questão das máscaras, nas várias reportagens que temos feito um pouco por todo o país, um dos argumentos que as pessoas usam para não utilizar a máscara é a questão da respiração, dizem que não aguentam respirar com máscara ou é o desconforto. O que dizer, quais são as consequências do uso prolongado das máscaras? Os asmáticos podem ou não usar máscara?

Os asmáticos podem ter problemas, até porque as máscaras se não forem regularmente lavadas acumulam poeiras e estas poeiras podem ser alérgenos para os asmáticos, mas quando as pessoas dizem “eu não aguento com a máscara”, muitas vezes é por falta de paciência, mas uma máscara não deve ser usada por mais de quatro horas seguidas, é por isso que é preciso ter duas ou três máscaras e lavá-las constantemente e de preferência lavá-las a 60 graus, mas quem não tem máquina de lavar para lavar a 60 graus, pode pôr água a ferver, ou então deixa no detergente em pó durante pelo menos meia hora, para o detergente ter tempo de actuar e de penetrar bem no tecido. Então as máscaras tem de ser lavadas, porque se as mesmas estiverem lavadas, não houver poeira nas máscaras, elas são mais suportadas, e outra coisa, é bom passá-las à ferro, porque o calor do ferro ajuda a eliminar alguma bactéria ou algum vírus que lá esteja. Portanto, são esses cuidados que e preciso ter com as máscaras.

 

Em relação aos asmáticos, devem ou não usar máscara?

Se eles usarem as máscaras cirúrgicas, que não têm poeira, não têm nenhum problema, eles não vão passar mal com o uso da máscara. As pessoas usam máscaras sujas, que compraram no mercado, cheias de poeira. Se a pessoa precisa estar num sítio onde vai precisar pôr máscara por cerca de oito horas por dia, pessoas que estão em atendimento ao público e que precisam usar máscara, não podem usar máscara de manhã e continuar com a mesma até ao fim do dia, a cada quatro horas tem de mudar de máscara e se esta ficar húmida deve substituí-la antes das quatro horas. Eu quero fazer um apelo aos telespectadores de que nós devemos implementar bem estas medidas, porque se nós implementarmos bem estas medidas não vai ser necessário equacionar outras medidas mais constringentes.

 

Olhando para as medidas que o país vem tomando, no que diz respeito aos serviços hospitalares houve restrições, ou seja, não se deve ir ao hospital por qualquer doença ou para consultas de rotina, mas para doentes crónicos e em outras situações, também excepcionais. Como garantir que estes serviços essenciais continuem a ser prestados sem colocar em risco a vida de quem os utiliza?

Olha, eu penso que nisso houve excesso de zelo. As unidades sanitárias estão muito bem organizadas e já estão criadas as condições de triagem. Quando alguém sai de lá é triado se pode ser COVID-19 ou não. Se for, vai para um lado, se não, vai para outro. Portanto, as pessoas não podem ter medo de ir às unidades sanitárias, por temer que haja doentes. A área do COVID-19 está vazia, está completamente vazia. Não há nenhuma cama ocupada. O país está a se preparar para, no caso de surgirem doentes, haver um sítio para irem, mas, por enquanto, não estão a ser utilizadas porque não foi preciso. Agora, houve uma certa precipitação, em dizer para as pessoas não irem às consultas normais. Porquê? O pessoal que está formado e treinado para trabalhar nas enfermarias COVID-19 não está a trabalhar porque ali não há trabalho. Só se estivessem entrado de férias. Esse pessoal está a continuar a fazer o trabalho de rotina. Então, não há nenhuma razão. É que andamos a copiar as coisas de fora. Parem de ver televisões estrangeiras. A situação de Portugal e outros países não tem nada a ver com a nossa. Coisas completamente diferentes. Não temos nada que ver aquilo. Portanto, os nossos hospitais não tinham que fazer isso.
Há uma outra coisa que eu quero dizer, esta é que é muito importante. Serviços preventivos, em particular vacinações, vacinações de crianças; consultas de controlo de crescimento das crianças; consultas pré-natais; consultas pós-natais; consultas de planificação familiar; todo este é um pacote preventivo. Por favor, continuem a ir às unidades sanitárias. Não deixem de vacinar as vossas crianças. Não podemos deixar nossas crianças sem ser vacinadas. Não podemos deixar nossas crianças sem controlo do crescimento. Não podemos deixar nossas grávidas sem atenção pré-natal e pós-natal. Portanto, é preciso que estes serviços não sofram qualquer interrupção.
Me dirijo também aos trabalhadores de saúde. Que não interpretem mal; não vejam as televisões exteriores. Deixem lá o que se passa nos outros sítios. Temos que viver a nossa realidade.

 

Acha que o país está a monitorar e a avaliar os efeitos colaterais das medidas que toma? Quais são as medidas que podem causar mais danos que benefícios?

Ouça, isto é assim: Os médicos, todos os médicos, mesmo os clínicos, se forem responsáveis devem sempre pensar nos possíveis efeitos colaterais. Antigamente chamavam-se efeitos secundários, dos medicamentos, em particular. Na prática da medicina, desde os tempos da antiga Grécia, houve sempre o medo pela doença e a tragédia. O que é a doença e a tragédia? É a doença provocada pelo próprio médico. Portanto, quando um médico prescreve um medicamento, e este medicamento tem efeitos adversos, ele está a provocar uma doença. Isto é uma coisa terrível. Mas o médico tem que correr esse risco, porque todos os medicamentos têm algum efeito colateral. Alguns dos medicamentos os efeitos colaterais são muito benignos; facilmente toleráveis e raros. Há outros medicamentos em que os efeitos colaterais são mais frequentes, ou que podem ser mais graves. Então, aí, a ponderação tem que ser maior. Mas, quando nós aplicamos isto à saúde pública, quando houver um médico que está a prescrever um doente, se por acaso errar, é um doente que sofre. Agora, na saúde pública lidamos com populações e não com pessoas isoladas. Quando se comete um erro na saúde pública, é muita gente que sofre. Por isso, é preciso que os especialistas em saúde pública tenham grande cuidado com as medidas que estão a propor.

 

Falava dos efeitos colaterais e não de uma prescrição médica. Mas destas medidas…

Essas medidas de saúde pública podem ter efeitos colaterais que as vezes não são de carácter médico. São de carácter económico, social, etc… Então, quando estamos a propor uma medida, temos que ver se esta medida pode trazer uma inconveniência. Quando dizemos as pessoas para lavarem as mãos, temos que ver se está a trazer inconveniência. E temos que assegurar que, pelo menos a água e o sabão, estejam disponíveis. Quando dizemos as pessoas, usem máscaras, também temos que criar as condições para que as máscaras estejam disponíveis. E quando a gente vê que estão a ser mal usadas, também temos que dizer olha, cuidado, estão a usar mal. A gente viu que alguns países africanos, e não só, quiseram copiar as medidas do norte e impuseram o lockdown, como a África do Sul, como o Quénia e a Índia. E no que resultou? Na Índia o lockdown foi imposto de forma violenta. O primeiro-ministro teve que vir pedir desculpas, tiveram que voltar atrás, porque não há condições. A Índia tem condições muito semelhantes às da África. Há pessoas que, para sobreviver, tem que sair à rua. Tem que fazer o seu comércio informal. Então, não é possível declarar o lockdown em condições destas. Quénia teve dificuldades enormes e África do Sul também, etc. Estão sempre a querer copiar as medidas do norte. Nunca deviam ter copiado as medidas do norte, deviam ter pensado na sua realidade. É isso que eu digo, temos que ver dentro da realidade moçambicana.

 

Mas o que é podemos aprender de outros países?

Devemos sempre aprender o que é bom, ou, do que eles fazem de mal. Mas também devemos aprender dos nossos próprios erros. Em geral, quando aprendemos dos nossos próprios erros, sofremos algumas consequências. Aprender dos erros dos outros, não sofremos tantas consequências. É por isso que eu digo que sempre serei contra o confinamento obrigatório. Isso ninguém vai-me fazer mudar de opinião. Porque a evidência que a gente tem da realidade socioeconómica do nosso país é que não podemos ir para lá.

 

E qual é sua opinião sobre o confinamento a que estão sujeitas as crianças que, por natureza, precisam de socializar-se, ganhar imunidade e, estando confinadas, não se socializam e podem até fragilizar a sua própria imunidade?

Ouça, estou muito preocupado com isso, e neste momento estou a empreender uma reflexão, uma pesquisa bibliográfica, sobre essa matéria. Porque o meu estudo não pode demorar um tempo, em breve temos que ter ideias claras sobre isso. Mas, do momento, ainda não encontrei uma solução para o problema. Só estamos a constatar o problema, que as crianças saíram da escola porque não havia condições de distanciamento social, mas depois, elas estão em casa estão a brincar nos espaços públicos e nas ruas.

 

Algumas estão a brincar, outras estão 100% confinadas…

A gente vê, a televisão mostrou e está a mostrar todos os dias, que há crianças a circular na rua.

 

Quais são os efeitos deste confinamento para as crianças, considerando esta natureza social que têm e que devem desenvolver na sociedade?

Os pais deviam ter este papel de explicar as crianças. O que sucede é que nas nossas condições, no nosso país, há pais que ainda não perceberam e, portanto, eles terão dificuldades em explicar às crianças. E nestas circunstâncias, a escola é um bom instrumento. Mas como agora elas não estão na escola, então perdem essa faculdade. Então, é essa situação complexa. Eu queria lhe dizer que, sobre isso, ainda não tenho evidências científicas para poder ter uma afirmação ou uma posição. Mas é uma situação que estou a estudar. E espero dentro de poucos dias ter alguma evidência com a qual possa vir dar alguma sugestão.

 

E por falar em evidência científica, Madagáscar anunciou um “chá milagroso” que cura e previne a COVID-19. Alguns países da África, como o Senegal e a Guiné-Bissau já importaram esse produto, mesmo com as advertências da OMS, para se garantir que haja a evidência científica. Qual é a sua opinião sobre o “COVID organics” do Madagáscar?

(Risos)… Isso só me dá vontade de rir, porque sou velho e já assisti muitas coisas. Quando foi a pandemia do SIDA, eu estava em Brazzaville a trabalhar para o escritório regional da OMS em África. O presidente Mobuto (Sesse Sekou) do Zaire, também veio com uma poção mágica, e essa tinha uma certificação de um laboratório egípcio. E depois, ele envolveu também o presidente (Hosni) Mubarak do Egipto, etc. É claro que aquilo era tudo uma aldrabice e não resultou em nada. E agora, esta história do Madagáscar, é outra igual. Quer dizer, não tem evidência científica nenhuma. A única coisa que a gente sabe é que aquele produto é feito de uma planta chamada Artemisina, que é um anti-malárico. Talvez o produto tenha algum interesse na malária. Resta saber que quantidade da Artemisina tem lá e se não tem outras coisas que possam ser artificiais. Porque há produtos que, quando são usados industrialmente, as partes tóxicas são eliminadas e só é aproveitado o produto activo.

 

E qual é a sua opinião sobre outros alimentos ou produtos, cujo consumo reforçado podem ajudar na prevenção da COVID-19, tal como a vitamina C e também outras práticas como gargarejar com água e sal e “bafo” do eucalipto, como é vulgarmente conhecido. O que tem a dizer sobre essas soluções locais que podem minimizar, ou não, a COVID-19?

(Risos)… Não, não acredito nisso. O gargarejar com água e sal ou com limão. Também já houve personalidades que vieram recomendar isso. Com certeza não tem nenhuma base científica. Agora, produtos e substâncias que reforçam o sistema imunológico são recomendáveis. Mas isso faz parte de uma alimentação saudável. Não é agora por causa da COVID-19. É uma alimentação saudável que a gente deve ter. Alimentos que sejam ricos em vitamina C, são recomendados. Por exemplo, a exposição ao sol faz com que nossa pele seja capaz de produzir a vitamina D. É recomendável. Eu costumava sempre ir à piscina, por isso estou bronzeado. Mas agora com um mês e tal de confinamento ou dois meses, já estou a perder o bronzeado. Então, eu já estou a fazer meia hora que vou à varanda da minha casa, apanho sol e estou ali, porque isso faz bem à saúde sempre. Não é por causa da COVID-19. Então, essas práticas saudáveis, as pessoas devem fazer. As pessoas que faziam joguinhos e praticavam exercícios devem continuar. Quer dizer, escolher uma hora e fazer. O novo decreto que acaba de sair já libertou que as pessoas podem fazer a actividade física. Era uma coisa que estava a criar um bocado de atrito, mas isso já foi corrigido. Portanto, eu prefiro fazer exercícios no ginásio. A minha idade já não permite andar na rua em passeios e que nem sempre são regulares. Portanto, o confinamento tem esse efeito colateral, de não fazer os exercícios físicos. As práticas de vida saudável são sempre boas em qualquer altura.

 

Em relação a investigação da cura. Aventa-se a hipótese de até finais deste ano ser testada a vacina e comprovada já para o uso. Mas não é tão certo que até finais do ano poderemos ter a vacina aprovada já para o uso.

Não acredito, por várias razões. As pessoas não fazem ideia das fases que são precisas para aprovar uma vacina. E eu, ainda agora, recebi há poucos dias uma lista. Um inventário de todos os estudos que estão a ser feitos. Em relação às vacinas, neste momento, estão a ser testadas sete, em todo mundo. Destas sete vacinas, só uma está na fase 2. O que quer dizer a fase 2? Agora os fabricantes das vacinas fazem sua publicidade. Já vimos nas televisões pessoas a receberem vacinas. Não. Uma vacina, primeiro, tem que ser feita em animais. Depois que terminam os testes em animais, que nos levam a crer que, no animal ela tem eficácia, e que, portanto, talvez seja eficaz nos homens, é preciso uma autorização para iniciar testes em humanos. Aqui começa a fase 1. Portanto, esta é uma fase em que estudam em poucos voluntários, em geral máximo 100, raramente acima de 100. É para haver segurança. Porque os testes em animais nos devem dar segurança. Quer dizer, se aquela vacina não der efeitos secundários, num pequeno grupo de voluntários, vai se testar a segurança. Quando nesse pequeno número não surgem efeitos secundários graves, então é precisa uma autorização das autoridades nacionais reguladoras, para poder passar à fase 2. Só uma vacina passou a fase 2 neste momento. Essa fase 2 vai, de novo ver a segurança, mas vai, acima de tudo ver a eficácia. Aí, já há um número maior de voluntários. As vezes chegam aos 300, 400 e até pode haver 1000 voluntários para a fase 2. Ali é preciso reforçar que num maior número de pessoas, também não pode haver efeitos secundários graves. A parte da segurança e a parte da eficácia. Ver se a vacina, de facto está a produzir anti-corpos. Quanto a essa faz, é precisa uma nova autorização. A fase 3 é a fase dos testes em larga escala. Em que é preciso milhares de pessoas. É aí onde é preciso fazer a chamada “duplo-cedo”, quer dizer, há umas pessoas que recebem a vacina e outras recebem um placebo. E ver a diferença. Normalmente, estas fases todas demoram 10 anos. Agora, em virtude da COVID-19 está a fazer-se tudo para acelerar os passos. Mas, tendo só há pouco tempo uma vacina passada a fase 2, não acredito que até ao fim do ano possa se ter uma vacina. Terminar a fase 2, passar a fase 3 e chegar ao mercado, não acredito. Depois, quando chegar ao mercado, nós vamos ser os últimos a receber a vacina. Os fabricantes, primeiro vão vacinar os países deles. Eu acho que daqui até lá, as medidas de prevenção é que devem nos preocupar.

 

O mundo não será mais o mesmo depois, ou durante a COVID-19, olhando para as medidas que já está a suscitar esta pandemia, quer em termos da dinâmica de aprendizagem com a telescola, a telemedicina e o teletrabalho. Como é que olha para a forma como as instituições ou as empresas devem acelerar o passo perante esta janela que a COVID-19 veio iluminar?

Sabe, eu ainda queria voltar um pouquinho a questão da investigação. Porque há outra investigação que é preciso fazer. E há outra investigação que está ao nosso alcance. E essa nós estamos a fazer. Só queria dizer que eu estou a dirigir uma equipa que está a fazer uma investigação. Por enquanto nós não temos resultados e não vou anunciar nada. Deixe-nos trabalhar que daqui a algum tempo nós teremos os primeiros resultados, nem que sejam preliminares. Nessa altura vamos comunicar. Agora, em relação a última pergunta, sabe, deve ser respondida pelos filósofos. Os filósofos é que gostam de dizer para além da ciência. Eu ainda estou na fase da ciência. Mas começamos a verificar que, de facto, estão a dar-se transformações. Eu vi, há pouco tempo, uma entrevista em uma televisão portuguesa, de um gerente de uma empresa em que já usavam certos trabalhos antes da COVID-19. O que ele dizia é o seguinte: Que eles introduziram teletrabalho. Na empresa deles, acho que é da área da informática, é mais fácil o teletrabalho, mas eles viram que a produtividade dos trabalhadores era maior. Porque eles dão em evolução os trabalhos. Então tem tanto tempo para realizar tarefa. Se ele quiser, de dia, brincar com os filhos e trabalhar de noite, ele faz como quiser. Então, esta liberdade, com responsabilidade, faz com que a criatividade e a produtividade seja maior. Este sujeito era um grande adepto do teletrabalho, já antes da COVID-19. Mas eu quero chamar atenção por um aspecto: Isto também trás riscos. Essa história de se falar da rotatividade etc. Eu estou aí a ver alguns serviços em que a rotatividade é mandar pessoas para às férias. Quer dizer, então elas não estão a fazer trabalho nenhum. Um dia os patrões vão perceber que podem trabalhar com menos pessoas e isso vai originar o desemprego. Tomem cuidado com isso. Há muitos que estão felizes através do teletrabalho. Por exemplo, eu tenho conta num banco. O meu gestor de conta, só neste mês, já entrou duas vezes para o teletrabalho com a tal rotatividade. Nem e-mails recebe em casa. Eu compreendo que o sistema de trabalho das contas do banco não pode levar para casa. Mas um e-mail? Quer dizer, então está em casa a fazer o quê? Não, ele está de férias! Cuidado, pode perder o emprego, porque o patrão pode dizer, afinal não era preciso. Eu queria deixar aqui uma mensagem seguinte: a COVID não deve ser um pretexto para a preguiça e para destruir a economia. Há questões que são fundamentais. O vírus não é transportado por mercadorias. Deixemos as mercadorias circularem. Eu sei que há dificuldades, na fronteira, de materiais de construção, de peças sobressalentes, etc. Bom, também já me disseram que a culpa não é da nossa alfândega, é do lado sul-africano, então que se contactem os sul-africanos para que deixem passar as coisas. Não há justificação para isso. Trabalhar é uma boa razão para sair de casa. Mas se não for isso, fiquem em casa.

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